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Turismo ameaçado: rios de Bonito perdem transparência com avanço do desmatamento e da soja

Expansão do agronegócio afeta ecossistemas, altera cursos d’água e ameaça o principal motor econômico do município sul-mato-grossense

31/05/2025 às 10h58
Por: Tribuna Popular Fonte: Da Redação
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Rio Bonito procurado por turistas pela água cristalina tem ficado turvo em épocas de chuvas — Foto: Divulgação/Fundação Neotrópica
Rio Bonito procurado por turistas pela água cristalina tem ficado turvo em épocas de chuvas — Foto: Divulgação/Fundação Neotrópica

Bonito, um dos destinos de ecoturismo mais emblemáticos do Brasil, está sofrendo uma transformação alarmante em seu ambiente natural. As águas cristalinas, famosas mundialmente, vêm apresentando sinais de degradação, especialmente durante o período das chuvas. A causa? Um processo acelerado de desmatamento impulsionado pela expansão da agropecuária, principalmente o cultivo de soja.

De acordo com levantamento de organizações ambientais como a SOS Pantanal, MapBiomas e Fundação Neotrópica do Brasil, o município já perdeu cerca de 90 mil hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2023. A destruição se intensificou nos últimos quatro anos, com uma média de 1.400 hectares desmatados anualmente. Áreas que antes abrigavam Mata Atlântica e Cerrado agora dão lugar a lavouras e pastagens.

O impacto desse avanço não se restringe à vegetação. Os rios da região têm apresentado alterações preocupantes. Antes transparentes, alguns trechos dos rios Mimoso e da Prata agora ficam turvos em épocas chuvosas. Há registros de assoreamento, diminuição do volume de água e até trechos completamente secos, resultado direto da remoção da cobertura vegetal e da abertura de drenos ilegais, que direcionam sedimentos e resíduos agrícolas para os cursos d’água.

As práticas agrícolas também contribuem para o acúmulo de substâncias químicas nos rios. Um estudo da Fundação Neotrópica identificou, pela primeira vez, vestígios de agrotóxicos em amostras coletadas em Bonito, além de elevadas concentrações de nitrogênio e fósforo, oriundas da adubação e do esgoto.

Enquanto a legislação ambiental exige rigor para proteger biomas como a Mata Atlântica, denúncias apontam que em Bonito o desmatamento ocorre com o simples preenchimento de licenças on-line, sem vistoria in loco por parte de órgãos ambientais. A ausência de fiscalização adequada e o arquivamento de ações judiciais reforçam o sentimento de impunidade. Em 2018, o Ministério Público aplicou multas que somavam R$ 16,8 milhões contra responsáveis pela abertura de 46 quilômetros de drenos, mas as penalidades foram suspensas por decisão judicial. O valor estipulado para a recuperação da área foi reduzido para pouco mais de R$ 3 milhões, com parte sendo custeada pelo poder público.

Além da questão ambiental, os impactos recaem diretamente sobre a economia local. O ecoturismo, responsável por cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do município, depende da conservação das belezas naturais. Rios transparentes, cachoeiras e trilhas ecológicas são a base da atividade turística. A degradação do meio ambiente ameaça, portanto, empregos, renda e o futuro da cidade.

Diante do cenário, entidades ambientais propõem a criação de um Zoneamento Ecológico-Econômico que delimite áreas prioritárias para conservação, com foco na proteção das nascentes e da biodiversidade. A medida, porém, enfrenta resistência de setores do agronegócio, que já conseguiram barrar, judicialmente, tentativas de criação de novas unidades de conservação.

Com a proximidade da COP-30, evento global sobre mudanças climáticas, a crise ambiental em Bonito levanta uma questão incômoda: como conciliar o desenvolvimento do agronegócio com a preservação de um dos patrimônios naturais mais preciosos do Brasil? A resposta, segundo ambientalistas, passa pela aplicação rigorosa da lei, fiscalização efetiva e vontade política de proteger o que ainda resta das paisagens que colocaram Bonito no mapa mundial do turismo sustentável.

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