Denis Cheryshev nasceu em Nijni Novgorod, na Rússia, mas mudou-se para Gijón, na Espanha, aos seis anos de idade — onde foi jogar o pai, Dmitri. “Meio russo, meio espanhol”, como ele mesmo se definiu certa vez ao diário espanhol ‘El País’, cresceu nas categorias de base do Real Madrid. Sempre jogou em clubes espanhois — hoje, atua no Villarreal. Nessa tarde em Moscou, enfrentou muitos colegas. Especialmente o lateral-direito Carvajal. Fizeram até faculdade juntos. Ele atacando pela esquerda, marcado pelo amigo, que voltará para a Espanha mais cedo. Cheryshev fica mais um pouco, depois da vitória russa nos pênaltis, por 4 a 3, depois do empate em 1 a 1 com a bola rolando.
Se a Espanha foi exaltada na sua fase de ouro, duas vezes campeã europeia (2008 e 2012) e campeão do mundo (2010), essa versão 2018 está mais para bocejos do que aplausos. A paciente troca de passes é a mesma, mas sem o último toque vertical, aquele que quebra paredes como a defesa russa. O homem capaz disso, Iniesta, começou no banco de reservas, para espanto geral. Sem ele, o primeiro tempo se arrastou, e os gols foram exceção — ambos originados por lances de bola parada.
O dos espanhóis, uma cortesia do zagueiro Ignashevich. Não tivesse tocado contra o próprio gol, deveria ter sido marcado pênalti pelo agarrão em Sergio Ramos. Marcado foi do outro lado, gentileza dessa vez de Piqué, com braço besta na bola — Dzyuba converteu, em perfeita cobrança.
O segundo tempo finalmente trouxe os principais personagens para o campo. Cheryshev, outro reserva inesperado, entrou aos dezesseis minutos. Mas ele não mudou o estilo russo, que continuou assistindo ao tiki-taka espanhol e consumindo a paciência do público. Já Iniesta quase evitou a prorrogação ao finalizar com perigo no final do tempo normal — o único chute perigoso da Espanha até então.
Na prorrogação, caiu a ficha espanhola. Atacou nos trinta minutos extras mais do que nos noventa anteriores. O hispano-brasileiro Rodrigo Moreno quase marcou. O atrapalhado Ignashevich deu outro ‘abraço’ em sua área, ignorado pelo árbitro assistente de vídeo (VAR, na sigla em inglês). Um pênalti trocado pelos nove que se seguiram na disputa pós-jogo.
Foram nove porque o goleiro Akinfeev defendeu dois e nem foi necessária a última cobrança russa. A penúltima foi de Cheryshev, que não veio com aquela mania de alguns jogadores, de não vibrar por respeito. Comemorou e muito, chorou pela classificação de seu país. A melhor forma de respeitar a nação que o acolheu, por saber o quanto foi difícil e qual o tamanho dessa façanha.
Ponto alto
A nova regra da Fifa, que permitiu uma quarta substituição na prorrogação, ajudou a dar intensidade à partida — o atacante Rodrigo quase foi decisivo para a Espanha.
Ponto baixo
O goleiro De Gea, criticado desde a falha num gol de Cristiano Ronaldo na estreia, mal sujou o uniforme durante o jogo. Mas, ao não defender nenhuma cobrança decisiva, despede-se em descrédito.
Nas quartas
A Rússia enfrenta o vencedor de Croácia e Dinamarca no sábado, 7 de julho, às 15h, em Sochi.
Espanha (3) 1 x 1 (4) Rússia
Local: estádio Lujniki, em Moscou. Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL). Público: 78.011. Gols: Ignashevich (contra), aos 12, Dzyuba, aos 41 do primeiro tempo. Nos pênaltis: converteram Iniesta, Piqué e Sergio Ramos (ESP), Smolov, Ignashevich, Golovin e Cheryshev.
Espanha: De Gea; Nacho (Carvajal), Piqué, Sergio Ramos e Jordi Alba; Busquets e Koke; Asensio (Rodrigo Moreno), David Silva (Iniesta) e Isco; Diego Costa (Aspas). Técnico: Fernando Hierro.
Rússia: Akinfeev; Mário Fernandes, Kutepov, Kudriashov, Ignashevich e Zhirkov (Granat); Zobnin, Kuzyaev (Erokhin) e Samedov (Cheryshev); Golovin e Dzyuba (Smolov). Técnico: Stanislav Cherchesov.
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