Policial Transparência
Pivô de investigação sobre venda de sentenças em MS diz que estaria sendo forçado por delação
Andreson de Oliveira Gonçalves compara transferência de presídio com 'métodos da Lava Jato'
14/03/2025 08h17
Por: Tribuna Popular Fonte: Midiamax
Andreson de Oliveira Gonçalves (Reprodução, Redes sociais)

Suspeito de ser o principal operador de venda de sentenças em tribunais como MS, MT e STJ, o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves afirma ter perdido 10 kg desde que foi preso, em novembro, e diz que estaria sendo forçado a fazer delação.

Andreson Gonçalves foi preso pela PF (Polícia Federal) no dia 26 de novembro, no MT. Ele é apontado como intermediador de venda de sentenças em diversos tribunais pelo país e é investigado por crimes de organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional.

Ainda, ele teria escrito uma carta ao STF (Supremo Tribunal Federal) falando até em suicídio. O lobista – e empresário – já teve pedidos de liberdade negados.

Com aval da PGR (Procuradoria-Geral da República), o ministro Cristiano Zanin determinou a transferência de Andreson de uma penitenciária de Cuiabá para o presídio federal em Brasília.

No entanto, a defesa insiste na prisão domiciliar. Primeiro, alegou questões de saúde, pelo fato de Andreson ser bariátrico e precisar de cuidados especiais e até mesmo de uma dieta específica. Ao negar o pedido, a Justiça autorizou comida especial ao lobista.

Agora, após a transferência, a defesa de Andreson compara a situação com métodos da Lava Jato e diz que a mudança seria uma forma de ‘tortura’ para tentar obter delação premiada.

Segundo informado por uma fonte, advogados e familiares do lobista estariam preocupados com a integridade de Andreson, já que ele possui informações envolvendo muitas pessoas influentes. Devido a esse temor, ele teria preparado um dossiê, que já estaria com família e advogados como medida de segurança.

Operação que prendeu lobista é desdobramento de ação em MS

A operação Sisamnes é desdobramento da Operação Ultima Ratio, que afastou cinco desembargadores de MS por suspeita de venda de sentenças.

Equipes cumpriram mandados nas casas dos desembargadores do MT, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho. Os dois já estavam afastados desde agosto por decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Foram afastados dos cargos: Sérgio Fernandes Martins – que foi autorizado a voltar às funções desde 10 de dezembro -, além dos desembargadores Vladmir Abreu, Sideni Pimentel, Alexandre Aguiar Bastos e Marcos José de Brito Rodrigues. Além deles, o ministro também determinou afastamento do conselheiro Osmar Jeronymo, do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de MS).

Dessa forma, Andreson é apontado como intermediador de venda de sentenças. Relatório da investigação da PF mostrou laços que o lobista mantinha com o advogado Felix Jayme Nunes da Cunha, também investigado.

Em nota, a PF diz que investiga também “negociações relacionadas ao vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais”.

Conforme as investigações, Andreson tinha acesso privilegiado a decisões antecipadas de ministros do STJ. Assim, vendia sua influência para garantir decisões favoráveis a advogados.

Lobista e ligação suspeita com advogado de Campo Grande

Em uma das conversas interceptadas entre Andreson e Félix, a investigação flagrou suposta negociação de decisão no STJ: “Mais (sic) falo que a pessoa só tinha 290 mil para pagar. Isso aqui é café”.

Dessa forma, a PF conclui que “Salvo melhor juízo, as frases proferidas levam a crer que ANDRESON estaria insinuando que a quantia de R$ 290.000,00 seria considerada irrisória para o pagamento de propina“, segundo trecho do documento.

Despacho assinado pelo ministro do STJ, Francisco Falcão, baseado nas investigações da PF, indica que Felix recebeu, em 2017, R$ 1,1 milhão da empresa Florais Transporte, cujo proprietário é Andreson de Oliveira Gonçalves.