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Seminário: Violência e censura atingem nove em cada dez professores, mostra pesquisa

Nove em cada dez professores de todo o país já sofreram violência direta ou testemunharam perseguições e censura contra colegas de profissão. O dad...

09/12/2025 às 17h15
Por: Tribuna Popular Fonte: Assembleia Legislativa - MS
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Nove em cada dez professores de todo o país já sofreram violência direta ou testemunharam perseguições e censura contra colegas de profissão. O dado integra a pesquisa “A violência contra educadores como ameaça à educação democrática: Um estudo quantitativo da perseguição a educadoras/es no Brasil”, apresentada na tarde desta terça-feira (9) durante o seminário “As câmeras de vigilância em sala de aula: coibição de crimes, promoção de segurança ou negação do ato de educar?”, realizado no plenarinho Nelito Câmara, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).

Deputada Gleice Jane: Há uma tentativa de silenciar o processo educacional"

Proposto pela deputada Gleice Jane (PT), vice-presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, o evento contou com a parceria da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (ADUFMS) e do Observatório Nacional da Violência contra Educadores (ONVE). O debate se originou da previsão de instalação de câmeras nas salas de aula de escolas da rede estadual, conforme estabelece o Projeto de Lei 264/2024, do Poder Executivo. A proposição tramita na ALEMS e tem como relatora a deputada Gleice Jane. 

A parlamentar afirmou que, como relatora da proposta, priorizou ouvir a categoria antes de concluir seu parecer. A deputada visitou mais de 20 escolas em quase dez municípios e aplicou, em parceria com a Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), um formulário que reuniu respostas de mais de cem escolas, mil profissionais e mais de 30 municípios. “A maioria dos professores apoia a presença das câmeras, principalmente pela sensação de ameaça e vulnerabilidade no ambiente de trabalho. Isso é um dado preocupante, porque mostra o quanto os professores estão se sentindo vulneráveis”, disse. “Há uma tentativa de silenciar o processo educacional. Nos últimos anos, tem ocorrido um assédio muito grande à educação”, acrescentou.

"Demanda legítima, mas resposta equivocada", considera pesquisador 

A apresentação do professor Fernando Penna, coordenador do ONVE/UFF, evidenciou o contexto que leva parte da categoria a ver as câmeras como solução. “A demanda dos professores pelas câmeras nos faz pensar o mecanismo perverso que leva a isso”, comentou. Segundo o pesquisador, quando há precarização do trabalho docente e ataques constantes à liberdade de ensinar, muitos profissionais se veem “acuados, desmotivados, deprimidos, abandonados pela carreira”. Nesse ambiente, explicou, uma resposta imediata pode parecer atrativa. “A demanda parte de um local legítimo, mas a resposta é equivocada”, acrescentou.

Fernando Penna: "Uso de câmeras pode aumentar violência ao professor"

A pesquisa ouviu 3.012 profissionais da educação básica e superior, das redes pública e privadas. Considerando a experiência direta ou como testemunha, a violência nas escolas atinge 90% dos educadores, segundo informou Fernando Penna. 

Entre docentes da educação básica, 61% afirmaram ter sofrido violência ou censura diretamente; na educação superior, o índice é de 55%. Entre aqueles que foram diretamente censurados, 58% relataram tentativas de intimidação, 41% questionamentos agressivos sobre métodos de trabalho e 35% proibições explícitas de conteúdos. A pesquisa registra ainda consequências graves, como demissões (6%), suspensões (2%), transferências forçadas (12%) e remoção de cargos ou funções (11%). Também são frequentes agressões verbais (25%) e físicas (10%).

Os temas mais atingidos pela censura estão ligados a questões centrais da formação crítica dos estudantes: política (73%), gênero e sexualidade (53%), religião (48%), negacionismo científico (41%) e questões étnico-raciais (30%). A pesquisa mostra ainda que a censura não é um fenômeno isolado, mas crescente desde a década de 2010, com picos em períodos eleitorais, especialmente em 2016, 2018 e 2022. Em grande parte dos casos, os ataques partem de dentro da própria comunidade escolar — direção ou coordenação (57%), familiares de estudantes (44%), estudantes (34%) e colegas de profissão (27%).

Para Penna, a adoção de câmeras não enfrentará as causas estruturais da violência. “O uso de câmeras pode gerar uma sensação de segurança momentânea agora, mas as consequências futuras para o uso de câmeras com áudio e vídeo dentro das salas de aula… os dados vão aumentar muito mais”, alertou.

O pesquisador defende políticas de valorização dos professores, melhorias de infraestrutura e ações de permanência estudantil. “Nossa resposta à violência não pode ser mais violência e autoritarismo. Não são as câmeras que vão diminuir a violência na escola. Ao contrário: ao longo prazo, elas tendem a aumentar a violência”, afirmou.

Confira neste link o estudo completo.

Relatório vai contemplar discussões

Mesa foi composta por representantes de entidades ligadas à educação

Depois da apresentação, a deputada Gleice Jane abriu para participação dos presentes. Ao final do seminário, a parlamentar reforçou que seguirá incorporando as contribuições da categoria no relatório, que será finalizado ainda este ano, com votação prevista para o início de 2026.

“A gente encerra o relatório, mas não podemos encerrar os debates nem a política. Temos grandes desafios para colocar novamente a educação no seu lugar de valor”, disse. “A educação tem que voltar a ser prioridade para que possamos, a partir dela, construir uma sociedade melhor e mais humana”, acrescentou a deputada.

Compuseram a mesa do evento, além da deputada, o professor Onivan de Lima Correa, vice-presidente da Fetems; Mariúza Aparecida Guimarães, representante da seção sindical da UFMS; e Celi Corrêa Neres, presidente do Conselho Estadual de Educação.

Serviço

O seminário contou com a cobertura da Comunicação Institucional da ALEMS. Veja no vídeo abaixo a íntegra da reunião.

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