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Tráfico internacional de cocaína movimenta comércio ilegal de aeronaves na Bolívia

Modelos, que chegam a custar até R$ 300 mil, recebem adaptações no país vizinho para ter maior capacidade de voo

04/08/2023 às 10h14
Por: Tribuna Popular Fonte: Correio do Estado
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 - Avião encontrado abandonado no Pantanal da Nhecolândia e que, segundo perícia da Polícia Civil, pertencia a um laranja do tráfico - Reprodução
- Avião encontrado abandonado no Pantanal da Nhecolândia e que, segundo perícia da Polícia Civil, pertencia a um laranja do tráfico - Reprodução

O transporte de cocaína a partir da Bolívia, do Peru e da Colômbia para o Brasil, algumas vezes passando pelo Paraguai, acarreta em um comércio ilegal que representa no roubo e furto de aeronaves em território brasileiro e na venda desses equipamentos em áreas bolivianas.


Essas aeronaves roubadas e furtadas chegam a ser negociadas por R$ 300 mil, conforme apuração de autoridades brasileiras que atuam nesse tipo de investigação. Muitos modelos têm valor comercial de mais de R$ 1 milhão.


Geralmente, os traficantes conseguem usar em território boliviano alguns esquemas para maquiar a identificação e até a nacionalidade dessas aeronaves. Esses aviões passam a ter outra configuração e costumam voar em trajetos que chegam a 5 horas de viagem.


Nesses casos, esses modelos são usados para permitir que a cocaína saia da Bolívia e entre no Brasil, por exemplo. O território do Pantanal é uma das rotas frequentadas, por conta das variadas pistas clandestinas e, alguns locais, de difícil acesso.


Os criminosos ainda instalam sistemas que permitem aumentar a autonomia das aeronaves, caso haja uma emergência ou algum tipo de fiscalização que pode alterar a rota repentinamente. Para garantir essa condição, tanques suplementares costuma ser instalados nas asas, o que permite um aumento de até 2,5 horas de voo.


Conforme a reportagem apurou com policiais que investigam esses crimes envolvendo roubo e furto de aviões, esses tanques suplementares também são camuflados para não chamar atenção. Em geral, quando a aeronave tem esse equipamento em região de fronteira, levanta-se muita suspeita.


Além disso, a demanda por esse meio de transporte é intensa. Ainda, as manutenções nem sempre ocorrem regularmente. Por isso, é comum ocorrer acidentes ou até mesmo as aeronaves pousarem e não serem mais utilizadas em função de algum problema mecânico.


No Pantanal da Nhecolândia, recentemente, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul encontrou dois modelos que estavam abandonados. Um deles aparentemente bateu a hélice no pouso e acabou ficando abandonado.


Um outro ficou em área alagada, e os criminosos não conseguiram retirá-lo do local.


Com relação a uma dessas aeronaves abandonadas no Pantanal neste ano, a equipe do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) conseguiu identificar após perícia que se tratava de um avião que pertencia a um possível laranja e que estava registrado em Ponta Porã, porém, com caracterização de identificação boliviana.


Desde 2021, o Dracco tem feito um trabalho de monitoramento desses roubos e furtos de aeronaves não só em Mato Grosso do Sul, mas também em outras partes do Brasil. Cruzando informações e trabalhos de inteligência, as equipes vêm conseguindo rastrear parte das rotas que são feitas por esses criminosos.


O itinerário, em geral, é atravessar o Pantanal para chegar na Bolívia, a fim de ocorrer a maquiagem no equipamento, o qual, posteriormente, é entregue para os traficantes fazer o transporte da droga.


Nesse acompanhamento, por exemplo, está o caso de três aviões que foram roubados em Aquidauana, em 2021. Um deles pertencia ao cantor Almir Sater.


Um modelo Skylane, inclusive bem semelhante ao do músico e pecuarista, chegou a ser apreendido na Bolívia no ano passado, no aeroporto La Cruceña. Nessa mesma operação em território boliviano, cerca de 60 aviões foram encontrados pela FELCN, força especial que atua contra o narcotráfico no país vizinho.


Apesar das apreensões na Bolívia, ainda não existe uma relação com troca de informações contínuas entre as autoridades brasileiras e bolivianas para cruzar os dados e identificar se os aviões roubados e furtados no Brasil foram parar em território boliviano.


Não foi possível quantificar o número de aeronaves roubadas ou furtadas no Brasil. Entretanto, dados do Ministério de Governo da Bolívia apontam que, só nos primeiros quatro meses, foram apreendidas 18 aeronaves e ainda houve a identificação de 18 pistas clandestinas. Em julho, um centro de distribuição de cocaína usado por aviões foi descoberto a cerca de 200 km de Corumbá, na região de Roboré.


OPERAÇÃO


Nessa linha, a Polícia Federal (PF) tem feito ofensivas contra quadrilhas de tráfico de drogas que utilizam o espaço aéreo da fronteira como rota para o tráfico de drogas.


Na segunda operação da semana contra o narcotráfico em Ponta Porã, a PF cumpriu ontem 6 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão na região de fronteira com o Paraguai. Além disso, sequestrou um hangar usado para fazer a manutenção e o abastecimento de helicópteros usados para o transporte de cocaína.


Durante a Operação Angarius, quatro pessoas foram presas. Com eles, foram apreendidos um fuzil, três pistolas e mais um revólver.


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