Uma investigação realizada pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou que a Rússia fraudou exames antidopings de seus atletas com a colaboração do governo do país em eventos esportivos como os os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014. O relatório, divulgado nesta segunda-feira (clique para ler na íntegra, em inglês), confirma as declarações de Grigory Rodchenkov, ex-diretor do laboratório antidopagem russo, que em maio revelou ao jornal New York Times que testes positivos foram encobertos por ordem de oficiais enviados por ministros da Rússia.
A Rússia, que já está banida do atletismo da Olimpíada do Rio de Janeiro por causa de um escândalo de doping, agora pode ficar fora de todas as competições dos Jogos no Brasil. Desde o último fim de semana, quando o conteúdo da investigação da Wada foi vazado, federações internacionais, incentivadas pelos Estados Unidos e o Canadá, passaram a pressionar o Comitê Olímpico Internacional (COI) por punições mais severas ao país governado por Vladimir Putin.
O relatório foi produzido por Richard McLaren, um professor e advogado canadense comissionado pela Wada e pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). O documento estabelece que o ministro russo do esporte, Yuri Nagornykha, a agência antidopagem russa e o serviço federal de segurança estavam “envolvidos em um elaborado esquema de trapaça que se estendeu além dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi.”
“A surpresa no resultado da investigação de Sochi foi a revelação da extensão da supervisão e controle diretivo do laboratório de Moscou no processo e acobertamento das amostras de urina dos atletas russos de todos os esportes antes e depois dos Jogos de Sochi”, escreveu McLaren. O documento afirma ainda que exames de vários atletas do Mundial de Atletismo de Moscou-2013 foram substituídas antes do envio a outro laboratório da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).
O investigação da Wada confirmou as declarações do médico Rodchenkov, que, em maio, revelou que o serviço secreto russo “violou as garrafas” onde estavam armazenadas a urina de atletas dopados, incluindo 15 medalhistas olímpicos, e que o governo russo desejava “vencer a qualquer custo”. Exilado nos Estados Unidos, Rodchenkov alega ainda que dopou atletas para as Olimpíadas de Londres-2012, entre outros torneios de atletismo.
As denúncias causaram a demissão do então ministro do Esporte, Yuri Nagornykha, que seguiu negando a fraude em entrevista ao New York Times. Nagornykha disse ainda que caso as acusações ficassem comprovadas, a Wada também deveria ser responsabilizada por “erros regulatórios”, uma vez que a agência também trabalhava no monitoramento dos exames de Sochi-2014.
Vitaly Mutko, o atual ministro, declarou que, em caso de fraude, a Rússia irá punir as pessoas envolvidas e não toda a delegação de atletas. Mutko acredita que “mais nenhum atleta será desqualificado da Rio-2016”.
Putin – Em janeiro, uma comissão independente da Wada já havia apontado participação do presidente russo Vladimir Putin no escândalo de doping no atletismo do país. Escrito por Dick Pound, o chefe da comissão, o documento denunciou a “corrupção enraizada na IAAF” e destacou que os casos não foram apenas isolados e que Putin sabia de tudo. No informe, os investigadores revelam uma relação bem próxima entre o ex-presidente da entidade, o senegalês Lamine Diack, e Putin.
Putin sempre negou participação nos escândalos e pediu que as punições fossem individualizadas. “Se alguém está violando as regras em vigor, a responsabilidade tem que ser individual. Os atletas que nunca foram dopados não devem pagar o preço pelos outros”, disse. Historicamente, a Rússia é acusada de acobertar casos de doping desde os tempos da União Soviética
*Veja
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