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Opinião: Por que o "Rei do saibro" não pode ser também o melhor de todos os tempos?

10/06/2019 às 15h09
Por: Tribuna Popular
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Só ele ganha aqui. É imbatível e nunca perdeu uma final antes. Quebrou o recorde e se tornou o maior campeão da história do torneio. Ninguém ganha dele. Não aqui, nessas condições, nesse piso.






Seu jogo foi criado perfeitamente para esse tipo de quadra. Ninguém consegue alcançar suas bolas. Efeito jamais visto antes que os adversários sofrem para devolver. Está na discussão de ser o maior de todos os tempos, "mas" nunca será. Só fica na rede. Só sabe jogar nas quadras rápidas. Pode até ser o maior vencedor de títulos de Grand Slams, "mas" ganhou quase tudo no mesmo piso. Só ganhava nas quadras rápidas. Só ganhou uma vez no saibro.





Você já deve ter ouvido esse argumento... ao inverso, não? "Rafael Nadal tem 18 títulos, mas...". Ah, esse perigoso tal de "mas"... O uso dessa conjunção parece suavizar o que vem depois. Mas não devia.








Rafael Nadal cai em quadra após vitória contra Dominic Thiem em Roland Garros — Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach

Rafael Nadal cai em quadra após vitória contra Dominic Thiem em Roland Garros — Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach






Rafael Nadal tem 18 títulos de Grand Slams, sendo 12 em Roland Garros. Um domínio não interfere no outro. Não venho aqui querer ser a sumidade, muito menos querer te convencer de alguma coisa. A pergunta "quem é o melhor de todos os tempos?" é tão subjetiva que pouco importa a resposta. O que acontece com frequência e não devia é diminuir os feitos do Touro Miúra.





"É fácil", dizem. "Não é o verdadeiro tênis". É curioso ver como o estilo físico de Rafael Nadal precisou de tempo para conquistar o fã desse esporte. Um jogo antagônico ao tênis clássico, que tem a representação máxima no rival Roger Federer. O suíço é plástico, virtuoso, nem sua direito. É tão fluído, é tão natural... é o tênis.





Se formos criar esteriótipos, seja para quem for ou em qualquer tipo de quadra, é possível diminuir suas virtudes. "Ah, mas ele só faz saque e voleio. Não corre, parece sem sangue em quadra, pouco vibrante, sem empolgação" ou "É muito defensivo, só joga nos erros do adversário e só é bom por causa do seu biotipo". Viram como é fácil?






Tênis não é só númerologia





É impressionante que, durante uma temporada de tênis, os principais torneios disputados no saibro ocupem cerca de três meses. É quase um terço da temporada, apesar da representatividade nos pontos ser ainda maior.





E Nadal construiu toda uma história ali. Mas, não só ali. Foram 23 títulos fora de seu habitat natural. Conquistou todos os outros Grand Slams. Em Wimbledon, por exemplo, onde os "saibristas" mostram suas fraquezas na grama, foi campeão duas vezes: na primeira, ganhando de Roger Federer na decisão. Depois, superando Andy Murray, o dono da casa, na semi. Para calar os críticos. Como sempre. Mais uma vez.





Aos 33 anos, continua se levando limite. Reinventa-se a cada lesão grave que enfrentou em tantas vezes que nem meus dedos dão conta. Hoje saca melhor, consegue ser mais agressivo. Trocou até de treinador, encerrando uma parceria vitoriosa com seu tio, Toni Nadal. Tudo pela vontade de continuar levantando troféus, se provando a cada dia. Foi - e ainda é - gigante mesmo tendo que dividir as conquistas com dois concorrentes que também se colocam entre os maiores de todos os tempos: Roger Federer e Novak Djokovic.








Rafael Nadal venceu em Wimbledon duas vezes — Foto: Getty Images

Rafael Nadal venceu em Wimbledon duas vezes — Foto: Getty Images






A questão aqui é: números apenas, friamente, não são possíveis para definir quem é o melhor. Isso sempre vai ser e sempre será algo de opinião muito pessoal, até mesmo de gosto. Até o surgimento de Roger Federer, o americano Pete Sampras chegou a ser considerado por muitos o maior de todos os tempos pelo número de títulos em Grand Slams. E não venceu justamente... no saibro! (seu melhor resultado foi a semifinal em Roland Garros em 1996). Sampras sempre reinou em quadras mais rápidas e eram raras as exceções que o descredibilizavam. E vem aí o ponto em que queria chegar: a subestimação do saibro.





Sampras já foi ultrapassado, é verdade, pelos três: Federer, Nadal e Djokovic. Mas, que não esqueçamos do passado para ver como há um menosprezo nos números de Nadal como se fossem "inflacionados" pelo saibro. Já li o termo algumas vezes, aliás. Os números por muito tempo foram argumentos para reforçaram porque o Federer era o maior. "É o recordista em Grand Slam" ou "passou mais semanas como número 1". Hoje, que os números já estão ameaçados, não parecem ter tanta importância. Curioso, não?





Nadal é melhor no saibro. O maior domínio já visto na história do tênis, inclusive acima de Margaret Court. Djokovic domina na na quadra dura. Federer, na grama. Porém, é justamente o espanhol quem mais se sobressai na sua especialidade. Um domínio jamais visto em qualquer superfície. Por que isso seria algo depreciativo e não dignificante?







Rafael Nadal






































Quadra Vitórias Derrotas Aproveitamento
Saibro 424 39 91,6%
Dura 443 130 77,3%
Grama 66 19 77,6%
Carpete 2 6 25%










Roger Federer






































Quadra Vitórias Derrotas Aproveitamento
Saibro 215 67 76,2%
Dura 750 149 83,4%
Grama 174 26 87%
Carpete 50 19 72,5%










Novak Djokovic






































Quadra Vitórias Derrotas Aproveitamento
Saibro 205 54 79,2%
Dura 542 103 84%
Grama 88 18 83%
Carpete 9 4 69%









Por que o preconceito com o saibro?





O tênis se revolucionou nos últimos anos. E o próprio Nadal é, em parte, responsável por isso. Cada vez mais, os jogadores são bem preparados fisicamente, resistem a uma sequência impressionante de jogos atuando num ritmo alucinante. No saibro, o jogo é mais lento, em tese. Ralis longos, poucas subidas à rede, pontos quase intermináveis. E, por isso, há uma visão que o que se joga na terra batida não "tênis raiz".





Ver o que o Nadal fez por 12 (DOZE!) vezes faz parecer ser fácil. Não se engane, isso é uma distorção. Vamos colocar em contexto? O segundo maior campeão na Era Aberta (desde 1968) é o sueco Bjorn Borg. E venceu metade dos títulos de Nadal. Na Era Aberta, só três ele e Nadal tem mais de três títulos em Paris. Mesmo que você pegue os primórdios, quando só franceses podiam jogar, o segundo maior vencedor é Max Decugis, com oito títulos. O domínio de Nadal é algo inédito e de proporções assustadoras.








Nadal e Federer após a semifinal entre eles em Roland Garros — Foto: Clive Brunskill/Getty Images

Nadal e Federer após a semifinal entre eles em Roland Garros — Foto: Clive Brunskill/Getty Images






Vencer sete vezes o Aberto da Austrália é fora de série, como Djokovic fez. Ser campeão em Wimbledon, no templo sagrado, oito vezes, é sobrenatural. Mas, imagine dominar um Grand Slam de tal maneira que você o conquista 12 vezes. Algo que jamais, na Era Aberta ou antes, no feminino ou masculino, jamais um tenista conseguiu. Apenas duas derrotas em 94 jogos atuando em Roland Garros. Diminuir Rafael Nadal simplesmente não faz sentido.






Uma velocidade de pernas que obriga o adversário a matar o ponto quatro vezes. Um velocidade de braço tão surreal quanto para imprimir o top spin jamais visto antes. Ângulos e passadas para desmoralizar até mesmo os melhores sacadores e voleadores no circuito. Nadal não é um tenista "só" do saibro. Mas, no saibro, "só" dá Nadal.


*Globo Esporte





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