Com cerca de US$ 20 bilhões investidos no Brasil, tendo como destaque ativos na área de infraestrutura e a compra de uma refinaria da Petrobras na Bahia, os Emirados Árabes Unidos (EAU) querem aumentar seus negócios com o país e estão interessados em um acordo de parceria econômica com o Mercosul.
A mensagem foi dada pela ministra de Cooperação Internacional dos Emirados Árabes, Reem Al Hashimy, em visita a Brasília na semana passada. Ela liderou uma comitiva com representantes de mais de dez grandes empresas e fundos do país.
Fizeram parte da delegação executivos do Mubadala, dona da refinaria Landulpho Alves (BA) e da concessionária de rodovias Rota das Bandeiras (SP), além de controladora do Metrô Rio e do Porto do Açu (RJ).
Também vieram representantes da DP World, uma das maiores empresas portuárias do mundo, que administra um terminal privado em Santos (SP), e companhias ou fundos com pouco ou ainda nenhum investimento relevante no Brasil.
É o caso do ADIA (fundo soberano de Abu Dhabi), que detém mais de US$ 700 milhões em ativos globais, e a petroleira Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) e do ADIA (fundo soberano de Abu Dhabi), além de companhias na área de defesa e de agricultura.
Em entrevista à CNN, a ministra Reem Al Hashimy destacou o início de “conversas exploratórias” com o Mercosul para uma parceria econômica à semelhança da celebrada pelos Emirados Árabes com a Índia, que entrou em vigência no ano passado. “Estamos decididos a negociar um acordo com o Mercosul”, afirmou.
O acordo Emirados Árabes-Índia reduz ou elimina mutuamente as tarifas de importação sobre 80% dos bens, facilita o acesso para 11 setores de serviços, remove barreiras técnicas “desnecessárias” ao comércio e amplia as possibilidades de participação das empresas dos dois lados em licitações públicas.
“Nós acreditamos que [um acordo com o Mercosul] vai beneficiar as duas regiões”, disse Reem, sem indicar um cronograma para a evolução das negociações. O comércio Brasil-Emirados Árabes atingiu US$ 5,7 bilhões no ano passado.
Na capital brasileira, ela reuniu-se com pelo menos quatro ministros: Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas).
Também esteve com o chefe da assessoria internacional da Presidência da República, Celso Amorim, e com a secretária-geral das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, entre outras autoridades.
Os Emirados Árabes entraram recentemente no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), mais conhecido como Banco dos Brics, e manifestou a intenção de aderir ao grupo — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
“O mecanismo para se juntar aos Brics não é muito claro e direto. No final do dia, dependerá dos membros dos Brics decidir”, comentou Reem.
A ministra falou ainda sobre iniciativas que, no passado recente, foram encarados como sinal de insegurança jurídica para os investimentos dos Emirados Árabes no Brasil, como a derrubada de pedágios na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, uma concessão viária controlada pelo Mubadala.
Reem minimizou esses movimentos e disse que o mais importante é ter canais abertos de diálogo. “Eu estou comprometida com um diálogo aberto. Quando se tem canais de comunicação, isso ajuda a reduzir qualquer tensão que possa existir”.
Os Emirados Árabes e o Brasil assinaram, recentemente, dois tratados importantes para melhorar o ambiente de negócios. Um deles é o acordo para evitar dupla tributação, que foi promulgado em 2021.
Já o acordo de cooperação e facilitação de investimentos (ACFI), que cria mecanismos permanentes de consulta bilateral e prevenção de conflitos, foi aprovado pelo Congresso Nacional em maio. Só falta a promulgação.
Em abril, ao voltar de viagem à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma escala em Abu Dhabi e encontrou-se com o xeique Mohammed bin Zayed Al-Nahyan.
Na ocasião, houve um compromisso de investimento de R$ 12 bilhões — ao longo de dez anos — na construção de uma fábrica de diesel verde e de querosene de aviação sustentável na Bahia.
Em sua passagem pelo Brasil, Reem visitou a Universidade de Brasília (UnB) e anunciou uma doação de US$ 2 milhões para restaurar a biblioteca central da universidade.
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