A participação de atletas transgênero em competições internacionais é alvo de polêmicas com frequência.
Em março deste ano, por exemplo, a Associação Mundial de Atletismo proibiu atletas trans de competir na categoria feminina dos eventos.
Ao mesmo tempo, porém, uma pesquisa do Centro Canadense de Ética no Esporte, divulgado em abril, apontou que não existem evidências científicas que provem que mulheres transgênero possuem vantagem na performance.
Em entrevista à CNN Rádio, no No Plural, a professora de endocrinologia e metabologia da USP Elaine Costa explicou o que diz a ciência sobre o tema.
Segundo ela, a publicação canadense está certa, em determinada medida: “Não acho certo ocorrer banimento, por outro lado, existem condições que precisam ser consideradas quando se vai escolher incluir um atleta trans num esporte de elite.”
Entre os fatores, estão os estudos que mostram diferenças como da massa muscular, óssea, capacidade cardíaca, capacidade respiratória, memória muscular, e idade do início e regularidade da hormonioterapia cruzada para pessoas trans.
“A gente sabe que, antes da puberdade, não existe diferença entre composição corporal de meninos e meninas. Depois disso, o organismo masculino produz 15 vezes mais testosterona do que o feminino”, completou.
Na avaliação da endocrinologista, a diferença existe, já que “a reposição com estrógeno em mulheres trans não reverte totalmente a composição corporal.”
Isso, então, interfere diretamente nos fatores elencados pela especialista.
No entanto, ela reforça que a diferença “pode ou não existir e em diferentes medidas”, a depender do caso.
Por esse motivo, Elaine defende que “deveriam existir avaliações específicas para cada esporte.”
Ela lembra que há modalidades, por exemplo, que “como esportes de longas distâncias, que mulheres teriam mais vantagens, dizer que não há diferença é temeroso. Por que então no esporte de elite são separadas as competições masculinas e femininas?”
O debate que se coloca, segundo ela, é que as organizações de esporte do mundo deveriam se reunir “para tentar se fazer um posicionamento que não tenha viés discriminatório” e que se alinhe com as políticas dos esportes.
“Uma das questões é a inclusão, até este momento, não temos como dizer definitivamente que mulheres trans têm vantagem ou não tem”, disse.
Isso acontece porque “a literatura sobre atletas trans ainda é muito pobre”: “Estudos não têm evidência suficiente para afirmar, são poucas pessoas trans no mundo como atletas de elite”.
*Com produção de Bruna Sales
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