Um incêndio, causado por uma sequência de descargas elétricas durante temporal, destruiu parte da vegetação do banhado do Rio Formoso em Bonito, interior de Mato Grosso do Sul. Por ser tratar de uma Área de Preservação Permanente (APP) naturalmente alagada, o acesso das equipes de regaste ficou prejudicado, sendo impossível apagar o fogo, que se alastrou por uma área de aproximadamente 3 mil hectares, segundo a Policia Militar Ambiental (PMA).
Além de deixar a cidade em estado de alerta, o incêndio reacendeu as discussões sobre a criação das Unidades de Conservação (UC). Nas redes sociais alguns moradores questionaram a necessidade de uma proteção mais restritiva no banhado do rio, que é maior fonte de renda do município.
Já o secretário de Meio Ambiente do município e presidente da Fundação Amigos do Rio Formoso, Alexandre Ferro se posicionou de forma pacificadora, afirmando que a proteção dos banhados é de extrema importância e está acima de qualquer discussão, mas que o controle das chamas só foi possível devido ao auxílio de moradores das propriedades rurais que abrigam o banhado.
“Como o local é alagado e afastado, foi impossível a ação dos caminhões pipa e do Corpo de Bombeiros. Na verdade a única coisa que pudemos fazer foi controlar as chamas para que não atravessasse o rio e viesse em direção à cidade. E isso só foi possível porque os funcionários e donos das fazendas ajudaram. Foi um empenho muito grande de todos, até mesmo para evitar que o fago passasse a rodovia e atingisse o Parque”, explica o secretário.
Ainda segundo Ferro, as discussões sobre a criação das UCs não é prioridade da Prefeitura neste momento. “Nós estamos preocupados em sanar problemas emergenciais, como a coleta seletiva, o aterro sanitário e a estação de esgoto. Até mesmo porque, o banhado do Rio Formoso está protegido. Ele já é uma APP e é extremamente proibida qualquer atividade humana no local”, destacou.
O local ainda deve passar por perícia da PMA e do Ibama para certificar a causa do incêndio, mas segundo os policiais, a hipótese mais concreta é que o fogo foi provocado pela queda dos raios, uma vez que o início das chamas aconteceu em um local totalmente isolado. As chamas começaram na quinta-feira (9) e só foram controladas na madrugada deste sábado (11), quando’ já havia queimado o que tinha para queimar’.
O secretário de Meio Ambiente também comentou sobre a preocupação com uma nova chuva, que pode levar as cinzas para dentro do rio, tirando a oxigenação da água, o que levaria a morte de centenas de peixes. “Nossas equipes ainda estão no local. Hoje vimos um pouco de fumaça e estamos monitorando para saber se é um novo foco ou apenas restos do incêndio. Os fazendeiros também estão de prontidão, preparados para novas intervenções. Durante esses três dias todas as proprietários fizeram o trabalho de moto-bomba, mantendo as chamas apenas de um lado do rio”.
O impacto ambiental ainda não foi estimado, porque segundo o secretário está muito recente é foi provocado pela própria natureza. “Não sabemos se isso vai ter algum impacto. Porque havia uma macega muito acumulada. Às vezes é apenas a natureza fazendo sua própria renovação. A única coisa que dá para afirmar agora, é que a presença dos fazendeiros no local, ao invés de prejudicar, como muita gente acredita, foi fundamental para evitar uma catástrofe maior. No ano passado um caso semelhante aconteceu no Parque Nacional da Serra da Bodoquena, justamente em uma área de banhado e o estrago foi muito maior, porque as equipes de resgate não conseguiam chegar e não haviam moradores por perto para fazer esse trabalho de contenção”, detalhou Ferro.
Em reportagem do jornal Correio do Estado, em setembro do ano passado, o botânico Arnildo Pott, professor da UFMS, comentou sobre a importância dos banhados que ‘aos olhos dos leigos, não são representativos, mas guardam verdadeiros tesouros da biodiversidade’.
“Quem olha de fora, pensa que é somente um capinzal. Parecem áreas monótonas, mas nessas áreas há mais de 500 espécies de vegetais e uma diversidade de vida animal associada às plantas: insetos, aves que fazem ninhos ou se alimentam ali, além de mamíferos de grande e pequeno portes”, diz Pott.
Ele reforça que o mau uso dessas áreas, que são cabeceiras dos rios Formoso e da Prata, afeta diretamente o Pantanal: “Esses brejos acumulam uma terra preta encharcada que são restos dos vegetais. O acúmulo dessa matéria orgânica funciona como estoque de água, como uma esponja que armazena água para o ano inteiro. Essa água flui limpa e é a razão da perenização dos rios. A drenagem desses sistemas rebaixa o nível de água do solo, ele fica arejado e esse material orgânico se oxida. Ou seja, ele se queima sem chamas e não funciona mais como esponja”.
Localização:
O fogo teve início no banhado (brejão) do Rio Formoso, entre as fazendas Belo Horizonte e Barreiro Grande, atravessando o Rio Cristalino e indo sentido ao Rio Formosinho, onde o banhado também foi danificado.
Resgate:
Além de tentar controlar as chamas, alguns moradores se emprenharam em resgatar animais assustados com fogo, que foram em direção ao rio. Dois jovens foram filmados ajudando um tamanduá-mirim a atravessar o rio. Veja o vídeo em anexo.
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*Kemila Pellin
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