Os planos da CG Solurb para construir o novo aterro sanitário de Campo Grande na saída para Três Lagoas, próximo às áreas de proteção ambiental duas maiores captações de água da cidade, e na região de condomínios de luxo como Dhama, Shalom, Terras do Golfe e também de futuros empreendimentos de incorporadoras, gerou reação contrária dos prováveis vizinhos do aterro.
Neste fim de semana, foi criada uma associação, a Amigos das Águas do Rio Guariroba, que tem como principal objetivo questionar, ponto a ponto, o estudo e o relatório da impacto ambiental para implantação do aterro sanitário Ereguaçu, que substituirá o aterro Dom Antônio Barbosa II, localizado na saída para Sidrolândia. O novo empreendimento teria prazo de duração de 40 anos.
Estudo feito a pedido da Solurb pela empresa Flora Brasil, de Cuiabá (MT), analisou três possíveis áreas para a instalação do novo aterro sanitário (modalidade que substitui os antigos lixões), e optou pela Fazenda Santa Paz, distante 30 quilômetros do Centro da cidade, e localizada a 6,3 quilômetros do núcleo habitacional mais próximo, o condomínio Terras do Golfe. As outras opções, descartadas pela CG Solurb no estudo e relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) são uma fazenda às margens do Córrego Ceroula, na saída para Rochedo, e uma fazenda na Região das Três Barras, com acesso pela MS-040, 35 quilômetros a Sudoeste do Centro de Campo Grande.
A associação, que envolve produtores rurais da região, proprietários de empresas e empreendimentos, além de representantes de bairros, como o Maria Aparecida Pedrossian, e também os condomínios Terras do Golfe, Shalom e Dhama, alerta para o risco ambiental do empreendimento, e sugere à prefeitura de Campo Grande e à Solurb, que mantenham o aterro sanitário na região da saída para Sidrolândia, próximo ao atual.
O novo aterro sanitário vai receber o lixo não somente de Campo Grande, mas também de cidades da região como Bandeirantes, São Gabriel do Oeste, Jaraguari, Rio Negro, Corguinho, Dois Irmão do Buriti e Rochedo. A previsão é de que o volume chegue a pouco mais de 1 mil toneladas diárias.
Para a associação, além do risco ao meio ambiente, a construção do Erêguaçu na saída para Três Lagoas infringe a Lei Municipal de Zoneamento Econômico-Ambiental, justamente por estar localizada próxima aos mananciais da cidade.
ÁGUA POTÁVEL
No relatório de impacto ambiental protocolado na Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), argumenta que a drenagem mais próxima é no Córrego Gerivá, que “possui uma terra de drenagem” de 11,8 mil hectares, e informa que localiza-se fora das Áreas de Proteção Ambiental (Apa’s) dos córregos Lajeado e Guariroba, os dois maiores mananciais da rede de água encanada de Campo Grande.
“Seria ma contradição instalar essa atividade em um local dessa importância e somente estudos aprofundados podem revelar o potencial dano aos lençóis freáticos superficiais ou não. A APA está no raio de influência do projeto, e nesse local passa o Aquífero Guarani”, salienta a Associação criada para questionar a intenção da Solurb em construir o novo aterro sanitário perto das áreas de preservação.
VIAGEM DE 40 KM
A Flora Brasil, empresa que fez os estudo e relatórios de impacto ambientais para Solurb, revela o empreendimento não prevê o lançamento de efluentes líquidos em corpos d'água. “Os líquidos percolados, após serem captados no empreendimento, serão recirculados e se ocorrer excedentes, estes serão encaminhados para a Estação de Tratamento de Esgotos Sanitários do município de Campo Grande”, afirma o documento.
Ocorre que a estação de tratamento de esgoto de Campo Grande, está localizada a 40 quilômetros da fazenda aonde a Solurb pretende construir seu novo aterro sanitário. Os esgotos da instalação de apoio, seriam encaminhados para um sistema “fossa-filtro”.
A estação de tratamento de esgoto mencionada no estudo da Solurb, está localizada nas proximidades do Aterro Sanitário Dom Antônio Barbosa II, na região do antigo lixão da cidade.
Esta estação da Águas Guariroba, construída e paga por ela, serviu como argumentação para o desbloqueio de R$ 13 milhões que haviam sido indisponibilizados dos sócios da Solurb em 2019. O Ministério Público entendia que a concessionária deveria pagar a conta de R$ 1 milhão por mês à Águas Guariroba pelo tratamento do chorume, e não a prefeitura de Campo Grande.
VIDA ÚTIL
O aterro Dom Antônio Barbosa II, ativado em 2012, se aproxima do fim de sua vida útil. Conforme a Agência de Regulação de Serviços Públicos, ela terminaria em 2021.
O Ereguaçu, já previsto no contrato de parceria público-privada firmado entre a prefeitura de Campo Grande e a CG Solurb em 2012, teria de entrar em funcionamento em 2022. Inicialmente, a previsão era de que ele fosse instalado atrás do aterro Dom Antônio Barbosa, o que não se concretizou.
Procurada, a prefeitura de Campo Grande informou que “esclarece que inexiste qualquer autorização para instalação ou sequer houve aprovação do local proposto”.
“Os estudos estão em fase de análise pelo corpo técnico da Semadur, devendo passar por todas as etapas regulares do Licenciamento Ambiental, inclusive, por audiência pública, possibilitando assim as discussões e esclarecimentos a respeito do empreendimento, de forma participativa e democrática. Que ainda será realizada”, complementou o município.
*Correio do Estado
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