Com 44 unidades de saúde em funcionamento com horário estendido, os efeitos do novo serviço para a população de Campo Grande só devem provocar mudanças efetivas no sistema em três meses. Anunciado no primeiro dia útil do ano, em 2 de janeiro, o projeto era previsto para funcionar em todas as 68 unidades até junho, o que não ocorreu.
O principal objetivo da mudança de horário é desafogar as unidades 24 horas. Porém, a expansão do atendimento ainda não surtiu efeito desejado nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e nos Centros Regionais de Saúde (CRSs).
A epidemia de dengue, registrada desde o início do ano na Capital, e o crescimento da quantidade de casos de gripe a partir do mês de maio provocaram aumento entre 30% e 75% no atendimento prestado a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) nas unidades 24 horas. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) revelam que até dezembro de 2018 os atendimentos chegavam a 3,7 mil por dia nas dez unidades que atendem casos de urgência e emergência na cidade.
Porém, a partir de janeiro deste ano, por conta do aumento das notificações de dengue, 6,5 mil pessoas passaram a receber atendimento nas unidades 24 horas. Neste caso, o serviço aumentou 75,7%. A quantidade de pessoas atendidas por dia passou a ser de 4,8 mil, registrando quase 30% de crescimento em relação ao ano passado.
O coordenador de urgência da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Yama Higa, informou que, por conta da situação atípica, a prefeitura ainda não conseguiu mensurar o reflexo do atendimento estendido nas unidades básicas de saúde.
“Não chegou a cair a quantidade de atendimentos nos 24 horas, inclusive, as duas epidemias, de gripe e dengue, se iniciaram no começo de junho, um pouco antes. Geralmente, os atendimentos aumentam durante o período de chuva e depois do frio, com três semanas entre uma e outra, mas este ano foi atípico. Imagino que somente em três meses vamos conseguir avaliar melhor isso”, explicou Higa.
Atualmente, 70% da rede funciona em horário estendido, em três modalidades – das 7h às 19h, das 7h às 17h ou das 6h às 18h. O governo federal homologou 25 unidades para receberem recursos do Ministério da Saúde, as outras 19 funcionam com custeio do município.
A intenção do programa é possibilitar ao paciente a busca por uma unidade de atenção primária, já que 80% dos atendimentos nas unidades de urgência e emergência (UPAs e CRSs) poderiam ser resolvidos na unidade básica, de acordo com a Sesau.
SEM MÉDICOS
Outro ponto preocupante é relativo à falta de médicos. Nesta sexta-feira, a Sesau convocou mais 62 médicos para atuarem na Rede Municipal de Saúde, 12 plantonistas de unidades 24 horas. Somente nos últimos dois anos, a Capital perdeu 528 médicos. Enquanto no fim de 2016 eram 1.628 profissionais vinculados à rede pública, até o dia 3 de abril a quantidade estava em 1,1 mil. A Sesau não divulgou dados atualizados. A alta rotatividade tem sido um dos principais problemas enfrentados pela atual gestão e também por quem depende da rede pública.
“O chamamento fica aberto o ano todo. A fila de consultas de especialistas acaba sendo maior porque as especialidades compartimentam e a tendência é aumentar mesmo. Não tem uma solução razoável, pois o médico é especialista na veia esquerda do coração, então fica difícil conseguir profissionais para todas as áreas”, disse Higa.
O superintendente de Relações Institucionais, Antonio Lastória, explicou que atualmente o principal gargalo é justamente a falta de médicos. “Com certeza, é o principal problema. Existe muito problema para fechar as escalas de plantão por causa da falta de profissionais. A Sesau perdeu muitos médicos, e a maioria dos que fazem plantão é contratada. O ideal seria que fossem concursados”.
*Correio do Estado
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