O vírus que assusta o mundo e atravessou o oceano neste ano, a Covid-19, o novo coronavírus, chegou em Mato Grosso do Sul e quem tem sofrido com o surto da doença são as comunidades indígenas no estado. De acordo com o mais recente boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde de Aquidauana, os povos indígenas da cidade agora lideram o número de infectados.
De 684 casos confirmados de moradores infectados, 354 são das aldeias indígenas. Ou seja, 51% dos moradores contaminados vivem nas aldeias da cidade. A atualização dos casos acontece três dias após a visita do secretário nacional da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) que visitou em MS após a situação alarmante do vírus nas aldeias.
Conforme o boletim, foram registrados 68 casos positivos de coronavírus em 24h, sendo 67 pacientes e 1 óbito. Os 67 casos ativos estão divididos em: 6 pessoas na zona urbana e 61 indígenas nas aldeias. O Jornal Midiamax tem acompanhando diariamente as atualizações dos boletins e, com a nova situação, as aldeias somam 354 infectados pela doença.
O óbito registrado era uma, de 71 anos, moradora da zona urbana de Aquidauana, que já havia testado positivo há dias atrás. Ela estava internada em leito da Santa Casa de Campo Grande e não resistiu a doença, falecendo nesta sexta-feira (7).
A situação do coronavírus nas aldeias de Aquidauana preocupa autoridades de saúde do município. A doença tem se espalhado cada vez mais nas comunidades indígenas e casos começaram a surgir com após um evento realizado dentro de uma aldeia, que causou aglomeração. Vale lembrar que, com o aumento nos casos e mortes na cidade, um relatório recomendou um lockdown de mais sete dias na cidade.
Atualmente, são 330 moradores da zona urbana infectados e 354 moradores das aldeias indígenas contaminados pelo coronavírus. Ou seja, 51% dos casos confirmados são de indígenas. Quanto ao número de óbitos registrados na cidade, os indígenas também são os mais atingidos pois, das 20 mortes registradas em Aquidauana, 12 eram residentes das aldeias.
Na última quarta-feira (05), o STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu, com unanimidade, impor que o governo Jair Bolsonaro adote medidas de proteção aos povos indígenas durante a pandemia do coronavírus. A ação de jurisdição constitucional foi defendida pelo advogado Luiz Henrique Eloy Amado, indígena nascido em aldeia de Aquidauana. Esta foi a primeira vez, desde a criação do tribunal, que uma pessoa autodeclarada indígena venceu uma ação na Corte.
Eloy Terena, de 32 anos, foi responsável pela ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Constitucional) que garantiu a decisão favorável. Desde o começo da pandemia, as aldeias sofrem com a disseminação do coronavírus. Em Aquidauana, indígenas são mais de 45% dos infectados no município.
A audiência foi virtual, e Eloy representou a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). Com isso, o advogado fez a defesa oral direto de Paris, onde cursa pós-doutorado na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da França. “Esta ADPF é a voz dos povos indígenas nesta Corte. É o grito de socorro dos povos indígenas”, afirmou aos 11 ministros do Supremo.
Assim, para o representante da Apib, “esta iniciativa é uma ação histórica, pois, pela primeira vez no âmbito da discussão constitucional, os povos indígenas vêm ao Judiciário em nome próprio, por meio de advogado próprio, defender o direito próprio”.
Apesar da confirmação da SES de que o Ministério da Saúde encaminharia novos leitos de UTI para a Aquidauana para tratar os pacientes com coronavírus, os leitos em Campo Grande continuam lotando e, para o prefeito Marquinhos Trad (PSD), a lotação seria por conta dos encaminhamentos de Aquidauana para os hospitais de Campo Grande.
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