A mulher e o filho do jornalista paraguaio Santiago Leguizamón depõem sexta-feira (25) à Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre a execução, ocorrida em 26 de abril de 1991, em Pedro Juan Caballero, cidade vizinha de Ponta Porã (MS), a 313 km de Campo Grande.
A audiência, de forma remota, faz parte da ação aberta em 2016 pela Corte internacional contra o Estado paraguaio. No ano passado, o Paraguai foi responsabilizado pelo assassinato do jornalista e pela falta de esclarecimento do crime.
Depois dos depoimentos de Ana María Morra e Dante Leguizamón, a Comissão vai definir quais medidas o Paraguai terá de adotar para reparar os danos causados pelo caso. A Corte tem sede em San José, na Costa Rica, e faz parte OEA (Organização dos Estados Americanos).
Nascido em Villa Heyes em 26 de março de 1950, Santiago Leguizamón era correspondente do jornal ABC Color em Pedro Juan Caballero e repórter da Rádio Mburucuyá. Ficou conhecido por suas reportagens denunciando a ligação de poderosos da fronteira com contrabando, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
O empresário Fahd Jamil, o “Rei da Fronteira”, é apontado no Paraguai como mandante da execução, mas ele nunca foi oficialmente denunciado pelo crime.
A execução do jornalista teria sido determinada por causa de reportagens de Santiago ligando empresários famosos da fronteira com o contrabando e o tráfico de drogas. Fahd Jamil, compadre do então presidente do Paraguai Andrés Rodriguez (morto em 1997), era um dos alvos das matérias.
Em agosto de 2020, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos concluiu que o governo do Paraguai foi responsável pelo assassinato, ocorrido no cruzamento das ruas José Gaspar Rodríguez de Francia e José Desejús Martínez, onde existe atualmente um monumento pela morte de Santiago.
“Recordo que no dia da morte de Santiago, eu disse que não conseguiríamos nada [prisão dos autores] e o tempo me deu razão. Recebemos promessa do ministro do Interior daquela época que a justiça seria feita, mas se dedicaram mais a encobrir que descobrir”, afirmou Ana María, em abril do ano passado, no ato que lembrou três décadas da execução.
Segundo o ABC Color, 14 suspeitos foram vinculados ao crime, sendo três deles como autores materiais. Quase todos estão mortos, desaparecidos ou foragidos.
Entre os suspeitos, três foram citados como mandantes da execução: Luiz Henrique Rodrigues Georges, o “Tulu” (primo de Fahd, executado em 2011), Daniel Alvarez Georges, o “Danielito” (filho de Fahd Jamil, desaparecido em 2011 e dado como morto em janeiro do ano passado) e o próprio “Rei da Fronteira”. Entretanto, em 30 anos, Fahd Jamil nunca foi oficialmente responsabilizado pelo crime.
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