Os incêndios florestais avançam sem controle pelo Pantanal e quem vive na fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia convive diuturnamente com as chamas. Durante o dia a fumaça branca invade o horizonte de Corumbá, mas na escuridão da noite, o visual que se instala é ainda mais angustiante.
Devido aos incêndios que atingem a região pantaneira, a escuridão que chegava com o pôr do sol deu lugar ao clarão do fogo que queima a vegetação e pode ser visto de longe. Na Avenida Rio Branco, a última antes que se chegue à margem do Rio Paraguai, os ‘clarões’ provocados pelas chamas avançam em direção ao rio e mudam a paisagem da via.
Para quem vive na região, além do fogo e da fumaça, a preocupação é com o surgimento cada vez mais comum de animais silvestres. Encurralados, cutias, jacarés e até onças-pintadas, atravessam a margem em direção à área urbana, aumentando a incidência de resgates na região.
Seja no Cristo Rei, no Porto Geral ou em algum ponto alto da cidade, a noite corumbaense é sinalizada pelos reflexos em tons vermelho e laranja.
Pantanal em chamas
Em Mato Grosso do Sul, os incêndios florestais se espalham sem controle. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que em 20 dias são 1.786 focos de queimadas no Estado. Apenas no dia 19 de junho, foram registrados 250 focos de incêndios.
Os dados do Pantanal são similares. São 1.729 focos de incêndio registrados no bioma em 20 dias de junho, média de 86 focos por dia. O dia 19 de junho foi o mais crítico até agora, com 239 focos em apenas 24 horas.
Corumbá é a cidade do país com mais focos de queimadas. São 1.601 focos em 2024 no município e para se ter ideia da gravidade, a segunda cidade com mais focos de incêndios é Caracaraí, em Roraima, com 886 notificações no ano.
População convive com fumaça dos incêndios
O triste cartão-postal para quem chega à Corumbá é o fumaceiro visto de longe por conta dos grandes incêndios florestais no Pantanal. A grande cortina de fumaça é percebida a cerca de 75 km da zona urbana e fica pior a cada quilômetro mais perto.
Reportagem do Jornal Midiamax percorreu o trecho de 450 km entre Campo Grande e Corumbá na quinta-feira (20), rumo ao Pantanal sul-mato-grossense. Se para quem chega já é difícil, imagina para quem convive diariamente com o fumaceiro, que toma conta da cidade.
Por conta da situação, que coloca em risco a saúde e o bolso, corumbaenses precisam mudar a própria rotina para se adaptar à fumaça. Para Silvéria de Oliveira Alves, de 50 anos, a única maneira é ficar fechada dentro de casa.
O encontro de Silvéria com a equipe de reportagem aconteceu no Porto Geral, nesta tarde. A corumbaense precisou sair de casa por uma necessidade. Mas, para isso, a máscara foi indispensável.
“É horrível pra respirar, pra lavar roupa, pra limpar a casa; pra tudo”, reclama. “Há duas semanas essa fumaça começou a invadir [a cidade] e tomou proporções que saíram do controle”, relata a moradora.
Cemitério de animais
O Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal) contabilizou durante levantamento na manhã desta quinta-feira (20) centenas de animais mortos por conta dos incêndios que assolam o Pantanal, em Corumbá.
Os especialistas percorreram a Estrada Parque Pantanal até o Porto Manga, segundo a Coordenadora Operacional do Gretap, Paula Helena Santa Rita, para cobrir a área afetada pelo fogo e identificar fauna afetada.
Paula relata que na Bahia Seca o fogo cercou o local e aqueceu a água. Com isso, dezenas de peixes foram encontrados mortos boiando. Segundo a coordenadora, em 2020 – ano trágico para o Pantanal – os animais dali passaram pelo mesmo.
“Foi identificado um jacaré adulto que tinha 12 animais próximos; lagartos, anfíbios e serpentes”, relata. Mas o que chamou mais atenção de Paula foi uma família de Emas, que andava pelas cinzas em busca de algum alimento, já que não tinham como fugir para outro lugar.