O pit bull é uma das raças contemporâneas mais temidas em Mato Grosso do Sul, e não é por menos: em 24h, dois ataques severos vitimaram um cão sem raça definida e um idoso. Com a fama carregada pelo passado — já que foi criado geneticamente para rinhas —, é possível adestrar o animal para uma convivência harmoniosa dentro de casa?
Além do Brasil, a raça possui restrições em cerca de 24 países, como Reino Unido, Espanha, Rússia, Argentina, Itália e Nova Zelândia. Entre os países que regulam a adoção desses cães, estão os Estados Unidos, a Austrália, a Alemanha e o Japão.
O Jornal Midiamax ouviu adestradores especialistas na raça. Para eles, o adestramento e a socialização são fundamentais para o desenvolvimento de cães saudáveis e bem-comportados.
Thiely Zambon é criadora e adestradora, especializada em comportamento animal há mais de 10 anos. Além disso, ela possui um canil a fim de manter a linhagem pura de pit bull. Atualmente, a moradora de Campo Grande tem cinco exemplares: Vancouver, Jadore, Zafyra, Kathana e Troyka, com idades entre dois e sete anos.
Para a profissional do Canil Zamonster, a raça pura não é perigosa e, inclusive, serve como excelente cão de companhia. Contudo, é fundamental que os cães passem por treinamento para garantir um desenvolvimento saudável e equilibrado. Essa etapa acontece desde o nascimento até os quatro meses.
“Adestramento e socialização são fundamentais para o desenvolvimento de cães saudáveis e bem-comportados, principalmente em cães de grande porte. O adestramento é essencial para evitar problemas como fugas, mau comportamento e outros incidentes. É importante que os tutores invistam tempo e esforço em educar seus cães, garantindo, assim, uma convivência harmoniosa e segura”, orienta.
Na maioria dos casos de ataques, o fator predominante é a negligência na guarda por parte dos tutores. Os episódios indicam que os animais fogem de casa e acabam atacando outros cães, idosos e até crianças.
“Considerando a robustez e o alto nível de atividade desses cães, é fundamental que os tutores potenciais avaliem cuidadosamente sua capacidade de atender às necessidades específicas desses animais.”
Isso inclui:
A avaliação prévia é essencial para garantir uma convivência harmoniosa e saudável entre o cão e sua família.
Apesar dos 45 quilos, do olhar imponente e da grande mandíbula, os cães da profissional convivem bem com um gatinho. Assim, a amizade foi possível por meio da tutoria responsável.
“Recentemente, resgatamos uma gatinha de aproximadamente dois meses, a Artemis. Como especialista em comportamento animal e adestradora, eu conduzi a apresentação dos nossos cães à nova integrante da família de forma cuidadosa e controlada.”
“Graças à genética equilibrada e calma dos nossos cães, específicos para companhia, a integração ocorreu de maneira tranquila e harmoniosa. A combinação de conhecimento técnico e experiência permitiu uma transição suave e segura para todos os animais envolvidos.”
Além disso, os cães são doadores de sangue e salvam outros animais. A iniciativa da família começou há seis anos, quando a pit bull de uma amiga precisava de transfusão sanguínea.
“Naquele momento, percebemos o impacto que nossos cães poderiam ter ao doar sangue e salvar outras vidas. Após uma pesquisa cuidadosa, encontramos o local ideal para realizar as doações. Além de salvar vidas, o processo também proporciona aos nossos cães uma oportunidade de realizar check-ups regulares, garantindo sua saúde e bem-estar. É notável como eles se mostram entusiasmados e afetuosos durante as coletas, reforçando a importância desse trabalho.”
Logo, um pit bull não teria adestramento especial ou peculiar. Para Paulo Rodrigues, também especialista em adestramento da raça, o conhecimento do tutor sobre a raça que possui é essencial. O treinamento também é necessário para o tutor entender a maneira adequada de manejar o animal.
“O adestramento é fundamental, ainda quando filhote, para ensinar o certo desde cedo. Quando o cão está mais velho, é mais difícil apagar as memórias de comportamentos indesejados e experiências negativas que ele teve”, afirma Paulo Rodrigues.
O especialista explica, ainda: “Assim, a socialização é o mais importante a ser feito. No caso do pit bull, quando o cão já cresce em meio a outros cães, num convívio harmônico, tornam-se mais difíceis episódios de ataque; salvo por alguma situação específica, por exemplo, do cão se sentir afrontado, onde ele esboça uma reação defensiva”.
O profissional indica também a castração, para amenizar a agressividade, já que a prática reduz a produção de hormônios, principalmente em machos. No entanto, o procedimento não corrige a agressividade por outros motivos, como educação inadequada ou experiências passadas, sendo essencial um treino comportamental para esses casos, feito por um profissional.
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