Comprar os alimentos essenciais para sobreviver tem se tornado cada vez mais difícil para os moradores de Campo Grande. A capital sul-mato-grossense registra a 5ª cesta básica mais cara do país, com valor superior a R$ 780, segundo levantamento recente. Mesmo com quedas pontuais em alguns produtos, o custo segue elevado e distante da realidade de boa parte da população.
Alimentos considerados básicos, como arroz, feijão, óleo, café e carnes, acumulam aumentos expressivos, comprometendo diretamente a alimentação das famílias — especialmente as mais vulneráveis. O resultado é a ampliação da insegurança alimentar, condição em que pessoas não sabem quando farão a próxima refeição ou são obrigadas a reduzir a quantidade e qualidade do que consomem.
Mais de 150 mil famílias vivem em insegurança alimentar no MS
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam um cenário preocupante em Mato Grosso do Sul. Cerca de 157 mil famílias vivem em situação de insegurança alimentar leve — quando há necessidade de mudar a qualidade dos alimentos, mas não a quantidade.
Na insegurança alimentar moderada, já há redução efetiva das refeições. Essa é a realidade de aproximadamente 42 mil lares sul-mato-grossenses, o equivalente a 4,1% da população do estado. A situação mais grave atinge 2,7% das residências: são 27 mil casas onde há privação total de alimentos, inclusive para crianças.
Orçamento apertado e novas estratégias de consumo
Com o salário mínimo cada vez mais distante dos custos reais, o consumidor precisou se adaptar. A tradicional compra do mês deu lugar a compras menores e mais pontuais, muitas vezes focadas apenas no essencial e no que cabe no bolso.
“Eu compro um pouquinho de cada coisa, mas a carne é o mais difícil, está muito cara”, relata a aposentada Tereza Sales. Ela vive com o marido e uma neta, e precisou substituir parte das proteínas por opções mais acessíveis.
Já para famílias que sobrevivem com benefícios sociais, a realidade é ainda mais dura. Uma mãe solo, que prefere não se identificar, conta que vive com o auxílio do governo e faz diárias para completar a renda. “Compro o que dá, não tem escolha”, diz.
Por que os alimentos estão tão caros?
De acordo com o economista Eduardo Matos, diversos fatores externos influenciam diretamente o preço dos alimentos, sendo o principal deles o clima. Secas e eventos climáticos extremos afetam as safras no Brasil e em outros países, como o Vietnã — um dos maiores produtores de café do mundo. Com a oferta comprometida, os preços disparam.
O mesmo ocorre com os ovos, cujo preço acompanha o custo do milho — base da ração das aves. Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar encarece a importação de insumos e pressiona a inflação.
“A tendência é que os preços continuem elevados, principalmente por conta da instabilidade cambial e da inflação global. Isso impacta diretamente o prato do brasileiro”, explica o economista.