Em documento enviado ao Ministério Público, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informa que, a menos de um mês da Olimpíada, a crise financeira do Estado ameaça interromper investigações e perícias. Na tabela preparada em maio pela Subchefia Administrativa, a instituição aponta a falta de materiais básicos e equipamentos. Estoques de insumos estão zerados. Sem manutenção, aparelhos pararam. Conforme o MP, dois meses depois, a situação persiste. Oficialmente, a polícia fala em “carência” de materiais.
A penúria é consequência da crise nas finanças fluminenses. De acordo com cálculos da própria Polícia Civil, seriam necessários 14.517.512 reais para sanar as dívidas com os fornecedores de serviços e renovar contratos. A tabela enviada ao Ministério Público lista a ausência de 18 itens indispensáveis à realização de exames pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil. Análises de sangue e de esperma, por exemplo, não têm sido realizados. Para regularizar esses serviços, a instituição precisa de 49.265,34 reais.
O documento relata que o aparelho CGMS Shimadzu, usado para a detecção de drogas em amostras, está parado por falta de manutenção. Já o laboratório de toxicologia consta como paralisado, devido a ausência de baterias e equipamentos de informática. O aparelho CGMS Agilent, para exames de identificação de drogas sintéticas, também está fora de operação.
O Instituto de Pesquisas e Perícias em Genética Forense, da Polícia Civil, aponta que, por falta de manutenção da câmara fria, “já foram perdidas várias evidências e as novas também serão perdidas, pois não temos como mantê-las”. Mais itens aparecem com apenas 10% do estoque ideal, como pincéis e aplicadores para serviços papiloscópicos.
Faltam materiais básicos em falta, como seringas, luvas e máscaras. Por falta de luvas especiais de látex e malha, “em um futuro próximo” serão interrompidas “perícias de necropsia, local de crime, sangue e esperma em roupas, dentre outras que exijam proteção do perito e/ou tenham risco de contaminação cruzada, prejudicando a conclusão do laudo”, de acordo com o documento enviado ao MP.
O luminol, produto químico que revela traços de sangue invisíveis a olho nu, de grande valor na elucidação de crimes, está em falta na Delegacia de Homicídios. Para comprá-lo, a Polícia Civil precisa de 1,05 milhão de reais. “O impacto causado pela falta desse material no curso das atividades da perícia criminal está diretamente ligado a localizar vestígios de sangue lavado, oculto, escondido em locais de crime, carros, objetos e roupas”, informa o relatório.
Segundo a promotora Gláucia Santana, até hoje não foram feitos os pagamentos aos prestadores de serviço. “Todos devem saber que o quadro atual da polícia é muito delicado. E a expectativa depois da Olimpíada é piorar. Seria muito confortável para o Ministério Público entrar com uma ação civil pública para que o Estado cumpra seu papel. Mas sabemos que uma ‘canetada’ do juiz não significa que o dinheiro vai brotar.”
A presidente da Associação de Peritos Oficiais do Rio de Janeiro, Denise Rivera, disse que o Instituto Carlos Éboli, o Instituto Médico-Legal (IML), o Instituto de Pesquisa em Perícia em Genética Forense e o Instituto de Identificação Félix Pacheco (IFP), além dos 18 postos regionais do setor de polícia técnico-científica, não têm condições mínimas de funcionamento. “Muitos postos não têm câmaras frigoríficas para o armazenamento dos cadáveres, que ficam expostos às intempéries. Faltam reagentes e as condições são insalubres.”
A Polícia Civil informou, em nota oficial com base em consulta ao Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica (DGPTC), que o Instituto Médico-Legal e o Instituto de Criminalística “estão com carência de alguns materiais e de manutenção de equipamentos”. “A instituição tem enviado esforços com a Secretaria de Segurança e o governo do Estado para resolver a situação.”
*Com Estadão Conteúdo
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