O operador do mercado financeiro Lúcio Bolonha Funaro está preso desde julho do ano passado na penitenciária da Papuda, em Brasília. Ele é investigado por envolvimento em esquema de cobrança de propinas na liberação de empréstimos do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). Acostumado a ganhar milhões de reais em operações intrincadas no sistema financeiro, Funaro se deparou no presídio com problemas impensáveis para quem costumava dar expediente em uma das regiões mais caras e sofisticadas de São Paulo.
Os advogados de Funaro impetraram na Justiça Federal em Brasília um requerimento para tentar “sensibilizar” o juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal. Segundo os advogados, o pleito tem “viés humanitário”. Funaro pede ao juiz, por exemplo, que não marque mais audiências nas sextas-feiras porque esse é o dia em que ele recebe visitas da esposa e da filha, ainda pequena. O outro motivo é um tanto insólito: o operador sustenta que também às sextas-feiras são entregues os “itens de sobrevivência” na cadeia e que, quando há audiência, “ele não recebe os produtos que lhe são de direito”.
A lista de “itens de sobrevivência” que Funaro diz deixar de receber quando tem audiências às sextas inclui meio quilo de sabão em pó, dois rolos de papel higiênico, um litro de água sanitária, um litro de desinfetante, meio quilo de bolacha, quinze unidades de pé-de-moleque e seis frutas (banana, maçã, pera ou goiaba). “No momento em que Vossa Excelência designa audiência coincidente com uma sexta-feira, o requerente fica sem os referidos itens essenciais para sua sobrevivência com dignidade mínima no cárcere”, diz a petição, assinada pelo advogado Bruno Espiñeira Lemos.
O operador do mercado financeiro questiona na petição a razão do que chama de “tratamento desigual” dado aos réus, “por ser ele o único que prossegue indevidamente preso por Vossa Excelência”.
Lúcio Funaro foi preso no curso de uma investigação sobre desvios milionários do fundo de investimentos formado por recursos do FGTS. Ele é acusado de, em parceria com o deputado cassado Eduardo Cunha, operar um esquema de cobrança de propinas de empresas interessadas em obter financiamentos do fundo.
Mais recentemente, José Yunes, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer, contou que recebeu das mãos de Lúcio Funaro um “pacote” cujo destinatário final seria o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Conforme a revista Veja publicou há duas semanas, o operador de mercado tem dado sinais de que pode fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Ele ameaça fazer revelações comprometedoras para a cúpula do PMDB.
*Veja
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