Myla Meneses (*) –
A representatividade do povo brasileiro na entrega da Faixa Presidencial trouxe um atleta negro de 10 anos, o paulistano Francisco, um líder indígena, o cacique Raoni Metuktire, nascido na aldeia amazônida Kraimopry-yaka, aos seus 90 anos de idade, e outros personagens fundamentais para formação da nossa sociedade. Foi um marco histórico. Ao chamar pessoas de diferentes raças e gêneros, tendo uma criança, uma mulher, um negro, um indígena, um metalúrgico e um deficiente, Lula acenou para um governo mais plural, pensando em todos.
Mas queremos destacar que, ao colocar uma Mulher Negra, a catadora Aline Sousa, que trabalha em uma cooperativa no DF, onde atua como representante da categoria. A equipe de transição, veio coroar as Mulheres Negras, já presentes em alguns ministérios importantes, como da Igualdade Racial, que irá discutir pautas que envolvem o racismo estrutural, identitarismo, sexismo, a LGBTQIA+fobia, grupos sociais, que sofrem historicamente uma resistência. Coloca muito além da diversidade, traz o peso carregado, nos últimos séculos, dos debates acerca do racismo e das desigualdades de gênero aponta a importância de alcançar cada vez mais espaço na agenda política brasileira. Não podemos negar que este avanço é reflexo de uma longa trajetória de lutas dos movimentos sociais brasileiros, notadamente, dos movimentos negros, feministas, especialmente, das mulheres negras.
É gritante, o processo de ruptura do movimento de mulheres negras (MMN), e fundamental que se compreenda urgência de se pensar a diferença nos discursos e práticas feministas brasileiras. Além disso, culmina no reconhecimento das múltiplas opressões sofridas pelas mulheres negras brasileiras, bem como, da importância de sua atuação política ao longo da história.
Diante deste contexto, durante tantos anos, a sororidade sofre inúmeras críticas no debate internacional, porque não era capaz de apreender as desigualdades de raça/etnia, classe, orientação sexual e geração existentes entre as mulheres. E contribuía para que mulheres negras permanecessem invisíveis. Sabemos que historicamente, sofreram outras opressões além do sexismo, tornaram-se mais subalternas do que outras. Neste sentido, o racismo é um componente importante para a manutenção das desigualdades entre as relações intragênero. Esta postura afasta muitas potenciais companheiras da luta pela emancipação e empoderamento das mulheres negras.
Portanto, tamanha simbologia do ato de ontem na posse, traz no mínimo uma reflexão sobre o contexto social de constituição e a necessidade urgente do desenvolvimento de uma agenda política que discuta questões relacionadas aos problemas gerados pelo racismo e pelas desigualdades de gênero no Brasil, deve ser realizada levando em consideração as questões suscitadas pelas mulheres negras. Sua luta para construção de identidades negras positivas evidencia a importância da vinculação entre raça, gênero e identidade como fenômenos ao longo de nossa história.
(*) Ativista do Movimento Negro- Membro da Diretoria do Grupo TEZ (Estudos Zumbi), Especialista em Educação à Distância pela UCDB- Campo Grande – MS, licenciatura em História pela UniFAA- Valença- RJ, Mestra em História do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), Linha de Pesquisa Fronteiras, identidades e representações pela UFGD. Contatos: Instagran: @profamylaartigotcc/ Email: assessoriaprof.myla@gmail.com
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