Com o objetivo de entender os desdobramentos das tarifas recentemente impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros de diversos setores produtivos, o Brazil-Florida Business Council (BFBC), localizado em Tampa, organização sem fins lucrativos voltada à promoção de negócios internacionais, promoveu, no dia 1º de agosto, o webinar “Tarifas dos EUA sobre o Brasil: um negociador comercial opina”.
O encontro virtual abordou os impactos da medida nas economias do Brasil e dos Estados Unidos, além de explorar possíveis estratégias diplomáticas e comerciais para mitigar os efeitos da tensão.
A fundadora e presidente do BFBC, Sueli Bonaparte, abriu o evento destacando o peso da relação entre os dois países, reforçando que o Brasil é o principal parceiro comercial da Flórida.
“A Flórida depende do Brasil. Somos o principal parceiro comercial do estado. Muitas empresas americanas estão sendo impactadas, incluindo populações que dependem de nossos produtos”, reforçou Sueli, chamando atenção para o fato de que, apesar de alguns produtos estarem isentos da nova tarifação, itens de grande importância como o café, continuam sendo impactados.
Para aprofundar o debate, foram convidados o economista John Welsh, especialista em economia brasileira, e o veterano negociador comercial internacional, Stephen Lande, que exerceu papel importante na criação do Sistema Generalizado de Preferências (SGP), e que já representou os EUA em tratados como o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte).
Ambos traçaram um panorama das relações comerciais entre Brasil e EUA, suas complexidades geopolíticas e os caminhos possíveis para enfrentar o novo cenário que se apresenta.
Stephen Lande fez duras críticas à postura unilateral dos EUA na imposição de tarifas, especialmente à medida que enfraquece mecanismos multilaterais como a OMC. “O que estamos vendo é um distanciamento perigoso das práticas negociadas.” Segundo Lande, essa é uma situação política e não apenas econômica. Uma situação que afeta o Brasil e desorganiza o comércio global.
Porém, para o especialista, o impacto econômico imediato ao Brasil pode ser mitigado, dado o aumento das exportações brasileiras para a China e União Europeia.
Na sua visão, não há necessidade do país reagir até o prazo final. “Usem a influência política da Flórida, onde o Brasil tem forte presença econômica, para articular soluções. Tornem-se pacificadores”, pontuou Lande, dizendo que o ideal é agir nos bastidores, reforçar os laços comerciais e mostrar que há danos para ambos os lados, especialmente pequenos negócios e comunidades que dependem das exportações brasileiras.
Já John Welsh acredita que a diversificação da pauta exportadora brasileira pode amortecer os efeitos das tarifas, mas alertou para os riscos de retaliações políticas. “A economia americana também está em risco. Tarifas mal calculadas podem levar a uma recessão, como aconteceu com o Ato Smoot-Hawley nos anos 1930”, explicou, complementando que é difícil entender o real objetivo dessas tarifas, que em parte são econômicos, mas com viés claramente político.
Ao final do evento, Sueli reforçou que o Brazil-Flórida Business Council continuará promovendo discussões estratégicas e atuando para informar o setor privado sobre riscos e oportunidades. “Nosso papel é aproximar pessoas, gerar diálogo e buscar soluções construtivas. Os brasileiros são criativos e resilientes. Juntos, vamos superar mais esse desafio”, concluiu.
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