SOCHI – “Trabalhar com Tite é um estresse delicioso”. A definição é do ex-lateral Sylvinho, um dos auxiliares do treinador gaúcho na seleção brasileira. Os adjetivos “metódico”, “pilhado” e “workahoolic” são constantemente usados pelos colegas para definir Adenor Leonardo Bachi. Diversos traços da personalidade de Tite foram explorados no perfil do treinador, o “Tarás Bulba do futebol”, na última edição de VEJA. Mas o depoimento de outros integrantes da CBF reforça um dos grandes méritos do comandante do Brasil na Copa do Mundo: exigir que sua equipe fale e, sobretudo, estar aberto ao debate.
Uma espécie de “Mourinho às avessas”, Tite gosta de compartilhar os méritos (e também as culpas, claro) com seu staff. Um exemplo disso é a prática de chamar seus auxiliares para as entrevistas coletivas e ceder-lhes algumas respostas, geralmente as relacionadas a aspectos táticos. Também está sempre em contato com o time de análise de desempenho e com a equipe médica. Todos podem opinar, inclusive sobre convocações e escalações.
“Eles têm de trazer ideias novas. Se não trouxer, está fora. A opinião de todos aqui é no mesmo plano, quero que eles defendam suas ideias e argumentem, não quero ninguém melindrado”, contou Tite, no início do ano, na sede da CBF. Todos opinaram sobre convocação. Na parte dos goleiros, a opinião que mais pesa é a do preparador e referência na posição, Claudio Taffarel. “Todos têm suas preferências e eu quero o debate, bons argumentos. Mas a palavra final é minha claro.”
O hábito de pedir a opinião e a ajuda de todos é tão presente, que às vezes até assusta o time. “Tem dia que não dá para aguentar o homem”, brincou Syvinho, na reta final de preparação, na Inglaterra. “Tem que fazer revezamento de auxiliar”. O ex-lateral trabalhou com Pep Guardiola e outros profissionais renomados e garante que Tite está no nível dos melhores. Cleber Xavier, o mais extrovertido da turma, já está mais acostumado. Auxiliar de Tite desde 2001, é uma espécie de braço-direito do técnico, mas, fora do ambiente de trabalho, mal vê o companheiro.
“Saio bastante com o pessoal da comissão no Rio, vamos a shows de música ou tomar um chope na orla, mas o Tite nunca vai. A gente nem convida porque sabe que ele não vai. Ele não sai de casa”, contou o brincalhão Cleber. Quando ambos deixaram o Corinthians no fim de 2013, ficaram seis meses sem se falar. “Eu e o Tite nos entendemos perfeitamente, mas só falamos de trabalho. Estávamos desempregados, não tínhamos por que conversar”.
Outro auxiliar bastante “influente” é seu próprio filho, Matheus Bachi, responsável pelos treinamentos de ataque, com quem já havia trabalhado no Corinthians. “Ele, de todos, é quem mais sabe o que eu penso de futebol, porque passou a vida me interpretando.. Ele faz a filtragem”, contou Tite, no Rio. O treinador diz não se importar com contestações sobre o laço familiar. “Ele sabe que vai carregar o peso de ser o filho do Tite. Só que ele é o Matheus, com toda a sua história. Ficou quatro anos estudando, garimpou, fez estágio. Merece estar no local onde está. E ele me dá uma sustentação como ser humano também, orgulho pra caramba. Mas sei que serei cobrado em cima disso”, afirmou, já na fase final de preparação na Inglaterra .
Mín. 23° Máx. 39°