O Corinthians começa o ano prometendo mudanças e melhorias nas categorias de base. Depois de enfrentar turbulências em 2021, com duas trocas na gerência do departamento, o diretor Osvaldo Neto fala em expandir a captação de jogadores, retomar as obras do CT e do alojamento dos jovens e garantir a permanência das principais promessas do clube.
A temporada passada terminou com festa na base alvinegra, graças ao título paulista conquistado de maneira heroica, de virada e nos pênaltis, contra o rival Palmeiras, fora de casa. A façanha rendeu até pagamento de promessa por parte de Osvaldo Neto, que doou 100 cestas básicas à instituições filantrópicas. Embora feliz pelo último ato de 2021, o diretor admite que o início da gestão não foi como gostaria.
– Foi um ano muito conturbado. Com saída do (gerente Fernando) Yamada, em maio, ficamos quase dois meses sem gestor. Depois chegou o Carlos Brazil, com aquela equipe toda, gerou um clima tenso com alguns funcionários que já estavam. Quando o projeto estava começando a ser desenvolvido, ele deixou o Corinthians para voltar ao Vasco, junto com diversos profissionais. Infelizmente, não consegui fazer o que, de fato, eu queria em 2021 – analisou Neto, em entrevista ao ge.
– Com a chegada do André Figueiredo (novo gerente, contratado do Ceará) tenho metas para 2022. Algumas delas são: fazer contratos profissionais de alguns garotos do sub-17, que ainda têm vínculo de formação; analisar com calma as renovações do sub-20; e reestruturar a captação de atletas – completou o diretor.
A nova forma de buscar jogadores já está definida. Além de cinco observadores fixos, o Corinthians quer contar com profissionais terceirizados. Seriam olheiros espalhados pelo Brasil que não teriam vínculo empregatício com o clube, mas que receberiam comissionamento por indicações que fossem aprovadas.
– Se o jovem passar pelo nosso crivo e ficar no clube, o captador vai receber uma bonificação. Por exemplo: se o atleta assina contrato de formação, quem o recomendou ganha R$ 5 mil. Se ele continua e assina um vínculo profissional, o captador ganha mais R$ 20 mil. Isso gera um estímulo, faz com que mais gente queira indicar jogador ao Corinthians. Mas tudo será feito com muito critério, só traremos jogadores que tenham nível para o clube – comenta Osvaldo Neto, que tentou emplacar essa ideia meses atrás, mas não teve o apoio de Carlos Brazil.
As mudanças na gerência não foram os únicos problemas do departamento em 2021. Houve seguidos episódios relatados nos bastidores de tentativa de ingerência do conselheiro Jacinto Antônio Ribeiro, conhecido como Jaça. Um deles veio a público após vazamento de um áudio do ex-jogador Alex Meschini, que na época era coordenador técnico da base. Na gravação, ele fazia críticas a Jaça. Dias depois, Alex deixou o cargo e foi realocado no departamento profissional, como auxiliar técnico de Sylvinho.
Jaça também esteve na viagem ao Oriente Médio junto de Osvaldo Neto e Fernando Yamada, entre o fim de março e o início de abril. Os cartolas tentaram estreitar laços com clubes de países árabes e fizeram reuniões em busca de investidores, mas o tour não rendeu muitos frutos até o momento.
Neto foi eleito conselheiro do Corinthians na chapa organizada por Jaça. Porém, o diretor nega que o aliado mande na base alvinegra:
– O diretor sou eu. O Jaça é um cara influente no clube, conselheiro vitalício, está lá há mais de 50 anos. Ele é respeitado, mas não poder de decisão algum.
Nas próximas semanas, Neto diz que irá se reunir com o gerente André Figueiredo para analisar os contratos que estão para vencer e precisam ser renovados.
No fim de 2021, o clube acertou as permanências do zagueiro Roberto Renan e do meia Matheus Araújo, que vai vestir a camisa 10 na Copa São Paulo, competição na qual o Timãozinho estreia nesta terça-feira, contra o Resende, às 21h45 (de Brasília).
Porém, o atacante Cauê, que chegou a ser titular da equipe profissional e a fazer dois gols em 2022, está prestes a deixar o clube. Ele está emprestado pelo Novorizontino até março, mas já tem acordo com o Grupo City para defender o Lommel SK, da segunda divisão da Bélgica.
– O Corinthians fez todo o esforço possível para segurá-lo, queríamos manter o Cauê. Chegamos a pagar R$ 500 mil pelo empréstimo e 5% dos direitos econômicos dele. Porém, houve um imbróglio entre o jogador e o Novorizontino, que tinha contrato com ele. Também houve uma troca de agentes, ele trabalhava com a Elenko e depois foi para o escritório do Giuliano Bertolucci – comenta Neto.
O diretor diz que tal renovação foi discutida pelo departamento profissional de futebol do Timão e não pelo de base, por isso não pôde dar tantos detalhes do caso.
Procurado, Alessandro Nunes, gerente de futebol do Corinthias, explicou:
– Nosso percentual dos direitos era baixíssimo, só 5%. Também havia uma questão contratual com o Novorizontino, que não nos envolvemos. Teríamos de pagar R$ 2 milhões por 40% dos direitos econômicos. Para um cenário em que o jogador não iria atuar no profissional de imediato, são números que não comportam fazer.
Cauê está inscrito na Copinha, mas não deve disputá-la. A competição é sempre tratada com muita importância pelo Corinthians, maior campeão do torneio, com dez títulos.
– A expectativa é sempre buscar o troféu, mas o objetivo da base é formar atletas para o profissional e fazer com que o clube não gaste para qualificar o elenco. Estamos com expectativa grande, é sempre um torneio tradicional – afirma Osvaldo Neto, que completa:
– A Copinha vai ser um divisor de águas para muitos. Quem for bem, deve subir.
Ao fazer um balanço sobre 2021, Neto destaca a contratação de uma nutricionista exclusivamente para os jogadores da base e também a saída de mais de 60 atletas de diferentes categorias. Segundo ele, tal medida gera redução de custos e também eleva o nível do trabalho de formação.
Já ao olhar para o futuro, a meta é deixar um legado para o clube, não só com bons jogadores, mas também com patrimônio. Nesse sentido, finalizar as obras do CT da base, em especial o alojamento, é prioridade. Os jovens do Timão já treinam no local, mas ainda se hospedam e se alimentam em outro espaço, com capacidade menor.
– O Duilio (Monteiro Alves, presidente do Corinthians) chegou a comentar comigo que está bem encaminhado para retomarmos as obras em 2022. Estimamos um custo de R$ 12 milhões. A princípio, seria com recursos próprios, mas seguimos buscando parceiros – declara Osvaldo Neto.
Assim como no time principal, a ordem na base é contratar menos e melhor. Além disso, o foco estará cada vez mais nos jovens jogadores, segundo o diretor:
– O melhor caminho para se reforçar na base é de baixo. Quanto mais novo, melhor. Tanto para economizar quanto para formar melhor o garoto desde jovem, e até para que o jogador tenha o DNA do clube.
Em orçamento, o Corinthians prevê gastar R$ 8,6 milhões com a base em 2022, a maior parte com salários e encargos. Tal valor representa cerca de 2% do total das despesas estimadas para o ano.
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