Em uma das maiores ofensivas desde o início da guerra, a Ucrânia realizou neste domingo (1º) um ataque coordenado com drones contra bases aéreas dentro da Rússia, atingindo pelo menos 41 aviões militares russos, incluindo bombardeiros estratégicos usados em operações contra o território ucraniano.
O presidente ucraniano Volodmir Zelenski confirmou a autoria da operação e a classificou como a ação de maior alcance dentro do território russo desde fevereiro de 2022, quando começou o conflito. O ataque teria atingido alvos em cinco regiões da Rússia: Murmansk, Irkutsk, Ivanovo, Riazan e Amur, segundo o Ministério da Defesa russo.
Entre os aviões atingidos estariam modelos A-50, Tu-95 e Tu-22M, aeronaves utilizadas por Moscou para lançar mísseis e realizar missões de reconhecimento aéreo. A operação, batizada de “Teia de Aranha”, teria destruído cerca de 34% da frota russa de porta-mísseis, com prejuízo estimado em US$ 7 bilhões (R$ 40 bilhões), segundo o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).
De acordo com uma fonte militar ouvida pela agência Associated Press sob condição de anonimato, os drones foram introduzidos em território russo dentro de contêineres de madeira, transportados por caminhões infiltrados. Os veículos foram posicionados próximos às bases aéreas e, no momento da ação, os drones foram lançados remotamente. Imagens verificadas pelo jornal The New York Times mostram drones saindo dos contêineres e colunas de fumaça nas bases atacadas, especialmente na de Belaya, em Irkutsk.
Duelo de ataques
No mesmo dia da ofensiva ucraniana, Kiev foi alvo de um ataque considerado o maior bombardeio aéreo noturno russo desde o início do conflito. Segundo a Força Aérea da Ucrânia, a Rússia lançou 472 drones e 7 mísseis, dos quais a maioria foi interceptada. Ainda assim, 18 alvos teriam sido atingidos. Em um dos ataques russos, uma base de treinamento militar foi atingida, deixando ao menos 12 mortos e 60 feridos.
Moscou também acusou a Ucrânia de envolvimento em dois descarrilamentos de trens no território russo, que resultaram na morte de sete pessoas.
Contexto diplomático
A ofensiva com drones ocorre às vésperas de uma nova rodada de negociações de paz, marcada para esta segunda-feira (2), em Istambul, na Turquia. Apesar da exigência de Kiev por um memorando com os termos do cessar-fogo antes de enviar representantes, Zelenski anunciou a participação de uma delegação ucraniana nas conversas.
A proposta de encontro partiu de Moscou, e os chanceleres da Rússia, Serguei Lavrov, e dos Estados Unidos, Marco Rubio, conversaram por telefone sobre os próximos passos diplomáticos.
Repercussão e impacto militar
A base aérea de Olenya, em Murmansk, considerada estratégica por abrigar aeronaves com capacidade nuclear, também foi um dos alvos da operação ucraniana. Já a base de Belaya, em Irkutsk, foi atingida pela primeira vez desde o início do conflito, marcando a chegada efetiva de drones ucranianos à região da Sibéria.
Segundo especialistas, a operação representa um novo patamar de capacidade estratégica da Ucrânia, que conseguiu penetrar profundamente o território inimigo sem mobilizar tropas, utilizando apenas tecnologia e inteligência.
Militares russos e blogueiros pró-Kremlin reconheceram os danos causados, o que pode comprometer, temporariamente, a capacidade aérea de Moscou em novas ofensivas contra a Ucrânia. As imagens compartilhadas nas redes sociais mostram tentativas frustradas de soldados russos de conter os drones já em solo.
Enquanto a guerra se arrasta sem perspectiva clara de desfecho, a operação “Teia de Aranha” sinaliza que a Ucrânia está disposta a levar o combate ao coração da infraestrutura militar russa, ampliando os riscos e a complexidade das negociações por um eventual cessar-fogo.