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Número de empresas inadimplentes é recorde em MS e passa de 108 mil
Estado registrou crescimento de 27% em um ano no total de CNPJs negativados, acima da média nacional
15/09/2025 08h46
Por: Tribuna Popular Fonte: Correio do Estado
O número de inadimplentes continua em crescimento em Mato Grosso do Sul, segundo o Serasa - Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado

O número de empresas inadimplentes em Mato Grosso do Sul atingiu o maior patamar da série histórica divulgada pela Serasa Experian. Em julho, foram 108.667 negócios negativados, o que representa um crescimento de 27% em relação a julho de 2024, quando o Estado contabilizava 85.100 CNPJs inadimplentes. O salto preocupa porque supera a média nacional e consolida uma tendência de alta que vem sendo observada desde 2016.

Ainda conforme os dados da Serasa Experian, em uma década, o número mais que dobrou em MS, saindo de 49.098 empresas com o CNPJ negativo em 2016 para os atuais 108.667. Ou seja, em menos de uma década, mais de 59 mil novos CNPJs entraram para a lista de negativados.

Desde 2016, os números só cresceram, foram 55.742 registros em 2017, no ano seguinte, 62.035, já em 2019 foram 66.473, no primeiro ano da pandemia, em 2020, foram 71.524, passando a 73.016 em 2021, 74.865 em 2022 e 76.219 em 2023. Mesmo nos anos de pandemia, quando o crédito emergencial ajudou a segurar parte da inadimplência, o total não recuou. 

Segundo o levantamento, em Mato Grosso do Sul as empresas inadimplentes acumulam dívida média de R$ 25.962,53 por CNPJ, com cerca de oito contas em atraso. O ticket médio, ou seja, o valor médio por débito, subiu de R$ 2.853,98 em julho de 2024 para R$ 3.225,85 neste ano, um avanço de 13%.

Isso indica que, embora a quantidade de dívidas por empresa tenha se mantido estável, os valores de cada inadimplência ficaram mais altos, pressionando o caixa dos negócios.

A economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, avalia que o ambiente econômico, principalmente os juros elevados, explica o recorde nos registros de inadimplência. 

“As empresas têm contraído dívidas cada vez mais altas, muito por conta do ambiente de juros elevados e a concessão de crédito mais criteriosa, o que deixa o ambiente mais restritivo para renegociações de dívidas e prazos”, afirma Camila, e completa. 

“Observamos que o segundo semestre pode ser ainda mais crítico para os negócios, com as projeções de desaceleração na atividade econômica exercendo uma pressão ainda maior nos ganhos e na margem de lucro, principalmente para aquelas de menor porte”, conclui a economista.

CENÁRIO NACIONAL

O movimento em Mato Grosso do Sul reflete a situação do País. Pelo sétimo mês consecutivo, a inadimplência empresarial quebrou recorde e chegou a oito milhões de CNPJs negativados em julho, segundo a Serasa Experian. 

O total representa um acréscimo de 200 mil empresas em apenas um mês, e de 1,1 milhão na comparação com julho de 2024.
As dívidas das companhias somam agora R$ 193,4 bilhões, com média de 7,3 débitos por CNPJ e valor médio de R$ 24.182,20. O tícket médio também alcançou a maior marca da série: R$ 3.302,30.

Os dados do Indicador de Inadimplência das Empresas apontam que 7,6 milhões do total de 8 milhões de CNPJs negativados pertencem a pequenas e médias empresas (PMEs). Elas respondem por 54 milhões de dívidas, que somam R$ 174,1 bilhões.

Esses números evidenciam a dificuldade do setor que mais gera empregos no País. Sem fôlego para renegociar compromissos e com margens reduzidas, as PMEs acabam sendo as primeiras a interromper pagamentos, afetando toda a cadeia produtiva.

Entre os setores, o de serviços concentra a maior fatia dos CNPJs inadimplentes no Brasil, com 54,1% do total. Comércio (33,7%) e indústria (8%) vêm na sequência. 

No recorte por origem da dívida, serviços também lidera (31,8%), seguido por bancos e cartões (19,8%). O segmento de utilities (6,9%) e telefonia (6,6%) mantiveram participação estável em relação ao ano passado.

Um dado que chama atenção é o avanço das dívidas ligadas a cooperativas, que passaram de 0% em julho de 2024 para 8,4% do total neste ano. Ao mesmo tempo, o grupo outros, que inclui instituições financeiras e organizações do terceiro setor, recuou de 28,9% para 18,4%.

DISTRIBUIÇÃO

Na divisão por regiões, o maior volume de empresas inadimplentes está no Sudeste, onde 4,1 milhões de empresas estão negativadas. Em seguida aparecem a região Sul, com 1,2 milhão, e o Nordeste, com 1,1 milhão. O Centro-Oeste, onde está Mato Grosso do Sul, registrou 776 mil empresas nessa condição, e o Norte soma 502 mil.

O levantamento detalhado por estados mostra São Paulo na liderança absoluta, com 2,7 milhões de empresas inadimplentes, seguido por Minas Gerais (735 mil), Rio de Janeiro (730 mil) e Paraná (505 mil). Mato Grosso do Sul ocupa posição intermediária, mas com um dos maiores crescimentos proporcionais do País, os 27% de alta em um ano superam a expansão nacional de 16%.

A Serasa Experian ainda alerta que o segundo semestre deste ano pode trazer novas pressões sobre a saúde financeira das empresas. Além da projeção de desaceleração da economia, outros fatores como custo da energia, oscilações do dólar e incertezas ligadas ao crédito podem agravar o quadro.

Para Mato Grosso do Sul, o desafio é ainda maior diante da rápida escalada da inadimplência. Em menos de dois anos, o Estado saltou de 74,8 mil empresas negativadas para 108,6 mil, um aumento de 45%.