Estado Logística
Com gás argentino, MS vê chance de reverter queda bilionária na arrecadação
Primeira importação de gás natural de Vaca Muerta pelo Gasbol foi realizada na sexta-feira, conforme informou a Petrobras
07/10/2025 09h21
Por: Tribuna Popular Fonte: Correio do Estado
Fluxo de gás natural vindo da Argentina chegou oficialmente ao Brasil na sexta-feira (3) - Gerson Oliveira

O fluxo de gás natural vindo da Argentina chegou oficialmente ao Brasil na sexta-feira, marcando um novo capítulo na história energética do País e reacendendo a esperança de alívio fiscal em Mato Grosso do Sul.

A Petrobras confirmou a primeira importação do insumo proveniente da formação de Vaca Muerta, uma das maiores reservas de gás não convencional do mundo, localizada na província de Neuquén, e que passa a usar o Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) para cruzar a fronteira.

Para Mato Grosso do Sul, onde o gás natural boliviano é uma das bases da arrecadação estadual, a novidade representa um sopro de otimismo após anos de perdas bilionárias. O fluxo de gás natural vindo da Bolívia, que chegou a ser de 30 milhões de metros cúbicos por dia, atualmente não passa de 12 milhões de m³ por dia.

O governador Eduardo Riedel (PP) explicou ao Correio do Estado que o Estado vive uma das maiores crises de receita da história recente justamente pela redução do volume importado da Bolívia, produto sobre o qual incide integralmente o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

“A crise de receita do Estado está vinculada à diminuição do volume de gás importado da Bolívia. Porque esse ICMS é integral de Mato Grosso do Sul. Nós vamos fechar com R$ 1,2 bilhão de arrecadação a menos pela diminuição do gás”.

O anúncio da Petrobras, feito oficialmente ontem, confirmou o início da importação de gás argentino utilizando a infraestrutura existente do Gasbol.

Segundo a estatal, a operação é “um marco histórico para a integração energética regional” e o gás proveniente de Vaca Muerta será inicialmente usado para complementar o abastecimento interno e garantir estabilidade ao mercado brasileiro.

Conforme nota da estatal, a Petrobras e a Pluspetrol realizaram a primeira importação de volumes de gás natural não convencional de Vaca Muerta na sexta-feira (3), no âmbito do acordo celebrado entre as empresas e suas subsidiárias (Petrobras Operaciones S.A. – Posa e Gas Bridge Comercializadora). “O gás foi transportado, via gasodutos, da Argentina até a Bolívia, e de lá até o Brasil”.

 A publicação da Petrobras ainda informa que foram importados 100 mil m³ de gás natural, com o objetivo testar o arcabouço comercial e operacional.

“Essa primeira operação é um marco relevante para a Petrobras, possibilitada pela integração das infraestruturas e que permite a conexão da produção própria da Petrobras na Argentina, por meio de sua subsidiária Posa, com o mercado nacional. Essa solução logística e comercial abre uma nova possibilidade para importação de gás natural pelo Brasil, refletindo o compromisso da Petrobras com o aumento da oferta e com o desenvolvimento sustentável do mercado de gás natural”, afirmou a diretora de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Angélica Laureano.

ESTRATÉGICO

A entrada desse novo fluxo é estratégica porque ocorre num momento de declínio da produção boliviana e de renegociação dos contratos de fornecimento, que afetam diretamente a receita de Mato Grosso do Sul.

“O impacto é grande porque estamos falando de uma das principais fontes de receita estadual. São recursos que financiam folha de pagamento, investimentos e manutenção da máquina pública. E não há previsão de recuperação pela via boliviana, que está com a produção em colapso”, explicou o governador Eduardo Riedel.

A Bolívia, historicamente principal fornecedora de gás para o Brasil, vem enfrentando uma crise energética e fiscal. Sem novos investimentos em exploração e diante da falta de estabilidade regulatória, o país vizinho reduziu drasticamente a capacidade de exportação.

“Pela Bolívia não tem perspectiva, porque uma prospecção dessa demanda investimento e tempo. Nenhum dos dois aconteceu na Bolívia”.

Conforme o Correio do Estado adiantou na edição de 30 de agosto de 2025, a importação de gás boliviano para MS deve acabar até 2030, com o declínio das reservas e a redução contínua do volume entregue.

Dados da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) indicam que o Gasbol, antes responsável por 100% do gás natural que abastecia o Estado, já vinha operando com cerca de metade da capacidade.

A reversão do fluxo, portanto, surge como uma alternativa à crise. Em julho, a TBG confirmou que o Gasbol passaria a ser usado também para o transporte do gás argentino, ampliando as possibilidades de fornecimento e consolidando a integração energética entre os países.

VACA MUERTA

Vaca Muerta desponta como o novo epicentro energético da América do Sul. Com reservas estimadas em mais de 300 trilhões de pés cúbicos de gás natural, o campo argentino é considerado o segundo maior do mundo em potencial de exploração não convencional.

Nos últimos anos, a Argentina acelerou investimentos em infraestrutura para escoar o produto até a fronteira com o Brasil. O gasoduto Néstor Kirchner, inaugurado em 2023, foi a peça-chave para viabilizar o envio do gás a território brasileiro.

Para Mato Grosso do Sul, que abriga parte do trajeto do Gasbol, a operação abre perspectivas de retomada da arrecadação. “O que esperamos é que essa nova rota traga estabilidade e previsibilidade. Isso significa mais arrecadação, mais investimentos e mais segurança para o futuro fiscal do Estado”, concluiu Riedel.

Em novembro de 2024, o Ministério de Minas e Energia (MME) assinou um memorando de entendimento com a Argentina para estudar formas de viabilizar a exportação.

A curto prazo, estima-se uma capacidade inicial de 2 milhões de m³ por dia, com potencial para atingir 30 milhões de m³ por dia até 2030, volume que é equivalente à capacidade máxima do Gasbol.

O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, destacou em entrevista ao Correio do Estado que MS precisa se antecipar.

“É preciso pensar em alternativas que mantenham Mato Grosso do Sul no mapa da logística do gás, seja como corredor, seja como centro de distribuição”.