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Nem o ChatGPT elimina a preguiça e a compra de trabalhos acadêmicos
Longe da ética e da vergonha, povo em Campo Grande pede contato até em rede social e indicação não falta
30/04/2024 10h32
Por: Tribuna Popular Fonte: Campo Grande News
- Produção de trabalhos acadêmicos continua sendo um mercado de compras e vendas. (Foto: Ilustrativa/Aletheya Alves)

Conforme o tempo passa, a internet garante novas formas de facilitar o cotidiano, mas mesmo assim, tem coisa que não desaparece. Com pedido de indicação até em rede social, o povo não abandona a velha compra ilegal de trabalhos acadêmicos nem mesmo com inteligência artificial podendo ajudar. De gente formada em matemática aceitando fazer trabalho de História até cobrança de R$ 800 por artigo científico, tudo isso ainda pode resultar em falsidade ideológica.


Nesta semana, um pedido de indicação no Facebook sobre pessoas que “trabalham com trabalhos acadêmicos” movimentou um grupo na rede social. Sem nem pensar duas vezes, não faltaram indicações de pessoas “confiáveis”.


O assunto não é nem de longe novidade, mas o curioso é pensar sobre como esse tipo de “serviço” continua podendo ser um tiro no pé. Através do WhatsApp, as pessoas indicadas realmente confirmam que produzem os textos e é a partir do tema, modelo e prazo que emitem os valores cobrados.


No caso dos indicados no grupo, não há preconceito com o tema e pessoas formadas em áreas completamente diferentes aceitam o serviço.


Professor do curso de Direito da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Raphael Chaia explica que tomar atalhos é algo que continua sendo perigoso. No caso da compra de trabalhos e do plágio, ambos podem ser enquadrados em quebras da lei.


“É um ponto delicado, mas sim, é possível que haja falsidade ideológica na hipótese da compra de trabalhos porque outra pessoa fez o trabalho e colocou seu nome. [...] Falsidade ideológica é quando você faz constar uma informação sabidamente falsa ou omitir informação que deveria constar em um documento público ou privado”, relata o professor.


No caso de compra de trabalhos, a informação falsa é inserir o nome do aluno sem que ele seja o responsável pela produção. Já o plágio, também super antigo, pode se enquadrar em condutas como a violação de direito autoral.


E, no caso da inteligência artificial, a dica é usá-la como apoio, suporte e auxílio, sem tentar pular o que é necessário fazer: estudar. “No fim, a parte criativa não tem como ser substituída pela inteligência artificial por muitas razões. Por exemplo, vários modelos de IA têm as bases de dados limitadas até 2021 e poucos modelos são conectados à internet, além de não gerar referências”.


O professor cita que mesmo que o aluno consiga as referências (que são obrigatórias em trabalhos acadêmicos), modelos de IA já conseguem identificar textos que são produzidos usando esse tipo de ferramenta.


“O estudante tem que saber que ele precisa realizar o aspecto criativo, podendo ser auxiliado no aspecto formal, na correção do português, na formatação, mas nada substitui seu conhecimento nesse aspecto”, defende Chaia.


Com tudo isso em mente, o professor narra que a prática de comprar trabalhos é, no fim das contas, um tiro no pé. “Acho extremamente perigoso porque quando você faz a compra de um trabalho acadêmico dessa forma, as garantias são zero, assim como seus direitos”.


Ele exemplifica que, por exemplo, que o trabalho pode ser plagiado, feito com geração de inteligência artificial e, consequentemente, sem qualidade. “Depois de você gastar seu dinheiro para comprar um trabalho ruim e ser avaliado negativamente, o que você vai fazer? Vai reclamar para quem? É o barato que sai caro e que, às vezes, nem é barato”, diz.


No fim das contas, a sugestão é guardar o dinheiro, se organizar e garantir que seus trabalhos sejam feitos por você.


“Pense em uma rotina para que consiga de fato produzir. O aluno não tem que fazer um TCC, por exemplo, em um fim de semana só, ele tem tempo. Use sua semana para ler sobre o que pesquisa, faça anotações e, no final de semana, escreva com uma meta. Se você escrever cinco páginas por fim de semana, em três meses terá 60 páginas”, completa o professor.