Deflagrada no dia 15, a segunda fase da Operação Snow, coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), detalhou que quadrilha ligada ao tráfico de drogas contava com uma extensa rede logística de transporte, com caminhões, carros e rastreadores, todos utilizados com o objetivo de levar entorpecentes de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, para outros estados do País, sobretudo São Paulo.
Outra marca característica do grupo, que, segundo a polícia, era encabeçado por Joesley da Rosa, era a de executar os “caguetas”, membros considerados traidores da organização.
Com a quadrilha baseada em Campo Grande, o transporte era, em regra, feito em compartimentos ocultos de caminhões frigoríficos (“mocós”), dada a maior dificuldade de fiscalização policial, já que com a carga ilícita vinham cargas perecíveis.
Cabia à organização criminosa providenciar a inserção da droga em um compartimento previamente preparado para, posteriormente, carregar o veículo com as cargas lícitas que seriam transportadas, após isso, o baú refrigerado era lacrado.
Para mascarar os reais proprietários dos veículos e chamar menos atenção em eventual fiscalização policial, geralmente, a liberação é mais rápida quando o motorista consta como proprietário do veículo, a organização criminosa promovia a transferência de propriedade dos veículos para os motoristas e para as empresas que eram utilizadas no esquema criminoso.
Apontado como o responsável logístico das cargas, Rodrigo de Carvalho Ribas, irmão de Ademar Almeida Ribas (Pitoco), preso durante a primeira fase da Operação Snow, utilizava, segundo o Gaeco, de sua função de coordenador de logística na Transportadora Print Ltda. para providenciar o carregamento de cocaína com carga lícita que seria transportada pela empresa, que prestava serviços para os Correios.
Conforme o inquérito, o cargo de Rodrigo Ribas o colocava em uma posição privilegiada para conhecer e manipular os procedimentos necessários para inserir uma carga de cocaína de forma segura e eficiente no sistema de transporte legítimo da empresa.
Além de ser responsável pela logística do transporte de entorpecentes da organização criminosa, por meio da Transportadora Print Ltda., Rodrigo Ribas responsável por zelar pelo depósito de drogas, denominado pela organização criminosa como “local 1”, localizado na Avenida Gury Marques, no Bairro Universitário, em Campo Grande.
Em abril de 2023, foram apreendidos nesse depósito 839,2 kg de cloridrato de cocaína e 20,8 kg de skunk.
De acordo com o Gaeco, era Oscar José Dos Santos Filho o responsável por bloquear o sinal de rastreadores dos caminhões utilizados para o transporte da droga e por instalar um GPS próprio para que Joesley da Rosa acompanhasse o transporte das cargas.
Cabe destacar que o translado da droga era realizado em caminhões de empresas regularmente constituídas, as quais carregavam a droga em meio a cargas lícitas, com o intuito de burlar a fiscalização.
Além disso, os motoristas contratados eram monitorados pela organização criminosa para que não desviassem da rota do tráfico.
“Oscar José dos Santos Filho não só realizava o bloqueio dos rastreadores instalados nos caminhões das empresas, como também era responsável por instalar um rastreador próprio para que a organização criminosa pudesse acompanhar, sem o conhecimento do motorista, o trajeto do transporte da droga”, consta em trecho da investigação.
EXECUÇÕES
Funcionário da Pax Internacional, em Ponta Porã, Rodrigo Dornelles da Silva foi executado em março de 2023 na cidade fronteiriça por membros da organização criminosa, após Joesley desconfiar que ele estivesse desviando drogas do grupo.
A execução teria sido, segundo o Gaeco, feita por Rodney Gonçalves Medina, em alinhamento com Lucas Ribeiro da Silva (Luquinhas), então responsável por atividades operacionais da organização criminosa, tais como auxiliar no carregamento de drogas, levar caminhões aos depósitos e providenciar os veículos a serem utilizados no transporte de entorpecentes, “bem como participar da captação de motoristas para a empreitada criminosa”.
Em outro momento, os irmãos Valdemar Kerkhoff Júnior e Eder Kerkhoff foram fuzilados na cidade de Ponta Porã. Valdemar Kerkhoff era um dos responsáveis pelo transporte e recebimento de uma grande carga de cocaína em maio de 2023, também na fronteira.
Dias antes de sua morte, Valdemar temia que pudesse estar sendo monitorado pela polícia, visto que, segundo o inquérito, no momento de carregar o caminhão, ele acreditava ter sido flagrado por câmeras de segurança do local em que a carga foi realizada.
Isso porque um policial civil teria questionado Valdemar sobre o fato de o Batalhão de Choque da Polícia Militar ter a imagem de um indivíduo semelhante a ele descarregando entorpecentes de uma viatura.
A morte, segundo o inquérito, foi orquestrada por Joesley da Rosa e Vlandon Xavier Avelino, advogado do líder da organização e integrante do grupo.
SAIBA
Na segunda fase da Operação Snow, foram realizadas 21 prisões preventivas e 32 buscas e apreensões pela 5ª Vara Criminal de Campo Grande.