Pouco mais de três anos separam dois momentos muito semelhantes na Câmara dos Deputados. Em fevereiro de 2021, os deputados federais brasileiros decidiam manter a prisão do então colega Daniel Silveira.
Na quarta-feira (10), a decisão debatida era manter a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão, agora sem partido. As duas votações tiveram o mesmo resultado: manter o acusado preso.
Mas há outro elemento em comum nos dois casos: a decisão da prisão veio da mesma pessoa, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. E foram justamente a ele os recados de protesto endereçados pelos deputados que votaram para derrubar a prisão dos dois deputados.
Silveira foi preso depois de gravar e divulgar um vídeo com críticas aos ministros do Supremo, sugerindo a substituição dos magistrados e inclusive defendendo o Ato Institucional n.º 5 (AI-5), que restringiu liberdades durante a ditadura militar.
Brazão foi preso depois de ser apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como um dos mandantes do assassinato da então vereadora Marielle Franco, do PSOL, em 2018.
Os números mostram uma votação mais branda pró-Brazão, mesmo sendo acusado de cometer um crime mais grave. Daniel Silveira teve contra ele 364 votos, Chiquinho Brazão, 277, a diferença foi de 84 votos para os que defenderam manter a prisão dos dois.
Os votos que poderiam salvar Silveira, que somam tanto quem disse “não” quanto quem se absteve, foram 133, contra 157 a favor de Brazão. A diferença foi de 24 votos.
Para além dos crimes, há outra diferença: a composição do parlamento. Silveira foi julgado pelos deputados federais eleitos em 2018, quando Jair Bolsonaro, hoje no PL, era eleito presidente da República pelo PSL.
Brazão foi posto ao escrutínio dos deputados eleitos em 2022 junto com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).