O meteorito Bendegó, encontrado no Sertão da Bahia em 1784, conseguiu resistir ao incêndio que atingiu o Museu Nacional na noite de domingo (2), no Rio de Janeiro. A pedra de 5,36 toneladas, levada ao local a mando do Imperador dom Pedro II em 1888, estava posicionada no saguão de entrada da instituição e é o maior meteorito já encontrado no Brasil.
A rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. Na época do achado era o segundo maior do mundo. Atualmente, ocupa a 16ª posição.
O Meteorito Bendegó no Museu Nacional, antes do incêndio (Museu Nacional/Divulgação)
Ainda não há um levantamento oficial sobre quais outras peças do acervo, composto por 20 milhões de itens, resistiram às chamas ou foram salvas antes do fogo consumir o museu. A vice-diretora da instituição, Cristina Serejo, afirmou que uma
coleção de invertebrados escapou do fogo, pois fica em um prédio anexo, que não foi afetado pelas chamas. O museu tem três andares e prédios anexos, localizados na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital.
Acervo
O maior tesouro do Museu Nacional é o
esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas, com cerca de 12.000 anos de idade. Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil.
A primeira réplica de um dinossauro de grande porte já montada no Brasil é outra das maiores atrações do Museu Nacional. Tanto assim que o Maxakalisaurus topai, um herbívoro de 9 toneladas e 13 metros de comprimento, tem uma sala só para ele. O dinossauro viveu há cerca de 80 milhões de anos na região do Triângulo Mineiro.
As múmias também estão entre os grandes destaques do acervo. O corpo mumificado de um índio Aymara, grupo pré-colombiano que vivia junto ao Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia, abria a série de múmias andinas do Museu Nacional. Trata-se de um homem, de idade entre os 30 e os 40 anos, cuja cabeça foi artificialmente deformada, uma prática comum entre alguns povos daquela região. Os mortos Aymara eram sepultados sentados, com o queixo nos joelhos e amarrados. Uma cesta era tecida em volta do defunto, deixando de fora apenas as pontas dos pés e a cabeça.
O Museu Nacional tem a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. A maior parte das peças foi arrematada por dom Pedro I, em 1826. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria é proveniente da região de Tebas. Lápides com inscrições em hieróglifos também fazem parte da coleção.
Os fósseis da preguiça-gigante e do tigre-de-dente-de-sabre que viveram há mais de 11.000 anos são dois expoentes do período da megafauna brasileira e encantam as crianças há décadas, muito antes das primeiras réplicas de dinossauros serem montadas no museu. Diferentemente dos dinossauros, os animais da megafauna conviveram com os homens pré-históricos. A preguiça-gigante chegava a ter o tamanho de um carro como o Fusca. “A preguiça foi, durante muito tempo, o maior organismo fóssil montado”, conta Alex Kellner. “Fiquei com o coração partido, ainda criança quando descobri que não era um dinossauro.”
O trono do rei de Daomé está na coleção do Museu Nacional desde 1818. O reino da África, criado no século XVII, se situava onde hoje está o Benin e durou até o fim do século XIX. A peça foi uma doação dos embaixadores do rei Adandozan (1797-1818) ao príncipe regente dom João VI. O reino ficou conhecido por ter um exército formado por mulheres guerreiras.
O Museu Nacional tem uma coleção significativa de peças indígenas, mostrando a importância desses povos na formação do País. Um dos maiores destaques são as máscaras feitas pelos índios Ticuna, que representam entidades sobrenaturais e são usados no “ritual da moça nova”, que marca a primeira menstruação das meninas e sua entrada na vida adulta.
A Biblioteca Central do Museu Nacional foi criada em julho de 1863 e uma das maiores da América Latina na área de ciências antropológicas e naturais. São mais de 500.000 títulos, entre eles obras raras, como a publicação
Historia Naturale, de autoria de Plínio, o Velho, datada de 1481 — a obra mais antiga da coleção.
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