A denúncia do Ministério Público Estadual contra o ex-vereador de Campo Grande Claudinho Serra (PSDB) pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro traça a evolução do ex-secretário de Fazenda de Sidrolândia frente ao esquema que desviou dezenas de milhões dos cofres do município.
Cláudio Jordão de Almeida Serra Filho assumiu a pasta de Finanças, quando o esquema de corrupção já estava estabelecido. Entretanto, assumiu para si a função de gerir o grupo criminoso, envolvendo a esposa, a médica Mariana Camilo de Almeida Serra, o pai, Claúdio Jordão de Almeida Serra, servidores públicos e empresários.
O desejo “insaciável” de Claudinho em desviar dinheiro público é tanto que a Operação Tromper, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), com apoio do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), está em sua quarta fase. Isso porque a cada nova ofensiva, mais elementos são descobertos sobre o esquema de corrupção.
De acordo com a denúncia apresentada pelos promotores de Justiça Adriano Lobo Viana de Resende, Bianka M. A. Mendes e Humberto Lapa Ferri, a atuação criminosa comandada por Cláudio Serra Filho pode ser didaticamente dividida em três frentes principais.
Na primeira, ao iniciar suas atividades na Prefeitura de Sidrolândia, Claudinho deparou-se com um esquema pré-existente, com participação ativa dos empresários Ueverton da Silva Macedo, Ricardo José Rocamora Alves e outros. Na sequência, ao assumir o controle financeiro do município “potencializou” o grupo criminoso para a prática de fraudes.
Na segunda frente, o ex-vereador de Campo Grande contou com a ajuda do assessor Carmo Name Júnior para utilizar empresas de fachada ligadas diretamente a familiares para fraudar licitações e direcionar contratos, simulando serviços em geral para fins de desviar dinheiro público.
“E na terceira frente, desvelando uma atuação contumaz e insaciável de enriquecimento ilícito, Cláudio Serra Filho, logo ao assumir o controle financeiro do Município via Secretaria Municipal de Fazenda, aportou para o esquema audulento empreiteiros até então desconhecidos no âmbito municipal. Para fins de fraudar novas licitações e contratos administrativos, e obter vantagens indevidas, uniu se a Valdemir Monção (vulgo Nanau), Thiago Rodrigues Alves, Edmilson Rosa, Cleiton Nonato Correia e outros”, relatam os promotores.
O aprofundamento das investigações revelou que a organização era estruturada a partir de uma colaboração estratégica entre dois núcleos centrais: o núcleo político-administrativo, liderado por Claudinho Serra, com o auxílio direto de Marcus Vinicius Rossetini, Tiago Basso e Carmo Name Júnior; e os núcleos empresariais.
Do núcleo empresarial, fazem parte os grupos liderados por Ueverton da Silva Macedo e pelos empreiteiros Cleiton Nonato Correia (GC Obras de Pavimentação Asfáltica), e Edmilson Rosa, vulgo “Rosinha” (AR Pavimentação).
Ainda sobre a atuação “insaciável” de Claudinho Serra no esquema de corrupção, o MPE verificou que ele manteve um padrão de vida incompatível com a ausência de atividade profissional formal, mesmo após a deflagração da Operação Tromper.
“Embora se autodenomine produtor rural, restou evidenciado que os valores por ele supostamente auferidos com a comercialização de gado constituem, na verdade, produto da atividade criminosa, correspondendo a recursos provenientes do desvio de verbas públicas do Município de Sidrolândia”, diz a denúncia.
De acordo com a investigação, o tucano anda em uma Toyota SW4 preta, que oficialmente está registrada em nome de uma empresa. O veículo custa entre R$ 290 mil e R$ 350 mil.
Além disso, o ex-parlamentar e secretário municipal morava em um apartamento de alto padrão onde pagava o aluguel de R$ 11 mil em dinheiro vivo, conforme revelou a proprietária do imóvel ao Ministério Público Estadual.
“Destoando de práticas regulares do mercado de locações, onde normalmente há pagamento via TED ou boleto, se valem do estratagema da utilização de intermediários, como a imobiliária, para evitar transferência bancária direta ou rastreável”, argumentam os promotores.
“Ou seja, a sistemática adotada – notadamente a ausência de transferência bancária, a manipulação de numerário em espécie e o uso de intermediário – dificulta sobremaneira a identificação do efetivo responsável pelo pagamento”, completam.
Claudinho Serra, a esposa, Mariana Camilo de Almeida Serra, o pai, Claúdio Jordão de Almeida Serra, e os donos das construtoras GC Obras e AR Pavimentação, respectivamente, Cleiton Nonato Correia e Edmilson Rosa, viraram réus pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. No total, 14 investigados na 4ª fase da Operação Tromper viraram réus pelos desvios milionários na Prefeitura de Sidrolândia.
Claudinho, Corrêa e o ex-assessor Carmo Name Júnior, estão presos desde a deflagração da operação no dia 5 do mês passado. Esta é a segunda denúncia do Ministério Público Estadual contra o genro da ex-prefeita Vanda Camilo (PP).
A denúncia foi aceita pelo juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia. O magistrado manteve o sigilo externo da ação penal.
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