O que se viu na noite desta quinta-feira em Itaquera, no empate em 0 a 0 do Fluminense com o Corinthians, pelas quartas de final da Sul-Americana, foi um time com características diferentes em sua primeira partida pós-saída de Fernando Diniz.
Sob o comando do interino Marcão, com conselhos do novo técnico Oswaldo de Oliveira, o Tricolor até manteve alguns traços de seu antecessor, mas se mostrou muito mais pragmático: priorizou se defender com o objetivo de se colocar em condições favoráveis para decidir em casa. Por outro lado, pouco conseguiu atacar. De qualquer forma, teve o grande mérito de não levar gols, algo que não acontecia há nove jogos. Agora precisa de uma vitória por qualquer placar no Maracanã na próxima quinta para avançar no torneio.
No entanto, ainda é cedo para tirar qualquer conclusão desse “novo” Fluminense. Além de Oswaldo sequer ter assumido o time, há de se levar em consideração as peculiaridades da partida: um jogo de ida, fora de casa, de uma competição mata-mata, onde o foco não são os três pontos em si, mas a vaga ao fim do confronto.
Dito isto, vamos à análise.
O que mais chamou a atenção foi a postura mais defensiva do Flu de Marcão/Oswaldo. Em vez da marcação alta e da pressão ao perder a bola, o time recuou suas linhas e aguardou o Corinthians em seu campo, defendendo-se em um 4-5-1, com Nenê dando o primeiro combate.
Posicionamento defensivo do Fluminense contra o Corinthians — Foto: Felipe Siqueira
Ao manter-se compactado, o Tricolor dificultou as ações do adversário, que chegara ao confronto em seu melhor momento na temporada. A equipe paulista pouco chutou no 1º tempo e só foi levar mais perigo ao pressionar na 2ª etapa. A maior chance veio nos acréscimos em cabeçada de Gustavo. Mas Muriel, seguro na partida, fez grande defesa e garantiu o empate.
- Nossa equipe sempre jogava em uma marcação muito adiantada. E sabíamos que essa marcação iria encaixar com o jogo do Corinthians. E tentamos tirar essa velocidade de transição do Corinthians, para não ter esse contra-ataque toda hora, ter que correr toda hora para nosso gol. Conseguimos marcar de frente, bem posicionados. Foi estratégico, foi bem feito e os meninos estão de parabéns - explicou Marcão.
Marcão e Frazan em coletiva pós-jogo — Foto: Lucas Merçon / Fluminense
O zagueiro Nino explicou a postura do Fluminense e os méritos de Marcão:
- Vínhamos levando gols em todos os jogos. Saímos felizes por não levar. Mostra evolução na parte defensiva. O Marcão mudou um pouco a maneira da gente marcar. A gente pressionava mais os adversários. Ele achou melhor voltarmos o time inteiro para defender e deu certo. Nosso time já era bem treinado e conseguiu botar isso em prática hoje - analisou o zagueiro.
As diferenças no entanto, vieram desde a escalação. Por questões médicas, Frazan jogou no lugar de Digão. Mas a principal novidade foi a opção por Nenê na vaga de João Pedro, o que mudou a distribuição ofensiva da equipe.
Sem um centroavante de origem, o time tinha Nenê flutuando por trás dos atacantes Marcos Paulo e Yony e à frente dos meias Ganso e Daniel, às vezes como um “falso 9”, outras como um armador e em certas ocasiões invertendo com o colombiano na direita.
Nenê foi um dos melhores do time. Movimentou-se bastante, foi quem mais incomodou a defesa adversária e ainda deu dois chutes a gol - um deles a principal chance do Flu, batida que passou rente a trave de Cássio.
No entanto, o sistema ofensivo tricolor mostrou-se pouco efetivo. Primeiro porque o time estava muito mais preocupado em se defender. E também porque MP e Yony não estavam tão inspirados e a estratégia de tê-los entrando em diagonal no espaço deixado pela ausência de um centroavante não surtiu efeito.
Wellington Nem entrou no lugar de MP aos 15 e, por alguns instantes chegou a ser uma alternativa mais incisiva pelo lado. Mas com o Corinthians na obrigação de buscar um bom resultado por jogar em casa, o Flu preferiu não correr mais riscos. Marcão pôs Caio na vaga de Daniel para fechar ainda mais a "casinha”, e João Pedro não teve tempo de nada ao substituir Ganso aos 41.
O aprendizado que os jogadores tiveram com Diniz foi absorvido. O time apresentou alguns traços da filosofia de seu antecessor, mas com menor intensidade. Allan continuou a fazer a função de saída entre os zagueiros, o time saiu tocando de trás algumas vezes, e chegou a recuar bolas para Muriel. Mas nos tiros de meta, por exemplo, nada de sair desde a área. Era chute para frente.
Muriel cobra tiro de meta longo — Foto: Felipe Siqueira
A movimentação e a aproximação dos jogadores se manteve, mas a posse de bola já não foi a mesma. Terminou inferior a do Corinthians: 45% a 55%. A quantidade de passes também foi menor. Principalmente no 1º tempo, quando subiu mais ao ataque, o Flu tentou ser mais vertical, avançando com menos passes. Foram 377 no total, enquanto a média era acima de 500 por jogo. Verticalidade que não chegou a surtir efeito dessa vez, já que o Tricolor teve pouco volume de jogo.
O Fluminense retorna ao Rio de Janeiro nesta sexta-feira e folga no sábado. Oswaldo de Oliveira assume o time, efetivamente, a partir do domingo. Com o adiamento do jogo com o Palmeiras pelo Brasileirão no fim de semana, o próximo desafio é somente a partida de volta contra o Corinthians na outra quinta.
O novo treinador terá, então, quatro dias para trabalhar a equipe antes de sua estreia oficial. Mas para termos uma noção melhor como será o Fluminense de Oswaldo, só mesmo aguardando uma sequência maior de partidas pelo Brasileirão.
Oswaldo de Oliveira assistiu a Corinthians x Fluminense na Arena — Foto: Marcos Ribolli
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