
O cenário econômico brasileiro tem imposto desafios crescentes às empresas, especialmente no que diz respeito à gestão de fluxo de caixa e à manutenção da saúde financeira. Em março de 2025, a inadimplência corporativa atingiu um novo recorde, com 7,3 milhões de empresas negativadas e dívidas somadas de R$ 169,8 bilhões, segundo levantamento da Serasa Experian divulgado pela CNN Brasil. O setor de Serviços lidera esse índice.
A alta da taxa básica de juros, que chegou a 15% conforme dados do Comitê de Política Monetária (Copom) publicados pelo portal G1, colocou o Brasil como o segundo país com maior juro real do mundo.
De acordo com Pedro Jesus, advogado especialista em reestruturação financeira e empresarial e sócio-fundador da Jesus Barbosa Advogados, esse movimento tem causado um impacto direto sobre o custo do crédito, dificultando o acesso ao capital de giro e comprometendo a liquidez das empresas.
"A alta de juros encarece o capital de giro, compromete margens e reduz liquidez. Setores que dependem de financiamento para manter operações, como varejo, construção civil e indústria, sentem o impacto de forma imediata", avalia.
Segundo o especialista, o aumento da inadimplência também pode estar ligado à elevação dos custos operacionais, à retração do consumo e à dificuldade de acesso ao crédito. "A inflação acumulada pressiona as margens, enquanto a instabilidade econômica reduz a previsibilidade e inibe investimentos. Além disso, muitas empresas ainda enfrentam os reflexos de endividamentos contraídos em períodos de crédito mais acessível, mas com taxas significativamente menores", explica.
Reestruturação financeira
A deterioração do fluxo de caixa tem levado muitas empresas a buscar alternativas jurídicas para evitar o agravamento da situação. O advogado alerta que o momento ideal para iniciar um processo de reestruturação é quando surgem os primeiros sinais de alerta, como queda contínua no faturamento, aumento da inadimplência de clientes ou dificuldade em honrar compromissos sem recorrer a novos empréstimos.
"Quando a busca por auxílio acontece apenas na iminência de um colapso financeiro, as opções de negociação e proteção patrimonial se reduzem drasticamente", reforça.
Diante do agravamento da inadimplência e da pressão sobre o fluxo de caixa, muitas empresas têm recorrido a estratégias jurídicas para reestruturar suas operações e preservar a continuidade dos negócios.
Para Jesus, entre as medidas que podem ser adotadas estão a revisão de contratos, a renegociação de dívidas com credores, o uso de instrumentos legais para alongamento de prazos e redução de encargos, além da adoção de mecanismos de proteção patrimonial dentro dos limites legais. "O objetivo é preservar a operação e criar fôlego financeiro para retomada do crescimento", afirma o advogado.
Além das medidas jurídicas, o especialista afirma que ações empresariais complementares também são fundamentais para garantir estabilidade. "É importante que as empresas realizem uma reestruturação de processos internos, revisão do portfólio de produtos ou serviços, renegociação com fornecedores, ajuste de custos fixos e fortalecimento da gestão de fluxo de caixa. Também é essencial alinhar metas de curto prazo à realidade financeira, evitando movimentos precipitados que comprometam o equilíbrio recém-estabelecido", pontua.
De acordo com Jesus, setores como varejo, construção civil, agronegócio de pequeno e médio porte e indústrias dependentes de insumos importados estão mais expostos aos riscos atuais de inadimplência, exigindo atenção redobrada: "Esses segmentos dependem fortemente de capital de giro e possuem margens sensíveis à variação de custos e ao acesso restrito a crédito."
Embora a perspectiva para o curto prazo seja de manutenção dos juros elevados, com possibilidade de alívio gradual apenas a médio prazo, o especialista do escritório Jesus Barbosa recomenda que as empresas priorizem uma gestão eficiente de caixa, reduzam a exposição às dívidas caras e fortaleçam suas reservas financeiras.
"A combinação de planejamento estratégico, proteção patrimonial e eficiência operacional é o caminho para garantir resiliência", conclui.
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