O dia 9 de julho de 2015 amanheceu frio e com céu nublado em Campo Grande, mas logo o noticiário iria esquentar e o tempo “fechar” para os lados do Parque dos Poderes, sede do Poder Executivo de Mato Grosso do Sul, e nas mansões de políticos e empresários.
Naquela data, a operação contou com 28 servidores da Receita Federal, 84 policiais federais e 13 funcionários da CGU (Controladoria-Geral da União). A investigação começou em 2013, com tentáculos que foram alcançar poderosos por suspeitas de fraude em licitações e desvio de recursos públicos. O prejuízo inicial aos cofres de MS era calculado em R$ 11 milhões.
Na avenida Ministro João Arinos, duas viaturas chamavam atenção na fachada da empresa Proteco, do empresário João Alberto Krampe Amorim dos Santos. Na casa dele, na Vila dos Vendas, foram cinco horas vasculhando o imóvel atrás de provas.
No Parque do Poderes, equipes da polícia “tomaram” a Seinfra (Secretaria Estadual de Infraestrutura), responsável pela execução de obras. No residencial de luxo Damha, inaugurando uma tradição de ser ponto tradicional de visitas da PF, a mansão de Edson Giroto foi cercada por agentes. Ele foi secretário de Obras no governo de André Puccinelli (MDB), deputado federal e o “02” no Ministério dos Transportes, onde era assessor especial, abaixo somente ao ministro, na hierarquia da pasta.
A operação também jogou luzes sobre outra figura emblemática: João Roberto Baird, o “Bill Gates pantaneiro”. O apelido era por conta dos contratos milionários com o poder público no setor de informática.
As investigações apontaram que a empresa de Baird venceu licitações milionárias tanto na Prefeitura da Capital como no Estado, sendo comum o aditamento dos contratos para prorrogação da vigência ou para reajustar os valores.
Menos de um ano depois, no chuvoso 10 de maio de 2016, a 2ª fase da Lama Asfáltica, a Fazendas de Lama, levou a PF ao apartamento de Puccinelli.
Horas depois, o ex-governador decidiu ir até à superintendência da Polícia Federal em Campo Grande. Na ida espontânea, disse aos jornalistas que foi surpreendido pela batida policial e, inclusive, estava em trajes íntimos naquela manhã.
A partir daí, o ex-governador se tornou principal alvo. Na quarta fase, em 11 de maio de 2017, chamada de Máquinas de Lama, a juíza substituta da 3ª Vara Federal de Campo Grande, Monique Marchioli Leite, negou prisão. Mas mandou o ex-governador usar tornozeleira eletrônica e pagar fiança de R$ 1 milhão.
Meses depois, em 14 de novembro de 2017, André Puccinelli e o filho André Puccinelli Júnior foram presos na Papiros de Lama, quinta fase da operação. Foram 40 horas atrás das grades, com liberdade concedida pelo desembargador federal Paulo Fontes, no plantão do TRF 3.
Mas, em julho de 2018, numa reviravolta, as prisões voltaram a ser decretadas. Desta vez, foi uma longa estadia no Centro de Triagem cinco meses de prisão. O habeas corpus só foi concedido em 18 de dezembro daquele ano. Enquanto estava preso, André desistiu de ser candidato ao governo.
Ele só voltou a se candidatar em 2022. Mas não teve êxito na busca pelo terceiro mandato de governador de Mato Grosso do Sul. Desde aquele 9 de julho de 2015, que raiou há uma década, poderosos já não dormem tão em paz. Porque agora, ali pelas 6h, a PF pode estar no portão.
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