O primeiro episódio da sexta e última temporada do “Tá no Ar: A TV na TV” parecia morninho, quase sem graça, quando a Vila Militar do Chaves, paródia do seriado mexicano que no Brasil é quase propriedade do SBT, entrou em cena.
Apareceu o dono da Vila. E Chiquinha logo pediu: “Ele não!”.
Marcelo Adnet, que imitou Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, como fez com os demais candidatos, apareceu fardado, em trajes militares, falando como o novo presidente.
O “dono da vila” fala com a língua ligeiramente presa, como Bolsonaro, na mesma entonação do atual chefe da nação. Chama de “VA-GA-BUN-DO” o seu Madruga, quando este informa estar desempregado.
“É isso mesmo daí. Eu sou o novo dono dessa vila, Jair. Depois de anos de incompetência e má administração, eu vim resolver esta ‘cuestão’.”
Chama Chaves de “VA-GA-BUN-DO” ao saber que ele mora num barril.
Chama de “VA-GA-BUN-DO” o professor Girafales, a quem acusa de pregar “ideologia de gêneros” e difundir o “kit gay”.
Diz que Chiquinha pode até chorar, que ele entende, mas acusa Chaves de ter “dado uma fraquejada”.
Diz que dona Florinda, viúva, lidera uma família desajustada, já que está usando azul e que “tá tudo errado nisso daí”, porque Quico é assim, “efeminado”.
Manda demitir a plateia, que está rindo dele, mas então volta atrás, uma atitude já conhecida em várias ações do atual governo, ao perceber que havia demitido quem poderia demitir a plateia.
Por fim, o “dono da vila” diz que irá até “a vila do Paulo Gustavo pra acaber com aquela ditadura gayzista”
“Aliás, cadê meu motorista, que meu filho me emprestou?”, encerra, em referência a Fabrício Queiroz, que vem sendo questionado pelo Ministério Público sobre depósitos na conta de Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente. “Algum problema na constituição no tocante a isso daí?”, pergunta o personagem de Adnet.
No desfecho, a trilha de Chaves informa que se você não gostou do seriado, ele também poderá “te prender”.
Ao bancar a piada, a Globo demonstra alguma resistência em ceder às ameaças do presidente no que diz respeito a uma mudança de legislação para tentar impedir o BV (Bônus sobre Valor investido por agências de publicidade, o que ajuda a Globo a se manter inabalável sua fatia no mercado publicitário, independentemente da queda de audiência) e de cortar a verba publicitária de órgãos ligados ao governo.
*Telepadi - Folha de São Paulo
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