A queda de 1,5% no quarto trimestre apresentada pelo IBC-Br, índice de atividade econômica que funciona como um termômetro do PIB (Produto Interno Bruto), confirma a desaceleração em curso provocada, principalmente, pelo forte aumento dos juros no último ano.
O resultado também corrobora as expectativas de um crescimento bem mais fraco para o país em 2023, de acordo com economistas consultados pela CNN. O IBC-Br é calculado pelo Banco Central e foi divulgado nessa quinta-feira (16).
O PIB fechado de 2022 será divulgado em 2 de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Fatores que impulsionaram a nossa economia em 2022, como a reabertura da circulação, que impulsionou os serviços, e o aumento de preço das commodities, que aumentou nossos termos de troca, vão ter seus efeitos dissipados em 2023”, disse Rafael Bacciotti, analista do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal.
“Além disso, no âmbito interno, temos uma política monetária ainda muito apertada e as condições financeiras piorando, o que reforça a perspectiva de que o PIB diminua.”
O IBC-Br indicou um aumento de 2,9% da economia brasileira em 2022, garantido, essencialmente, pelo crescimento do primeiro semestre.
A projeção do IFI, em linha com as expectativas gerais do mercado, é que o PIB tenha crescido 3% em 2022 e desacelere para 0,9% em 2023.
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, destaca o fato de a desaceleração ter acontecido mesmo frente à forte expansão de gastos feita pelo governo Jair Bolsonaro às vésperas da eleição, no ano passado, com pacotes como a PEC dos Benefícios, que, aprovada em julho, aumentou o Auxílio Brasil, o vale gás e criou um benefício a motoristas autônomos.
“A desaceleração no segundo semestre mostra que o aumento de gastos promovido pelo governo a partir de julho não gerou impulso fiscal que resultasse em crescimento da atividade. O efeito da política monetária mais restritiva acaba anulando o impulso fiscal”, escreveu o Inter em relatório a clientes.
“Com juros em patamar restritivo e a economia com baixa capacidade ociosa, uma nova expansão fiscal pode acabar gerando mais inflação, e não o crescimento da atividade como desejado”, acrescenta a análise.
O Inter revisou para cima sua expectativa de inflação para 2023, de 5,4% para 5,5%, enquanto espera um PIB de 0,8% no ano.
Cálculos feitos pela XP apontam que, sem o aumento do Auxílio Brasil e de outros benefícios no ano passado e também em 2023 adentro, a desaceleração da economia poderia ser ainda maior: com a ajuda deles, a massa de rendimentos, que é a soma de tudo que todas as pessoas ganham, deve crescer 2,5% neste ano e, o consumo das famílias, um dos componentes PIB, 1,2%, nas contas da corretora.
“Não fosse por esses aumentos [dos benefícios], o impacto dos juros e do endividamento levaria o consumo para o terreno negativo”, diz o economista da XP Rodolfo Margato.
O problema, porém, é que um crescimento tão grande de gastos do governo sem contrapartidas de controle palpáveis piora as expectativas para a inflação futura, e pode criar problemas mais à frente, dificultando o caminho de redução dos juros.
“No curto prazo, essas medidas [de ampliação fiscal] tendem a surtir efeito, de dar sustentação ao consumo, mas há toda uma questão estrutural por trás dessa expansão significativa dos gastos”, diz Margato.
“A demanda é só uma parte da história. As expectativas da inflação também impactam a dinâmica da inflação hoje, e, pelos nossos modelos, são elas, e não a atividade econômica, o principal elemento dificultando o corte dos juros pelo Banco Central.”
É por essa razão, explica Margato, que o peso da política fiscal e sinais ainda aguardados do governo em relação, por exemplo, a qual será o novo arcabouço fiscal, ganharam peso especialmente maior em relação ao que se esperar de juros e, com ele, do desempenho da economia em 2023.
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