O furto de fios da rede elétrica e iluminação pública é um crime recorrente em Campo Grande. Os ladrões miram no cobre que compõe esse material, que é posteriormente revendido em sucatas. Porém, além dos transtornos aos consumidores dos serviços de energia, o furto de fios de rede elétrica também ocasiona prejuízos em altas cifras.
Somente no primeiro semestre de 2021, um prejuízo de R$ 106.778,74 em reparos desse segmento foi contabilizado em todo Mato Grosso do Sul pela concessionária de energia, a partir de 13 obras de manutenção causadas por furtos nas redes de distribuição, entre transformadores, para-raios e condutores roubados no Estado.
Já na Capital, os números são bem mais impressionantes. Ao Jornal Midiamax, a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) relatou que o custo mensal para manutenção de serviços após furto de cabos alcançou o valor médio de R$ 100 mil, entre material e mão de obra, somente em 2021.
Ainda conforme a Secretaria, o tempo médio para religar um poste de iluminação pública pode variar entre um e cinco dias, e todo o serviço é financiado com recursos da Cosip (Contribuição para o Custeio do Serviço de iluminação Pública). Ou seja: quem paga a conta é o consumidor.
A reportagem conversou com o delegado da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), Reginaldo Salomão, que afirmou ao Jornal Midiamax que esses furtos são praticados em sua maioria durante a madrugada e por moradores de rua. “São poucos os furtos de fio de energia, ocorrem mais em escolas e unidades de saúde. A maioria dos furtos é praticada em fios de telefone e de internet”, explicou.
Os furtos são motivados pelo cobre contido nos fios, com o preço de revenda oscilando entre 30 e 40 centavos. “É pouco, mas a maioria das pessoas que praticam esse tipo de subtração é morador de rua ou dependente químico. Usam para comprar uma ‘quentinha’, drogas ou pinga”, disse ele.
As consequências do furto podem ser fatais, já que se trata de manuseio de fios energizados. Em março deste ano, um homem morreu eletrocutado e teve parte do corpo carbonizado quando tentava furtar a fiação elétrica do Parque Ayrton Senna, no bairro Aero Rancho em Campo Grande, o que também causou um apagão no bairro.
Além dos fios, o delegado informou que até grelhas e tampas de bueiro estão sendo furtadas, devido ao preço do ferro, e que ambos trazem transtorno à população. “O Furto dos cabos de fiscalização semafórica já causou acidentes de trânsito. Essa do bueiro já causou acidentes com pedestres e motociclistas. Além do prejuízo material tem o prejuízo social, as pessoas quebram as pernas, batem a cabeça e tem fratura craniana”, falou.
Segundo o delegado, existe uma força-tarefa constante focada nos receptadores, que alimentam esse ciclo de furtos. “Miramos os receptadores, ele pode ser preso por receptação qualificada no exercício da atividade comercial ou crime contra o patrimônio público, com pena de 3 a 8 anos. A força-tarefa, em conjunto com a prefeitura, já aplicou multas de R$ 30 mil para dois receptadores e os concedeu liberdade com tornozeleira”, finalizou.
Em Campo Grande, um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal quer determinar que a comercialização de cobre, alumínio e estanho só poderá ser realizada com comprovação da procedência do material. Na proposta, está prevista a comprovação em qualquer objeto que contenha os materiais. Assim, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) ficaria responsável por conceder autorização para cidadãos que “pretendam demolir imóvel de sua propriedade, ainda que parcialmente, e queiram reaproveitar” o cobre, alumínio e estanho presentes na casa.
Quem tentar vender um desses materiais e não comprovar a origem poderá ter o material apreendido e um prazo de 30 dias para se adequar à notificação. Em casos de reincidência, multa no valor de R$ 3 mil. Na segunda reincidência a multa sobe para R$ 6 mil e o alvará da pessoa vai ser cassado. E, por fim, o projeto, de autoria do vereador Coronel Alírio Villasanti, estipula que a fiscalização será realizada pela Semadur.
Para a presidente do Concen-MS (Conselho de Consumidores da Área de Concessão da Energisa de MS), Rosemeire Costa, os furtos na rede de distribuição acabam prejudicando a qualidade no fornecimento de energia elétrica, sendo perturbações que podem causar a queda ou falta na distribuição.
Para quem está com imóvel para alugar, a recomendação é de sempre aguardar a locação e somente aí religar a energia. “Para quem está com a residência para alugar e que já sofrearam com furtos, é melhor aguardar a locação é só depois fazer o conserto. No centro, com uma casa para alugar, já tivemos casos do dono regularizar e a pessoa ser furtada de novo”, explicou.
Ainda segundo Rosemeire, se você tiver os fios de energia furtados da sua residência, a recomendação é de sempre registrar a ocorrência, tendo em vista que ela dará suporte para as polícias em futuras investigações, com objetivo de identificar os receptadores desse crime. “Todos os valores que são gastos em furtos, serão cobrados na próxima revisão tarifária periódica. E uma ação que acaba prejudicando todos os consumidores de energia em Mato Grosso do Sul”, finaliza.
*Midiamax
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