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Venezuelanos superam paraguaios e são a maioria entre os imigrantes em MS

Atualmente, MS abriga 10.827 venezuelanos e 9.789 paraguaios, aponta levantamento da Polícia Federal

24/03/2024 às 11h16
Por: Tribuna Popular Fonte: Campo Grande News
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 - Com cartazes, venezuelana pede apoio financeiro em avenida da Capital (Foto: Kisie Ainoã/Arquivo)
- Com cartazes, venezuelana pede apoio financeiro em avenida da Capital (Foto: Kisie Ainoã/Arquivo)

Atualmente, os imigrantes venezuelanos constituem a maior comunidade estrangeira em Mato Grosso do Sul. De acordo com informações da Polícia Federal, o Estado abriga 10.827 venezuelanos, ultrapassando os imigrantes paraguaios, que totalizam 9.789 residentes.


Historicamente, os paraguaios foram a maior comunidade estrangeira no Estado. No entanto, devido à crise migratória ocorrida desde 2017 na Venezuela, a comunidade venezuelana assumiu essa posição.


Em terceiro lugar, estão os bolivianos, com uma população total de 3.392 residentes ativos. No geral, conforme dados da Polícia Federal, há 31.916 imigrantes residentes ativos em Mato Grosso do Sul.


Essa dinâmica também se repete em nível nacional. Segundo o coordenador-geral de Imigração Laboral do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Jonatas Luis Pabis, estima-se que cerca de 500 mil venezuelanos vivam atualmente no Brasil.


"Em grande parte, eles [venezuelanos] vieram devido à crise econômica enfrentada por seu país de origem. A maioria entra pela fronteira norte com Roraima", explica Jonatas ao Campo Grande News, durante a primeira Cemigrar-MS (Conferência Estadual de Migrações, Refúgio e Apatridia).


Entretanto, por trás desses números há pessoas com nomes, sonhos e dramas particulares. Uma dessas famílias venezuelanas é a de Yesica Mileydis Colina Donaires, de 39 anos, e seu marido, José Daniel González, de 35 anos. O casal chegou a Campo Grande em outubro de 2021, acompanhados de seus três filhos: uma adolescente de 16 anos, outra de 15 anos e um menino de 9 anos.


A decisão de mudar veio devido às dificuldades econômicas no país de origem. “Nosso país estava passando por uma escassez de alimentos, gás e energia. Lá está difícil conseguir emprego e os alimentos estão caros. Apesar de não haver tanta escassez hoje, os alimentos ainda são vendidos em dólar”, relata Yesica.


Ela relata que inicialmente optaram pela Bolívia. Posteriormente, após enfrentarem dificuldades no país andino, a família decidiu migrar para o Brasil, atraída pelas facilidades de documentação e oportunidades de trabalho. "Nós estávamos morando na Bolívia antes de vir para o Brasil. Ouvimos dizer que aqui era bom e que éramos bem acolhidos. Também nos disseram que aqui havia facilidade para obter documentação, algo que não encontramos na Bolívia", conta Yesica.


Em conjunto com duas famílias, Yesica e José Daniel vieram para Campo Grande em busca de uma nova oportunidade. Em um país diferente, com idioma diferente, ela explica que a situação não foi fácil no início. "Ficamos sem falar com nossa família por cerca de sete dias no começo. Depois, ficamos sem dinheiro. Começamos a perguntar se havia alguma casa de refugiados, porque estávamos precisando muito".


Foi então que a família encontrou apoio no Cedami (Centro de Apoio aos Migrantes), onde conseguiram o suporte inicial para regularizar a documentação e receber orientação para ingressar no mercado de trabalho.


Fomos até lá e conversamos com eles, informando que éramos três famílias. Fomos bem recebidos, nos forneceram moradia e comida. Acabamos ficando por 21 dias, porque nos incentivaram a sair com documentação e emprego garantidos. Nesse período, vendíamos gominhas na rua para juntar dinheiro para o aluguel”, explica a venezuelana.


Com ajuda do Cedami, a família conseguiu tirar a documentação e encontrou emprego no restaurante Nativas Grill. "Começamos a trabalhar lá e fomos bem acolhidos. Só que nossa documentação estava em processo. Trabalhamos sem registro no início, mas depois conseguimos regularizar", relata.


Em agosto de 2022, eles conseguiram uma casa financiada por meio de um empréstimo com a Caixa. Agora, residem em uma casa própria no Conjunto Residencial Botafogo. “Nós achávamos que não conseguiríamos, por sermos de fora. Mas deu certo. E aos poucos, fomos aprendendo português e conseguindo empregos com carteira assinada. Hoje, meus três filhos estudam aqui”.


Apesar da saudade da parte da família que ainda está na Venezuela, Yesica e sua família encontraram em Campo Grande um lar acolhedor e oportunidades para construir um futuro melhor. "Gostamos muito daqui. Se formos voltar, será para visitar", afirma.


Políticas públicas - Assim como Yesica, diversas famílias venezuelanas têm buscado oportunidades em Mato Grosso do Sul. No entanto, a falta de documentação, moradia e emprego tem sido um dos maiores desafios para aqueles que procuram recomeçar a vida em outro país.


O coordenador-geral de Imigração Laboral do Ministério da Justiça destaca que a regularização documental é sempre o primeiro grande obstáculo enfrentado pelos migrantes. "Muitas pessoas, como aquelas vindas da Venezuela, por exemplo, chegam aqui com dificuldades documentais, incapazes de comprovar todos os seus documentos ou emitir novas vias no país. Portanto, a regularização migratória se torna sempre o primeiro passo crucial", explica Jonatas Pabis.


No ano passado, o CADH (Centro de Atendimento em Direitos Humanos - Migrantes, Idosos, Criança e Adolescente, Pessoa com Deficiência) realizou 1.575 atendimentos presenciais, no quais deram apoio aos imigrantes para a emissão de documentos.


Jonatas também aponta que a moradia é um dos maiores desafios para essa população. "O processo de abrigamento também apresenta muitas dificuldades, exigindo estrutura, organização e uma resposta efetiva do poder público. É por isso que destacamos a necessidade prática de emprego e inserção laboral, para que esses imigrantes tenham autonomia e possam se integrar de fato na sociedade brasileira".


Para ampliar a discussão sobre políticas públicas voltadas aos imigrantes, Campo Grande sediou a primeira Cemigrar-MS, que buscou aprofundar o debate sobre migrações, refúgio e apatridia, e recomendações para políticas públicas. O evento é uma prévia para a segunda conferência nacional, prevista para junho deste ano, em Foz do Iguaçu (PR).


O secretário-executivo de Direitos Humanos da Sead, Ben-Hur Ferreira, destaca a importância da realização da conferência neste momento oportuno e estratégico no debate das políticas públicas. "É um feito histórico reunir migrantes para discutirem seus direitos, sua mobilização e o aprimoramento das políticas públicas. O migrante precisa se sentir em casa. É uma garantia constitucional".


Ao final do evento, neste sábado (23), serão escolhidos oito delegados, por meio de votação, que irão representar Mato Grosso do Sul na 2ª Comigrar (Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia).

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