Na votação concluída na madrugada de quarta-feira, que aprovou a continuidade do impeachment de Dilma Rousseff, o presidente em exercício Michel Temer ampliou a vantagem que obteve há quase três meses, quando a petista foi afastada do Planalto. Os votos a mais foram conquistados com a promessa de distribuição de cargos a apadrinhados de senadores, a garantia de retomada de obras de interesse dos parlamentares e a atuação da trinca de peemedebistas do Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), e o presidente em exercício da legenda, Romero Jucá (RR).
Em 12 de maio, o Senado aprovou o afastamento temporário de Dilma por 55 votos a favor e 22 contra. Na ocasião, Renan não votou – ele, como presidente da Casa, tem essa prerrogativa –, houve duas ausências – Eduardo Braga (PMDB-AM) e Jader Barbalho (PMDB-PA) – e o suplente do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS), Pedro Chaves (PSC-MS), ainda não tinha tomado posse.
Na quarta-feira, o placar foi de 59 votos favoráveis e 21 contrários. Desta vez, Jader, Braga e Chaves votaram contra Dilma. O quarto voto pró-impeachment veio do senador João Alberto Souza (PMDB-MA), que mudou sua posição – na primeira sessão foi a favor da presidente e, agora, votou para julgá-la.
Souza disse ontem que mudou seu voto por “questões políticas”. “A minha postura foi em função da conjuntura política. Não foi em função de haver cometido ou não o crime. É uma postura de achar que, no momento, fica muito difícil para a presidente governar”, disse. “Diga-se de passagem, Temer nunca pediu o meu voto. Mas, evidentemente, conversei com o meu partido.”
Temer acompanhou a sessão de pronúncia por telefone ou por informes de ministros e aliados, entre eles Renan, Eunício e Jucá. Os dois últimos se reuniram ao longo do dia com o presidente em exercício.
Jader e Braga se ausentaram da primeira votação alegando motivos de saúde e, ontem, apoiaram o andamento da ação contra Dilma. Jader conseguiu um “upgrade” para o filho entre os dois governos. Helder Barbalho, que foi ministro da Secretaria Especial de Portos de Dilma, se tornou ministro da Integração Nacional de Temer, pasta com forte influência nas regiões Norte e Nordeste.
Ex-líder do governo Dilma e ex-ministro de Minas e Energia da petista, Braga manteve, segundo interlocutores de Temer no Congresso, aliados em cargos estratégicos no setor elétrico. Chaves, o discreto suplente de Delcídio, conforme interlocutores do governo, não pediu cargos no Executivo.
Na conta do Planalto, o governo teria de 57 a 59 votos a favor. Acreditavam que teriam os votos de Elmano Férrer (PTB-PI) e Otto Alencar (PSD-BA) – reservadamente, Renan garantiu que conquistaria os dois. Otto e Elmano, contudo, votaram contra tornar Dilma ré.
A novidade ficou por conta dos votos de Cristovam Buarque (PPS-DF) e Romário (PSB-RJ). Os dois, mesmo tendo se posicionado em maio pelo afastamento de Dilma, não eram contabilizados como apoio a Temer. Romário emplacou a ex-deputada Rosinha da Adefal na Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Justiça. Ele ainda quer um indicado dele em Furnas. Romário nega barganhar cargos.
Ao se aproximar de Temer, Renan sugeriu ao presidente em exercício uma parceria para a conclusão de obras. Temer topou e conseguiu um pretexto para se reunir com senadores. Renan, o único a não votar nesta quarta-feira, tem se esforçado para acelerar o impeachment. Embora negue indicações, ele manteve Vinícius Lages na presidência do Sebrae e avalizou o ex-ministro de FHC Juarez Quadros para o comando da Anatel. Renan ainda deve garantir o deputado pelo PMDB alagoano Marx Beltrão ou outro nome no Turismo.
*Com Estadão Conteúdo
Mín. 23° Máx. 39°