Encontrar animais mortos nas rodovias que passam por Mato Grosso do Sul já virou um problema crônico. Mas com a seca e o fogo a cena piora, eles se arriscam na busca por alimentos, água e na tentativa de escapar dos incêndios.
Durante trajeto na BR-262, que liga até Corumbá, município a 428 km de Campo Grande, a equipe de reportagem encontrou diversos mamíferos mortos. Na terça-feira (25), no km 430, próximo a região do Cachoeirão foi possível encontrar o primeiro animal silvestre morto: uma anta macho adulta.
Pouco a frente, no km 457, foi avistada uma fêmea adulta de tamanduá-bandeira, e na sequência carcaças de animais mortos. Restos que eram impossíveis de identificar o que aquilo era antes. Já no km 523, a equipe encontrou um tamanduá-mirim adulto.
Durante toda a rodovia havia muito lixo, como garrafas plásticas, embalagens, isopor nas margens. Alguns pontos eram possíveis ver ultrapassagens perigosas em locais proibidos, filas de carretas de bitrem transportando minério e vários automóveis em alta velocidade, aproveitando que a rodovia passou por manutenção.
O caminhoneiro Juliano Antônio do Couto, de 41 anos, que passa pela rodovia toda semana, diz que sempre encontra animais mortos. “Tem bastante, mas vejo que não há sinalização e nem fiscalização para coibir isso”, lamentou.
No km 602, a poucos metros de um posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal), uma anta destroçada era o café da manhã de dezenas de urubus que se arriscavam descendo no asfalto. A cena acontecia ao lado de uma placa pedindo a conservação da biodiversidade.
Também foi possível avistar uma cutia tentando atravessar a via e um bando de queixadas correndo de um lado para o outro.
Para mitigar as mortes no trânsito e a questão ambiental, a Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos de Mato Grosso do Sul) desenvolveu o programa “Estrada Viva – a fauna pede passagem”, um programa permanente de monitoramento e ações de redução de atropelamento de animais silvestres nas rodovias estaduais de MS.
Mais perto de Corumbá - Passando pela ponte do Bananal, onde há uma vazante, um dos irmãos Silva mora embaixo da ponte desde criança.
José Augusto da Silva, de 58 anos, contou que tem assistido o Pantanal secar nos últimos oito anos. “Isso é um crime, que acontece por conta do desmatamento. Estão acabando com tudo. Todo ano é a mesma coisa. Não muda nada”.
Ele está há 6 meses morando com os outros dois irmãos de forma improvisada em barracos, porque os incêndios de outubro do ano passado consumiram com a casa que tinham juntos. Estava muito desiludido.
“Está tendo uma destruição total. O pessoal sabe onde está o problema. Sabem de onde sai o fogo”, pontuou.
Por conta da seca ele tem mudado de ramo, deixando de produzir isca e investindo em apiário. “A isca está minguando, por isso estou investindo em abelhas. Mas, no ano passado, o fogo consumiu 22 caixas. Estou recomeçando. Ninguém me ajudou”, lamentou.
Foi possível identificar uma área de desmatamento na fazenda ao lado da ponte, com início de implantação de cercas, com troncos de aroeiras, o que é proibido.
O filho da dona Maria do Jacaré, Mauro Nei, mora um pouco à frente de José. Ele disse que há três anos a vazante não enche mais, mas continua no local alimentando os bichos. Também mantém uma vendinha onde cada peixe frito custa R$ 10.
“Todo ano isso acontece. É normal já. A situação é complicada. A gente tenta deixar limpo em volta para se proteger, mas a turma queima igual”.
Chegando mais perto de Corumbá foi possível ver o que sobrou do fogo que atingiu as margens da rodovia. Tudo virou cinza. Alguns poucos fazendeiros iniciaram o processo de aceiros para evitar a propagação dos focos. Também haviam equipes de telefonia fazendo manutenção na rede de transmissão, por onde o fogo passou.
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