
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um problema de saúde pública mundial. Um estudo de referência publicado na The Lancet Respiratory Medicine estima que cerca de 936 milhões de adultos entre 30 e 69 anos convivam com AOS, e aproximadamente 425 milhões têm formas moderadas a graves, que merecem maior atenção e tratamento.
Além disso, um estudo da American Academy of Sleep Medicine (AASM), sociedade médica com foco em medicina do sono, mostrou que tratar com CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) reduz o risco de morte por qualquer causa em 37% e o de morte cardiovascular em 55%. O estudo mostra que, quanto mais tempo o CPAP é usado a cada noite, maior a proteção, reforçando que usá-lo durante todo o período do sono é o método ideal para prevenir quadros graves.
Apesar dos benefícios, muitos casos permanecem sem diagnóstico ou tratamento, em parte pela falta de informação sobre a gravidade da doença e a importância da adesão ao CPAP. Para facilitar a adaptação e oferecer conforto aos pacientes, fabricantes têm investido em máscaras ergonômicas, aparelhos silenciosos e recursos conectados, focando em oferecer personalização e acessibilidade.
Nesse sentido, surgem no mercado os sistemas de telemonitoramento, que permitem ao profissional de saúde acompanhar e ajustar o equipamento à distância, garantindo intervenções personalizadas conforme a necessidade de cada paciente. Assistentes pessoais de terapia integrados ao aparelho oferecem orientações passo a passo, lembretes automáticos, tutoriais interativos e feedback personalizado sobre o uso. De acordo com a AASM, essas ferramentas estão associadas ao aumento do engajamento do paciente, ao esclarecimento de dúvidas e dificuldades iniciais e à elevação das taxas de adesão ao tratamento com CPAP, com impacto nos resultados de exames.
CPAP é o tratamento padrão-ouro, mas pede inovação
As diretrizes da AASM reconhecem o CPAP como o tratamento mais eficaz para a AOS. Segundo as diretrizes, a AOS pode ser controlada de forma segura e eficaz com o acompanhamento adequado e adesão ao tratamento, pois o uso regular do CPAP tem eficiência comprovada na redução dos sintomas como ronco e sonolência diurna.
Para a fisioterapeuta respiratória e do sono da Resmed, Sofia Furlan, embora o CPAP seja altamente eficaz, a adaptação ao equipamento pode exigir um período de ajuste, especialmente nas primeiras semanas. "Por isso, novas tecnologias e recursos de suporte têm sido desenvolvidos para tornar esse processo mais fácil, personalizado e confortável, ajudando o paciente a manter o uso regular e alcançar todos os benefícios do tratamento", afirma.
Ferramentas digitais ganham protagonismo na adaptação
Pesquisas internacionais da The Lancet Respiratory Medicine e recomendações da AASM destacam que soluções digitais, como telemonitoramento, suporte interativo e orientações personalizadas, têm um papel fundamental na melhora da adesão ao tratamento com CPAP. Segundo os estudos, essas ferramentas permitem o acompanhamento contínuo dos dados de uso, ajustes remotos do equipamento, tutoriais no próprio aplicativo e envio de alertas e sugestões durante as primeiras semanas, fase crítica para o sucesso da terapia.
Segundo Sofia Furlan, essas plataformas digitais aproximam paciente e equipe clínica. "As ferramentas digitais têm mostrado excelentes resultados em outros países, como os Estados Unidos, apoiando o paciente desde o início da terapia, favorecendo a continuidade do tratamento, permitindo ajustes mais precisos ao longo do tempo e, principalmente, ajudando o paciente a se sentir mais confiante e seguro para manter o uso regular do CPAP", avalia.
Dispositivos conectados chegam ao mercado brasileiro
Diante desse cenário, fabricantes têm incorporado conectividade e suporte digital aos novos modelos de CPAP. No Brasil, os dispositivos avançados de CPAP já contam com algoritmos inteligentes que ajustam automaticamente a pressão conforme as necessidades respiratórias do paciente ao longo da noite. Além disso, oferecem interfaces intuitivas para facilitar o uso diário, atualizações automáticas de software e conectividade integrada para melhores resultados.
Entre as opções disponíveis está a série AirSense 11, da Resmed, que traz conectividade integrada, permitindo acompanhamento remoto e ajustes à distância por profissionais de saúde que fazem o acompanhamento do paciente. O modelo oferece tutoriais interativos, assistente pessoal de terapia, interface intuitiva e modos de tratamento personalizados, incluindo uma versão específica para o sono das mulheres.
O equipamento já é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob notificação 82507529004, e pode ser integrado a plataformas utilizadas por profissionais de saúde, com suas tecnologias que permitem monitorar o progresso terapêutico. A fisioterapeuta respiratória reforça, porém, que a indicação da terapia deve sempre ser feita por profissionais de saúde especializados em sono.
Cuidado especializado segue como peça central
Embora a tecnologia favoreça a adesão e o acompanhamento, o papel do profissional de saúde é essencial. Apenas a avaliação clínica, associada a um exame objetivo do sono (como a polissonografia ou poligrafia domiciliar), é fundamental para identificar a gravidade da AOS e definir o tratamento mais adequado, seja com CPAP ou alternativas.
O avanço das soluções conectadas indica a personalização e acompanhamento remoto, tendendo a tornar o tratamento mais eficiente. Com a introdução de novas tecnologias no mercado brasileiro e a ampliação do volume de evidências científicas disponíveis, os pacientes que sofrem de AOS podem esperar mudanças nas abordagens de cuidado da apneia do sono.
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