Servidor público estadual, o policial militar João Paulo Morisson Fernandez, de 38 anos, será um dos participantes da Fodaxman, uma das provas de triathlon extremo mais desafiadoras do Brasil, que acontece em Santa Catarina, no sábado (13). Único atleta de Mato Grosso do Sul inscrito na competição, João encara o desafio como uma experiência que vai além do esporte e carrega consigo a responsabilidade de representar o estado em um circuito reconhecido mundialmente.
A Fodaxman integra o calendário internacional de provas extremas da modalidade e exige dos atletas preparo físico, equilíbrio emocional e resiliência. São 4 km de natação, 176 km de ciclismo e 39 km de corrida, em um percurso ponto a ponto que começa na Barragem do Rio São Bento, em Siderópolis, e termina em Urubici, no alto da Serra Catarinense.
Inspiração que veio da Patagônia
A decisão de se inscrever na Fodaxman vem logo após João conquistar uma experiência singular no último Patagonman, outro triathlon extremo que, segundo ele, despertou uma nova visão sobre o esporte. “Depois que eu terminei a Patagônia, ela me inspirou a fazer mais desafios no triathlon, a viver mais experiências do triathlon extremo em outros lugares. Foi uma experiência de vida fantástica”, afirma.
Motivado por essa vivência, ele não perdeu tempo: já em janeiro iniciou sua preparação intensa. “Terminei o Patagonman e já engrenei no ritmo. Desde janeiro eu não parei, foquei nessa prova”.
Começo no escuro, término no frio
A Fodaxman combina trechos que desafiam qualquer atleta. A natação, de 4 km, começa às 3h40 da manhã em águas da barragem, ainda no escuro, o que torna o início ainda mais exigente. “A gente nada em volta da torre da capela, que está submersa. Só de imaginar nadando num lugar desse já arrepia”, conta João, em referência à antiga capela de São Bento, imersa nas águas da barragem.
Depois vem o ciclismo: 176 km de pedal, com aproximadamente 3.850 metros de altimetria acumulada, passando pela lendária Serra do Rio do Rastro. A estrada é famosa pelas curvas sinuosas e subidas intensas. Para fechar, a corrida de 39 km que termina no topo do Morro da Igreja, a 1.818 metros de altitude. “Você sai de uma barragem onde tem uma capela inundada e termina no Morro da Igreja. É igreja do começo ao fim. Parece que o esporte vira um detalhe perto da experiência”, resume o atleta.
Preparação, renúncias e disciplina
João destaca que participar de uma prova desse porte exige mais do que vontade. Segundo ele, é necessária dedicação intensa e uma rotina de treinos rigorosa. “Não é fácil. Tem que abrir mão de muita coisa. Mas não é dedicar meses pra um dia só. Toda a jornada é construtiva. Durante a jornada eu desenvolvo autoconhecimento, autodisciplina e autodomínio”, explica. Para o servidor, o verdadeiro valor está no processo, não apenas no dia da prova.
Ele confessa que muitas vezes o esporte parece se tornar “detalhe”. ” As horas de treino e sacrifícios cotidianos, na visão dele, formam muito mais do que um atleta: um cidadão comprometido com seus objetivos. “O que vale é o meu propósito e a minha jornada”.
Esporte como herança familiar
A relação de João com o esporte vem desde a infância. Filho de um profissional de Educação Física, ele cresceu cercado pelo esporte e pela disciplina. Hoje, prova esse legado com orgulho. “Meu pai é professor de Educação Física, então a atividade física sempre fez parte da minha educação. Hoje, eu vivo isso e levo para dentro da minha casa, com meus filhos”, explica.
Mais que isso: ele entende o triathlon como ferramenta de educação e exemplo para os filhos, algo que, acredita, fará sentido no futuro, quando eles entenderem o tamanho do desafio.
Além da vivência desde a infância, João construiu ao longo dos anos um currículo expressivo no universo das provas de longa distância. Em seu percurso esportivo, já concluiu o Ironman Brasil, o Ironman 70.3, participou de quatro maratonas, uma ultramaratona de 75 km e duas ultramaratonas de 100 km.
Treinos no Parque dos Poderes
Grande parte da preparação de João Morisson para a Fodaxman acontece em Campo Grande, no Parque dos Poderes, espaço que se consolidou como referência para a prática esportiva na capital. É no local que o servidor realiza boa parte dos treinos de corrida e ciclismo, aproveitando a infraestrutura disponível, que inclui vias asfaltadas em excelente estado, pistas adequadas para treinamento, academias ao ar livre e um ambiente seguro para atletas amadores e de alto rendimento.
O secretário de Estado de Turismo, Esporte e Cultura, Marcelo Miranda, destaca que o Parque dos Poderes tem papel fundamental na promoção da atividade física e no surgimento de histórias como a de João. “Quando vou fazer atividade física no Parque dos Poderes, muitas vezes encontro o João treinando. Isso mostra como o espaço é vivo e cumpre sua função de estimular hábitos saudáveis e também preparar atletas para grandes desafios”, afirma.
O secretário lembra que o complexo passou por um amplo processo de revitalização realizado pelo Governo do Estado, ampliando as condições de uso para a população e para atletas que utilizam o espaço como local de treinamento. “Hoje, o Parque dos Poderes oferece uma estrutura completa, com asfalto de qualidade, pistas bem conservadas, academias ao ar livre e um ambiente que favorece tanto quem está começando quanto atletas de alto rendimento. É um investimento que se reflete diretamente na qualidade de vida da população e no fortalecimento do esporte sul-mato-grossense”, completa Marcelo Miranda.
Além do desafio pessoal, João encara a prova com um sentimento de responsabilidade e orgulho de representar Mato Grosso do Sul. Ele chegou a customizar o capacete com as cores do estado para chamar atenção. “No Patagonman eu era o único atleta de Mato Grosso do Sul e agora na Fodaxman também sou. Quero mostrar que aqui no estado também existe triathlon de alto nível, gente disciplinada, gente que treina e vive o esporte”, afirma. Para ele, levar essa bandeira significa visibilidade para a modalidade e incentivo para que outros atletas do Estado se sintam motivados a entrar nesse universo.
Participar de uma prova como a Fodaxman exige estrutura, logística e apoio constante. Por isso, João contará com uma equipe de suporte composta por familiares: o pai, profissional de Educação Física, e o irmão, também policial militar. Eles acompanharão todo o percurso, providenciando alimentação, hidratação e apoio necessário. “A prova exige apoio. Não dá pra fazer sozinho. Ter minha família comigo faz toda a diferença”.
Com variação térmica que pode oscilar entre 5 °C e 35 °C, altimetria elevada e longas horas de prova, a Fodaxman é classificada como um dos desafios mais duros do país. Para João, porém, o que está em jogo vai muito além de ritmo ou performance. É sobre viver uma experiência transformadora.
“Você vai para sofrer, mas é um sofrimento bom. A paisagem, o ambiente, tudo isso dá força. O esporte, às vezes, parece só um detalhe. O que vale é a experiência”, confessa o servidor público.
Lucas Castro, Comunicação Setesc
Foto de destaque: divulgação