O servente de pedreiro Alcides Bertei de Assis, de 59 anos, olha preocupado para o cenário de destruição na sede da empresa Casas Campo Grande Engenharia/Construção, no Bairro Monte Castelo. O local está depredado e ninguém aparece no imóvel há dias.
Por isso, Alcides não tem a quem recorrer para recuperar o dinheiro investido na construtora que prometia reformar ou edificar moradias na Capital. “Eu fechei um contrato no valor de R$ 15 mil, paguei R$ 10 mil à vista e ainda estou quitando os boletos em parcelas de R$ 400. Mas, o problema é que ninguém apareceu para fazer o serviço pelo qual já paguei a maior parte”, reclama. Alcides não é o único. A empresa é alvo de vários processos judicias e denúncias no Procon.
Os clientes reclamam que pagaram por serviços que não foram feitos ou foram apenas executados parcialmente. No caso de Alcides, os técnicos da empresa estiveram no terreno dele, no Bairro Itamaracá, fazendo as medições, mas não começaram a construção da moradia. “Assinei o contrato em março de 2015, ou seja, há um ano e nada foi feito. O pior de tudo é não saber mais onde encontrar essas pessoas”, lamentou. Outro cliente que apareceu no endereço da empresa foi um motoentregador de 32 anos que pediu para não ter o nome mencionado.
No caso dele, os serviços contratos foram quase totalmente concluídos. Ele lembra que deu uma motocicleta e mais R$ 3 mil pelos trabalhos de reforma, totalizando cerca de R$ 9 mil. “Demorou, mas fizeram. No meu caso, não era muito serviço, apenas parte da cobertura e o reboco. Na verdade, hoje, eu não tenho certeza se a contratação desse trabalho compensou”, analisa. A empresa ganhou clientes fazendo propagandas em programas da TV aberta. As vítimas encontradas pelo Diário Digital tem um perfil parecido, são trabalhadores comuns que juntaram dinheiro ao longo de anos para construir ou reformar a casa.
O operador de máquinas Valdecir Alves Ribeiro, 44 anos, por exemplo, investiu todas as suas economias no contrato com a na construtora. “Entreguei meu dinheiro todo e levei um calote”, resume. Ele relembra ter fechado contrato com a empresa no dia 3 de agosto de 2015 para a construção de uma área de serviço em sua casa, no Bairro Vida Nova I. Inicialmente, a empresa pediu 45 dias para começar as obras. Como o prazo terminou, Valdecir procurou a Casas Campo Grande que pediu mais uma semana para iniciar os serviços. “Em outubro, demoliram paredes e colocaram os tijolos, começaram os rebocos e depois não apareceram mais. Fui até a empresa mais duas vezes, sempre sendo enrolado.
Em novembro, eu estive lá pela última vez. Já estava quase brigando com o proprietário. Por isso desisti. Não fui mais lá. Eu já tinha gasto R$ 8 mil, parei de pagar as parcelas do carnê e procurei um advogado”, relata. O dono da empresa com quem Valdecir conversava é Maciel Batista dos Santos, de 34 anos, que não foi encontrado até a publicação desta reportagem. O advogado de Valdecir, Higor Utinói, fez pesquisas sobre a Casas Campo Grande. “Descobri que ela declarou um capital social de R$ 30 mil. Se é assim, como pode assumir obras de R$ 20 mil ou R$ 50 mil para executar?”, questiona o advogado, que prepara uma ação judicial contra a empresa.
Utinói mantém contato com outros advogados cujos clientes também pagaram por serviços não executados. Há pessoas que investiram R$ 80 mil. Uma pesquisa feita no site do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul mostra 16 ações em andamento contra a Casas Campo Grande por rescisão de contrato e devolução de dinheiro que seriam de clientes insatisfeitos. Há ainda uma ação de despejo movida neste mês na 2 Vara Cível da Capital que provavelmente provocou a saída do prédio no Bairro Monte Castelo.
No antigo endereço da empresa, as portas de vidro foram quebradas com uso de tijolos. Além disso, o cenário no interior também é de vandalismo. Houve tentativa de arrancar o aparelho de ar condicionado da parede que está quase despencando. Antigos clientes chegam a todo momento ao local e não encontram nada nem ninguém, além da depredação. Na vizinhança, ninguém sabe dizer nada sobre os atos de vandalismo no prédio.
Estelionato - Além das acusações de calote dos clientes de Campo Grande, Maciel também responde a um processo criminal pela prática de estelionato no município de Amambai, tendo sido denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPE) em 2011. Em julho de 2004, Maciel que seria proprietário da empresa Brasil Bens Participação e Administração Ltda, mandou um funcionário até a residência de um cliente oferecer-lhe um empréstimo no valor de R$ 10 mil.
Conforme o MPE, o empresário sabia que o valor não seria depositado, pois, a Brasil Bens estava em processo de falência. O cliente teve que pagar uma taxa de adesão no valor de R$ 500 em três parcelas. Porém,o empréstimo jamais foi depositado na conta da vítima. A empresa fechou as portas pouco tempo depois, de modo que o cliente não conseguiu localizar mais ninguém.
A denúncia do MPE cita ainda o relato de um ex-funcionário da empresa que contou que a conduta criminosa era praticada reiteradamente pelo acusado. Com frequencia, ele recebia as taxas de adesão, mas nunca depositava os valores para os clientes.
(Fonte: Diariodigital)
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