Após o presidente do Poços de Caldas FC confirmar um acordo com o goleiro Bruno Fernandes para a formação de um elenco visando a disputa da terceira divisão do Mineiro em 2020, as redes sociais do clube foram tomadas por torcedores e moradores da cidade. Nos comentários, muitas críticas, algumas em forma de indignação, e algum apoio à contratação do jogador.
Bruno cumpre pena em regime semiaberto domiciliar pelo homicídio de Eliza Samudio e pelo sequestro e cárcere privado do filho. Desde que saiu da prisão, há quase um mês, o goleiro tem mantido uma rotina discreta em Varginha, mas precisava oficializar um emprego até o início da próxima semana, quando completa-se 30 dias desde que conseguiu a progressão de pena.
O acerto com o Poços de Caldas FC pode suprir essa necessidade. Logo após a confirmação ao GloboEsporte.com, o perfil do clube postou nas redes sociais falando sobre trabalho social e fazendo mistério sobre o anúncio de uma "grande contratação".
Pouso Alegre FC posta mensagem enigmática nas redes sociais — Foto: Reprodução Facebook
O acerto, no entanto, foi visto de maneira ruim pela maioria dos torcedores e moradores de Poços de Caldas que se manifestaram nos comentários - situação semelhante à vivida pelo Boa Esporte quando anunciou a contratação de Bruno em 2017, no período em que ele ficou fora da prisão devido à uma liminar do STF.
"Se o Brasil fosse um país sério esse assassino teria que cumprir sua pena na cadeia, até o último dia (SIC)", disse um.
"Parabéns pela iniciativa! Aproveitem que gostam de dar segundas chances às pessoas e dêem a Elisa Samudio uma outra oportunidade tb! Ah é, nem vestígios do corpo ele deixou pra trás né? Complicado assim né?", ironizou outra.
"Trabalho social é vc ir em locais de vulnerabilidade e ajudar as crianças, jovens a terem um futuro melhor. Agora contratar o Bruno não é trabalho social. Ele mesmo acabou com a carreira dele", afirmou uma terceira.
"Temos muitos talentos em nossa região.Poderiam estudar melhor isso ai", disse outro.
Torcedores criticam acerto com o goleiro Bruno — Foto: Reprodução Facebook
Muitos outros comentários seguiram essa linha, mas houve sim quem apoiasse o acerto com o goleiro, que, segundo o presidente, deve ser apresentado em um evento no Espaço Cultural da Urca, em Poços de Caldas, na próxima semana.
"Se o cara não trabalhar vai viver como? A profissão do cidadão é essa e tem que ter oportunidade porque o que a justiça dos homens o condenou ele está pagando até mais por ser uma pessoa pública e pegaram ele pra dar exemplo", argumentou um internauta.
"Que ele consiga dar a volta por cima em sua vida, todos seres humanos merecem uma segunda chance", disse outro.
Torcedor apoia contratação do goleiro Bruno, enquanto outros criticam — Foto: Reprodução Facebook
Para se mudar para Poços de Caldas e começar a treinar no Poços de Caldas FC, Bruno precisaria de uma permissão da Justiça, devido às regras impostas pelo juiz Tarciso Moreira de Souza, da 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Varginha. Caso obtenha a autorização, não há impedimento legal para o contrato.
Procurada pela reportagem nesta terça-feira, a advogada Mariana Migliorini, que representa o goleiro, confirmou a proposta e afirmou que os acertos finais devem acontecer durante o fim de semana. A advogada disse ainda que o objetivo é que Bruno continue morando em Varginha, mas obtenha uma autorização especial para treinar no Poços de Caldas.
Já o Tribunal de Justiça de Minas Gerais afirmou que até o início da manhã não havia recebido nenhum pedido oficial da defesa e que, no andamento processual, não havia mudanças até o início da tarde desta sexta-feira.
Bruno Fernandes goleiro Boa Esporte — Foto: Régis Melo
Bruno foi preso em setembro de 2010 e condenado em março de 2013 pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho.
Ele também havia sido condenado por ocultação de cadáver, mas esta pena foi extinta, porque a Justiça entendeu que o crime prescreveu sem ser julgado em segunda instância. As penas válidas somadas, então, são de 20 anos e 9 meses de prisão.
Em fevereiro de 2017, o goleiro chegou a ser solto por uma liminar do Superior Tribunal Federal (STF) e voltou a jogar futebol, atuando no Módulo 2 do Campeonato Mineiro pelo Boa Esporte, mas depois teve a medida revogada e um pedido de habeas corpus negado.
Em abril de 2017, Bruno se apresentou à polícia em Varginha, onde foi preso e levado para o presídio da cidade.
Mais de dois anos depois, o juiz Tarciso Moreira de Souza, da 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais da comarca de Varginha, concedeu a progressão de regime para o semiaberto, no dia 18 de julho de 2019.
A decisão veio após o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) anular uma falta grave que havia sido imputada a Bruno por infrações no tempo em que exercia trabalho externo na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) da cidade.
Eliza Samudio e o goleiro Bruno Fernandes — Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal / TV Globo
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