La Niña pode causar um grande impacto na produção mundial de grãos nos próximos meses, impulsionando um ciclo de alta nos preços de commodities como a soja e o milho. A avaliação foi feita na manhã da última quarta-feira (1º) por Alexandre Mendonça de Barros, doutor em Economia Aplicada, membro do conselho superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e sócio-consultor da MB Agro, durante o Simpósio de Gado de Corte – Confinar, no centro de convenções Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande.
Segundo Barros, o La Niña provoca o esfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, o que influencia no clima de diversos países no mundo. Ele explicou que se for confirmada a ocorrência do fenômeno, que atualmente tem probabilidade de mais de 60%, e ele atingir os Estados Unidos, principal produtor mundial de soja e milho, entre os meses de julho e agosto, na época de enchimento dos grãos, pode provocar um impacto considerável na safra da oleaginosa e do cereal. “Já se atingir os EUA em setembro não vai ter tanto impacto, porque já será a época de colheita de grãos e vai até contribuir”, aponta Barros, completando que no Brasil o fenômeno deve provocar um aumento de temperatura e estiagem nas regiões sul, sudeste e centro-oeste e mais chuva no norte e nordeste do país.
Somado ao fator La Ninã, ele aponta que o mercado mundial de grãos já começa a registar um aumento dos preços destes produtos em razão da redução da expectativa de produção na América do Sul, onde países como o Brasil e Argentina, sentido os efeitos de outro fenômeno climático, o El Niño, registraram quebras de safra em razão do excesso de volume de chuvas. “Na Argentina se esperava uma safra acima das 60 milhões de toneladas e deve fechar com um valor entre 53 milhões de toneladas e 55 milhões.
No Brasil o número mais recente da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] é de aproximadamente 97 milhões de toneladas, sendo que no início da safra se falava em mais de 100 milhões de toneladas”, explica. Em razão desse contexto, Barros destaca que a Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, principal centro de comercialização da commoditie no mundo, que estava trabalhando com cotações da soja em torno dos US$ 8,5 o bushel (medida equivalente a 27,21 quilos) no início do ano já estão vendendo a oleaginosa na casa dos US$ 10,5 o bushel. “Já existe uma projeção da redução da oferta mundial, em decorrência da redução das expectativas quanto a safra sul-americana.
Se o La Niña atingir as lavouras dos EUA em julho e agosto, deve acelerar ainda mais essa virada e os preços vão subir para cima dos US$ 12 o bushel para a soja, deixando para trás os últimos dois anos de ajustes para baixo nas cotações”, analisa.
A alta nos preços dos grãos deve influenciar, conforme o sócio-consultor da MB Agro, diretamente o mercado de proteína animal, que é grande consumidor destes produtos para a produção de ração animal, provocando elevações de preços nas carnes bovina, suína e de aves, que a exemplo das commodities agrícolas também sofreram nos últimos anos com a redução nos valores das cotações.
*Diariodigital
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