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Como sertanejos se adaptam à crise

08/02/2018 às 07h05
Por: Tribuna Popular
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o final de 2017, uma mensagem deu o que falar em grupos de WhatsApp de empresários e outras pessoas do mercado da música sertaneja. A dupla João Bosco & Vinícius anunciava 20% de desconto em seu cachê.

Não é comum uma dupla conhecida divulgar uma "oferta" de forma pública assim. Mesmo que existam descontos, eles costumam ser negociados de maneira privada com os chamados contratantes (empresários que intermedeiam o contrato entre os artistas e produtores locais).

João Bosco & Vinícius foram pioneiros do sertanejo universitário com "Chora, me liga" em 2009. Não estão no auge, mas têm nome forte até hoje. Por isso o recado geral causou preocupação: Será que o dinheiro do sertanejo está mais curto? Após anos "de ouro", é hora de uma queda em todo o setor?

Em uma conversa com contratantes e empresários de música sertaneja sobre o tema. Todos concordam que a tal mensagem teve impacto no meio e simbolizou um momento de desafio geral - inclusive o empresário da dupla, Luiz Montoya.

Depois da bonança

Eles dizem que nem tudo é um mar de rosas no mercado sertanejo atual. Exceto um grupo pequeno de artistas estourados ("hoje no máximo 10", segundo um grande contratante), outros cantores conhecidos tiveram que readequar o orçamento nos últimos dois anos.

Não é uma crise exclusiva do sertanejo: é o reflexo da economia ruim do país desde 2015, segundo eles. Prefeituras com menos dinheiro, festas tradicionais com menos orçamento, shows com menos público: tudo tem impacto nas duplas e cantores. A soluções são:

  • Trocar jatinho por ônibus ou voos comerciais. Com menos grana, "a primeira coisa que corta é jatinho", diz Márcio Costa, um dos maiores contratantes de shows sertanejos no país, de Votuporanga (SP). João Bosco & Vinícius venderam seu jatinho há dois anos. Hoje, só duplas muito em alta, como Maiara e Maraísa, usam.
  • Enxugar a equipe. Artistas grandes que levavam em média 50 pessoas na estrada hoje levam em torno de 35, afirma Costa.
  • Diminuir cachês. G1 apurou que João Bosco & Vinícius chegaram a cobrar R$ 150 mil. Hoje fica entre R$ 80 mil a R$ 120 mil. E nem foi a maior queda. "Tem muito artista que tinha cachê de R$ 150 mil, hoje é R$ 50 mil", diz Costa.
  • Turnê acústica. Outra solução para diminuir o orçamento é fazer shows acústicos, que devem ser tendência em 2018, diz um grande contratante, que não quis se identificar.

Tempo fechado


O momento é diferente do auge do "sertanejo pegação", entre 2011 e 2014. "Grandes festas que davam 70 mil pessoas hoje dão 40 mil. Se elas tinham 10 artistas no line-up, hoje têm 5. Um fã que ia a 4 shows por mês hoje vai a um", diz um grande contratante.

A pendenga nas contas de governos estaduais e municipais se reflete no sertanejo. "Uma prefeitura que está sem recurso não vai fazer show", diz Montoya. Os números corroboram seu argumento: festas municipais de carnaval, por exemplo, foram canceladas em mais de 100 cidades em 2017 e 2018.

Até as chuvas do segundo semestre de 2017 afetaram os preços de shows sertanejos, diz Montoya. "Eu nunca vi um clima tão desfavorável a evento como nos últimos oito meses. A chuva aumenta o risco do produtor local", ele explica.

Concorrência?

Outro empresário de sertanejo, que não quis se identificar, pintou um cenário mais dramático: além da economia ruim, a concorrência com cantores da "nova MPB" e principalmente de funk, com estruturas e preços menores, derruba ainda mais os preços.

Mas Montoya e os contratantes que falaram minimizam impacto dessa concorrência. O sertanejo ainda é o estilo mais forte para shows, com maior penetração pelo país, diz Costa.

Além disso, as equipes de sertanejo são mais profissionais do que as de funk. "Alguns MCs você contrata já sabendo que vai ter uma pequena dor de cabeça", diz o contratante.

Chora, me contrata

No fim de dezembro, João Bosco & Vinícius mandaram outra mensagem, desta vez incluindo imprensa: eles estavam aceitando cachês em Bitcoin. Na época, a moeda virtual valia R$ 60 mil (com o show a 1 Bitcoin, o desconto era até maior que o apurado pelo G1).

Eles ainda não conseguiram fechar contrato em Bitcoin. Mas dizem que estão negociando um show privado para uma corretora, que seria pago com a moeda virtual.

O objetivo era o mesmo da primeira mensagem, diz Montoya: se adequar a novas possiblididades de mercado em um momento "desfavorável".

"Achei muito corajosos. No bom sentido. Mandaram abertamente para todos os empresários. Encararam de frente. Achei um ato ousado", diz Costa.

Montoya considera que atingiu o objetivo com as duas mensagens: fez mais contatos com produtores e conseguiu fechar mais shows já para o início do ano, mesmo mais baratos. "A gente interagiu com o mercado de forma mais clara", diz.

*G1

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