O Brasil está prestes a testemunhar o que muitos já chamam de “julgamento do século”: a sabatina pública do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de suposta tentativa de golpe de Estado. No centro desse processo, o ministro Alexandre de Moraes – inquisidor e julgador – assume o protagonismo de um espetáculo jurídico que mais parece roteiro de novela do que processo legal.
O encontro entre Bolsonaro e Moraes é, sem dúvidas, um dos momentos mais aguardados da história recente do país. De um lado, o ex-presidente que, mesmo fora do cargo, ainda mobiliza multidões e representa uma parcela expressiva da população. Do outro, um ministro que há tempos abandonou a toga da imparcialidade e veste a armadura do ativismo político. É um embate entre um líder popular e um aparato institucional que parece ter perdido o senso de limite e equilíbrio entre os poderes.
O Supremo Tribunal Federal (STF), que deveria ser o guardião da Constituição, hoje se comporta como um ator político de peso. Não é mais o Judiciário que julga com base em provas, mas sim uma corte que decide com base em narrativas, alinhadas à conveniência do governo de turno. O pré-julgamento de Bolsonaro, já escancarado na linguagem e nas ações dos ministros, é prova de que o Estado de Direito brasileiro está, perigosamente, sendo corroído por dentro.
Não se trata aqui de negar ou ignorar a gravidade de qualquer tentativa de ruptura institucional, se esta de fato tivesse existido. Mas a fantasia montada pelo STF e abraçada pelo Palácio do Planalto é uma construção tão frágil quanto conveniente. O “golpe de Estado” que tentam imputar a Bolsonaro não teve tanques nas ruas, nem ruptura institucional, nem declaração formal, nem qualquer ação concreta típica de insurreições militares. O que houve foi uma reunião fechada, trechos editados de discursos, e uma linha de raciocínio esticada até o ponto de transformar retórica em crime.
A verdade que poucos ousam dizer em voz alta é que Bolsonaro está sendo julgado não por seus atos, mas por sua existência. Por ser a pedra no sapato da elite política e jurídica que hoje domina Brasília. Por representar um projeto de poder que, embora controverso, não se ajoelha aos ditames do sistema que se retroalimenta há décadas.
A eventual prisão de Bolsonaro – que, sim, é uma possibilidade real e calculada nos bastidores da República – não será fruto de justiça, mas de vingança. E isso muda tudo.
O impacto desse julgamento nas eleições de 2026 é inegável. Um Bolsonaro fora do jogo eleitoral é a estratégia mais confortável para garantir o caminho livre à esquerda, especialmente a um projeto de reeleição já desenhado no Planalto. Ao invés de vencer Bolsonaro nas urnas, preferem retirá-lo do tabuleiro no tapetão. E quem perde com isso é o eleitor, é a democracia, é o Brasil.
Esse ativismo togado, que invade competências do Executivo e do Legislativo, precisa ser confrontado com coragem. Juízes não foram eleitos para legislar, muito menos para governar. São técnicos do Direito, não oráculos da moralidade nacional. Mas, no Brasil de hoje, temos ministros que dão entrevistas como candidatos, ditam normas como parlamentares e punem como justiceiros.
O julgamento do ex-presidente, portanto, não é apenas sobre Jair Bolsonaro. É sobre os limites do poder do Judiciário. É sobre o futuro da democracia brasileira. É sobre a liberdade de opinião, de pensamento e de oposição.
Os olhos do Brasil e do mundo estarão voltados para este tribunal. Mas, para quem conhece os bastidores da política brasileira, o desfecho parece já escrito. E não será nas urnas, como manda a democracia, que o próximo grande líder será escolhido — será no gabinete de um ministro que se esqueceu que, acima de qualquer poder, está a soberania do povo.