A viagem de três servidores do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul a Israel — que ficaram retidos no país em meio ao acirramento do conflito com o Irã — gerou uma forte discussão na Assembleia Legislativa nesta terça-feira (25). O debate saiu do controle, descambando para ofensas pessoais, trocas de acusações e até um pedido para que o Partido dos Trabalhadores (PT) abandone cargos no Governo Eduardo Riedel (PSDB).
O estopim da confusão foi um requerimento apresentado pelo deputado estadual Pedro Kemp (PT), solicitando informações oficiais sobre a viagem. O parlamentar questiona o propósito da ida dos servidores à região em guerra, se estavam representando oficialmente o Governo do Estado e quem está arcando com os custos da viagem. Kemp também apontou que havia alertas internacionais desaconselhando deslocamentos para Israel, salvo em situações estritamente necessárias.
Em sua fala, o petista criticou duramente o governo israelense, a quem classificou como “fascista” e responsável pelo “maior genocídio do povo palestino”. Ele comparou os números de mortes de crianças no atual conflito com os da era nazista, afirmando que 9,9 mil crianças palestinas já teriam sido mortas. “Não vejo razão para servidores do Estado estarem em Israel em um momento tão trágico da história recente”, disse.
As declarações de Kemp provocaram uma resposta indignada do deputado Neno Razuk (PL), que defendeu o governo de Israel e acusou Kemp de não ter se manifestado contra o Hamas ou o Irã. “Se você tivesse um vizinho armado até os dentes, se preparando para te destruir, não ia reagir?”, questionou Neno. “O governo do Irã distribuiu armas para o Hamas atacar Israel. Israel tem que se defender sim.”
Neno foi além e sugeriu que o PT, que ocupa diversos cargos na estrutura estadual, deveria abandonar a base governista se está insatisfeito com o Governo Riedel. “Deixem os cargos que têm de monte. Se acham tudo errado, saiam do governo. Façam oposição de verdade”, disparou, visivelmente alterado.
Kemp pediu direito de resposta e negou que estivesse defendendo o Hamas ou o Irã. “Não se trata de apoiar grupo nenhum. Trata-se de repudiar o assassinato de milhares de mulheres e crianças. Isso não deveria dividir ninguém”, rebateu. O petista acusou Neno de distorcer sua fala e “fazer politicagem com um tema tão sério”.
O clima esquentou ainda mais quando Neno, aos gritos, interrompeu Kemp, dizendo que ele deveria se comover também com as mortes de israelenses. O bate-boca levou o presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), a intervir. Ele pediu calma aos parlamentares e destacou que o regimento interno não permite esse tipo de confronto sem respeito mútuo. “A divergência é parte da democracia, mas é preciso manter o equilíbrio e o respeito”, afirmou.
Após o episódio, o debate foi encerrado e a sessão voltou à pauta de votações. Nos bastidores, o episódio evidenciou não apenas o acirramento ideológico na Casa, mas também o desgaste da relação entre o PT e o governo estadual — relação essa que pode sofrer consequências diretas na composição política para 2026.
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