O Partido dos Trabalhadores decidiu abandonar a base de apoio do governador Eduardo Riedel e entregar, já na próxima segunda-feira, os 25 postos que ocupa na administração estadual, distribuídos entre a Agraer, a Fundação de Cultura e três subsecretarias. A definição será oficializada em reunião do diretório sul-matogrossense, mas o presidente estadual da sigla, Vander Loubet, antecipou que a ruptura se tornou inevitável depois de declarações recentes do chefe do Executivo que, segundo ele, “flertam com o extremismo de direita”, atacam o Supremo Tribunal Federal e exibem “fidelidade cega” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, além de endossar o que chamou de “chantagem retaliatória” de Donald Trump.
Loubet recorda que o PT aderiu ao projeto de Riedel no segundo turno de 2022 por enxergar nele uma “centro-direita sensata e democrática”, mas sustenta que a convivência se tornou insustentável. Ainda assim, faz questão de dizer que o partido sai “pela porta da frente” e levando consigo o legado de ter impulsionado políticas de fomento à agricultura familiar e ampliado investimentos federais em Campo Grande, onde, afirma, “95 % dos recursos aplicados pertencem ao governo Lula”. Para o dirigente, continuar dando sustentação a quem “sabota o próprio país” seria trair a militância e o programa partidário, calcados na defesa da democracia, da soberania nacional e no combate à fome e às desigualdades.
O gesto foi anunciado em plenário pelo deputado Pedro Kemp e tende a mexer na correlação de forças da Assembleia Legislativa. Embora o bloco governista mantenha maioria, a saída petista abre espaço para uma oposição mais vocal em temas sensíveis, como privatizações e políticas ambientais. Procurado, o Palácio Guaicurus não se manifestou até o fechamento desta edição. Vander Loubet, porém, fez questão de frisar que o PT não pretende adotar postura de “terra arrasada”: votará favoravelmente a projetos que julgar positivos para o estado, mas fará oposição dura quando enxergar ataques a direitos sociais ou alinhamento automático a interesses externos.
Com o desembarque, Eduardo Riedel perde não apenas cargos estratégicos, mas também um interlocutor com o governo federal — fator que, na avaliação de analistas políticos, pode complicar a negociação de recursos e projetos estruturantes para Mato Grosso do Sul nos próximos meses.
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