Três dias após o ataque fatal ao caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, a Polícia Militar Ambiental (PMA) capturou a onça-pintada envolvida no caso. O felino, um macho de 94 quilos, foi localizado na madrugada desta quinta-feira (24), nas proximidades da residência onde Jorge vivia, na região do Toro Morto, Pantanal de Aquidauana.
A operação de captura contou com 10 policiais militares e apoio técnico do professor da UFMS, Geanderson Araújo, especialista em captura de grandes mamíferos. Segundo o biólogo, o animal apresentava sinais de magreza acima do normal. “Conseguimos capturá-lo com o apoio da PMA e agora vamos encaminhá-lo para o CRAS, em Campo Grande, para avaliação clínica e comportamental”, explicou Araújo.
Retorno ao local e armadilhas
A onça vinha retornando ao local do ataque mesmo após a morte do caseiro. Diante disso, foram instaladas 10 armadilhas de laço ao redor da propriedade, conforme protocolos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Assim que caiu em uma das armadilhas, o felino foi sedado com dardos tranquilizantes e transferido em segurança por uma viatura do Instituto Reprocon, equipada com jaula apropriada para o transporte.
Na quarta-feira (23), a equipe da PMA já havia encontrado sinais recentes da presença do animal: pegadas e vestígios em uma área onde peixes eram manuseados. A movimentação reforçou a suspeita de que a onça permanecia nas redondezas.
Cevagem pode ter influenciado o comportamento da onça
Durante coletiva de imprensa, o secretário-executivo da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Artur Henrique Leite Falcette, afirmou que há fortes indícios de que o animal estava sendo cevado – ou seja, alimentado propositalmente na região.
“Essa prática é um crime ambiental e pode provocar alterações graves no comportamento de animais silvestres. A onça, ao perder o medo do ser humano, se torna imprevisível e perigosa”, alertou.
Segundo o secretário, após avaliação no CRAS, o animal poderá ser destinado a instituições que mantêm felinos em cativeiro. A possibilidade de reintrodução na natureza é remota, especialmente no mesmo território onde o ataque aconteceu.
“O comportamento natural da onça é fugir do ser humano. O ataque, nesse caso, não parece ter sido motivado por autodefesa, mas sim por um comportamento alterado”, pontuou.
O ataque
Jorge Ávalo foi morto na madrugada da segunda-feira (21). Ele foi surpreendido enquanto dormia e arrastado para dentro da mata. Os restos mortais só foram encontrados no dia seguinte. Durante o resgate, a onça voltou a atacar, ferindo um dos homens envolvidos nas buscas antes de fugir.
O corpo de Jorge foi sepultado na quarta-feira (23), em Aquidauana, sem velório, devido ao estado avançado de decomposição e às condições do ataque.